grafite por mãos femininas
Talento
Criado em 19 de Outubro de 2015
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Fotos: Acervo Pessoal
As Minas de Minas, quarteto de mulheres que se uniram para colorir o mundo, estão fazendo sucesso grafitando espaços públicos de Belo Horizonte e de outras cidades mineiras
Luna Normand
MUROS GRAFITADOS COM CHARMOSOS desenhos chamam a atenção de quem transita, a pé ou de carro, pela capital mineira. O feito é de um quarteto, ou melhor, de um “crew de mulheres” (no inglês, "crew" quer dizer "tripulação") que, há três anos, espalha cores,
letras e personagens por onde passa. O nome? Minas de Minas, uma referência a Minas Gerais e ao sexo feminino, já que “mina”, na linguagem do hip hop, significa “mulher”. O grupo é formado pelas amigas Carolina Jaued (Krol), 26 anos, Louise Líbero (Musa), 28, Nayara Gessyca (Nica), 28, e Lídia Soares (Viber), 29, que se conheceram por meio da paixão em comum, o grafite. Todas já pintavam
individualmente e com outros grafiteiros de Belo Horizonte.
Com o Minas de Minas, elas não só transformam espaços públicos em obras de arte, como também buscam ser uma referência do hip hop no Brasil, contribuindo para o crescimento do estilo por aqui. Por enquanto, é o único “crew” só de grafite feminino em atuação no país. “Desejávamos expandir a ideia de que novas mulheres pudessem se juntar ao movimento. Por isso, criamos o Minas de Minas. É cada vez mais necessário o empoderamento do ser mulher, principalmente quando se está à frente de algum movimento. É com essa base que nós, grafiteiras, sentimos a necessidade de unir forças e ideias”, afirmam Krol e Viber.
Grafite, segundo o dicionário Aurélio, significa “desenho, inscrição, assinatura ou afim, feito com tinta, geralmente de spray, em muros, paredes e outras superfícies urbanas”. Muitas vezes, a arte é confundida com pichações. Todavia, as diferenças são grandes, de acordo com as minas. “As pichações são caligrafias mais simples; já o grafite tem se direcionado mais para a criação estética, com texturas, temáticas e cores. Pode-se dizer que o grafite é algo que se volta para o mundo artístico, e a pichação tem outros interesses”.
Os desenhos para a montagem dos muros, chamados de rascunhos, são feitos em casa. Depois, as quatro juntam as ideias para a criação final do layout nas ruas da capital e até em cidades do interior. Geralmente, em dois dias, no máximo, elas grafitam um muro completo, dependendo do tamanho. Mas, para executarem o trabalho, solicitam autorização do proprietário do imóvel ou do poder público.
A inspiração vem do cotidiano e da própria vida de cada uma delas, que, paralelamente, à atividade, tem uma profissão. Carolina é publicitária. Louise e Nayara são empresárias, e Lídia é artista. “Hoje, nosso crew tem uma diversidade de estilos. Duas integrantes grafitam personagens; outras duas, letras. Não levamos os desenhos para o lado feminino, apenas retratamos o trabalho de cada uma. Juntas, funcionamos bem”, dizem.
PRECONCEITO
Por ter surgido a partir da pichação, o grafite é um arte que ainda esbarra no preconceito. Segundo Krol e Viber, ainda existe discriminação, mas a aceitação vem crescendo pela postura que grafiteiros e artistas têm adotado para a conquista de espaço na
sociedade. “Não somos reconhecidos como artistas mais pelas autoridades do que pela própria população”, garantem.
Perguntadas sobre o número de mulheres que praticam o grafismo, elas respondem que, embora, na capital mineira, ele ainda seja pequeno, tem aumentado, nos últimos anos, de maneira geral. A principal barreira é o machismo, que resulta, muitas vezes, na violência verbal. “Sofremos isso por sermos mulheres ocupando o espaço público e estarmos ali fazendo arte, deixando de executar outras tarefas do dia a dia. E o preconceito não vem só dos homens; também está presente na figura feminina. Muitos se acham no direito de mexer em nossos materiais ou de fazer piadinhas simplesmente porque somos mulheres”, ressaltam.
Elas afirmam que a rua é sempre um desafio e, por isso mesmo, a cada pintura, as quatro integrantes do Minas de Minas estão mais experientes e preparadas para conviver com o cotidiano da cidade, onde tudo acontece. E, se, fora de casa, as meninas ainda têm que lidar com a discriminação, dentro dela, elas contam com o apoio da família. “Nossos familiares são o nosso maior apoio. Acompanham, em todos os momentos, tudo que fazemos”, revelam.
VAIDADE
E não é porque a atividade é trivialmente masculina que Krol, Musa, Nica e Viber descuidam da vaidade. Maquiagem e acessórios
fazem parte da rotina tanto quanto sprays e pincéis. “Não temos um estilo específico de vestuário por conta do grafite. Nós nos produzimos como qualquer mulher. Usamos short, vestido, calça legging, maquiagem, cabelo solto, brincos e unha pintada”, confessam.
Para o futuro do Minas de Minas, Krol, Musa, Nica e Viber preparam vídeos das produções, a divulgação do próprio documentário no programa “Triângulo das Geraes”, exibido no canal Cine Brasil TV, e a criação de um grande painel . “Também queremos viajar por todo o Estado e lançar a marca Minas de Minas”, antecipam. Por enquanto, o crew é fechado e, por isso, não há como fazer parte do grupo.
MAIS INFORMAÇÕES:
Facebook: minasdeminas
Instagram: @minasdeminascrew
Email: [email protected]
Telefone: (31) 9824-4062