Informação e tradição na praça

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Criado em 24 de Outubro de 2012 Conversa Refinada
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Se o apresentarmos como Benedito Bento de Oliveira, comerciante betinense de 59 anos, talvez apenas os mais chegados saibam de quem estamos falando. Entretanto, se falarmos que essa pessoa é o Bené da Banca, todos vão saber quem é o entrevistado do nosso Conversa Refinada desta edição. Morador do bairro Novo Guarujá, Bené conta aqui duas histórias que se entrelaçam: a sua e a de sua banca de jornais. Ambas se misturam também com o crescimento e o desenvolvimento de Betim, do que Bené sente muito orgulho, conforme vocês podem conferir nas linhas seguintes.

''Acredito que Betim é para Minas como Minas é para o Brasil''

REVISTA MAIS A banca que hoje é sua,  na verdade, surgiu com seu pai. Fale-me um pouco dele e de como ele deu início a um dos comércios mais tradicionais de Betim.

Bené da Banca - Meu pai, Joaquim Bento da Silva, era comerciante em frente à estação ferroviária, à praça Marechal Deodoro, onde se localizava o centro de Betim. Ali, ele possuía um comércio de varejo de alimentação, que atendia à população que chegava e saía da cidade de trem. Passado algum tempo, o pessoal do jornal ‘Estado de Minas’, vendo a localização do comércio, escolheu meu pai para ser representante dos Diários Associados em Betim. Isso foi no fim da década de 30. É o período em que a cidade começou a receber a notícia escrita, não só de jornal, mas também de revista. O jornal saía, então, de Belo Horizonte e chegava a Betim por volta das 8h. Enquanto eu não tinha idade para assumir a banca, entre os meus 11 e 15 anos, ajudava meu pai fazendo entrega de jornal nas casas. Somos 11 irmãos, seis homens e cinco mulheres.

Quando os filhos começaram a ajudar?

À medida que o tempo passou, o negócio foi crescendo, junto com a cidade e com outras atividades que meu pai tinha. Os filhos mais velhos começaram a dar suporte a ele, até que, infelizmente, no ano de 1963, ele faleceu. Teve algumas complicações já por conta da idade – ele tinha 73 anos – e não aguentou mais viver. Meu pai sempre foi um homem muito trabalhador, que não media esforços. Ele podia estar doente, mas estava preparado para qualquer situação. Nessa época, eu tinha 10 anos. Aí, meu irmão assumiu a banca, mas, cinco anos depois, em 1968, ele foi contratado pela Polícia Federal. Ele tinha um sócio, que assumiu até eu completar 18 anos, o que aconteceu em 1971. Nesse tempo, a cidade já tinha sofrido um impacto de crescimento com a chegada da Cerâmica Saffran. Também já havia se instalado aqui a Petrobras, em 1968. Só não havia a Fiat ainda.

Quando foi a mudança da banca para a praça Tiradentes?

Essa mudança ocorreu em 1965, quando a banca já estava mais completa, possuindo contato com todas as editoras e todos os fornecedores do Brasil. De lata, a banca passou a ser de alvenaria essa mudança aconteceu de 69 para 70 , o que foi uma novidade em Betim e em toda a  região - porque normalmente uma banca é de lata. Aí chamou muito a atenção das pessoas. A partir da década de 70, Betim passou a receber muitas pessoas por causa da Fiat. As características do município começaram a mudar. Eu acho que nós fomos muito felizes pelo fato de terem escolhido nossa cidade para receber uma empresa como a Fiat. Porque, a partir daí, Betim começou a ficar conhecida nacional e internacionalmente. E, hoje, eu analiso a coisa da seguinte maneira: Betim é para Minas como Minas é para o Brasil. Pensa bem: se você quer ir para o Sul de Minas, tem que passar por Betim; se você quer ir para o Nordeste, tem que passar por Betim. Nossa cidade tem uma localização estratégica. E eu, graças a Deus, fui privilegiado porque estava no lugar certo, nasci na cidade certa. Digo isso porque meu comércio explodiu  cresceu, e os outros que havia na época também cresceram, e todo mundo começou a ter uma ideia do que é o crescimento. Sobre a mudança para a praça Tiradentes, não foi uma escolha nossa. Na realidade, o centro de Betim é que mudou

Sua banca é referência na cidade. Pode-se dizer até que é um ponto turístico de Betim. Você concorda?

Bem, o atendimento, a gente procura fazer sempre com transparência, com imparcialidade. É preciso atender bem o cidadão para conquistar sua fidelidade. Eu tenho uma linha de trabalho que aprendi com minha família, que é contratar pessoas de  quem conhecemos a família, de gente trabalhadora e honesta. Em cidade pequena, temos a oportunidade de conhecer todo  mundo. É por isso que 98% dos funcionários que já trabalharam comigo hoje são pessoas que conquistaram determinadas  posições em grandes empresas. Eu dava a essas pessoas uma primeira oportunidade. E, hoje, eu vejo que elas estão bem e fico muito satisfeito. Cito aqui um exemplo de que alguém trabalhou comigo e que, depois, se destacou, que é o juiz Marco Túlio Isaac. Eu fui dono de comércio muito cedo, não sei se estava preparado para isso, mas, automaticamente, eu fui preparado, a vida me ensinou e as boas amizades também.

Uma vez que a cidade cresceu, os concorrentes apareceram. Como você lidou com isso?

Depois que a cidade chega a determinado ponto, começam a aparecer os concorrentes, que você tem que saber aceitar. Eu fui o primeiro fornecedor de todos os meus concorrentes que começaram em Betim, até eles conseguirem diretamente. O ser humano tem que aprender a dar espaço para o outro, e eu aprendi isso, tem espaço para todo mundo nesta vida. E, se a gente respeita o cliente, sabe tratá-lo, a gente conquista sua fidelidade. Por isso, eu não me preocupo com concorrência. Eu pergunto a você: se a pessoa tem uma banca próxima dela, de sua casa, por que ela prefere vir à minha? E eu te respondo: porque é  uma banca familiar, é a mesma coisa de a pessoa estar na casa dela. O atendimento é igual para todo mundo, e é um tratamento que não só eu dou, mas meus funcionários também. Então, o segredo está, em primeiro lugar, na educação, em tratar bem as pessoas. Minha banca virou um ponto de apoio, de informação sobre a cidade. É natural.

Você acreditava que Betim iria crescer dessa forma?

Eu não acreditava não. Imaginava que iria crescer, mas não nessa velocidade. A parte vertical do município está crescendo assustadoramente.

A banca já passou por reformas desde que se mudou para a praça Tiradentes? Quantas foram? Quando ocorreram?

Sim. A banca já passou por duas reformas. A primeira ocorreu no ano 2000. A cidade cresceu e percebi que a banca de alvenaria de 68 já não comportava mais a clientela e os produtos. Aí fizemos uma nova banca, maior, para atender melhor as pessoas. E, no ano passado, foi feita uma revitalização da praça, e aí aproveitamos para modernizar nossa banca. Um ano antes, havia feito uma viagem pela Europa e pude trazer alguns conceitos de lá. As bancas do exterior são totalmente diferentes  das do Brasil, porque, além de revistas e jornais, elas trabalham com outros segmentos de produtos: filmes, acessórios de celular. Vi que não seria difícil fazer isso em Betim. Então, trouxe essas ideias e as implantei aqui. Hoje, vendemos eletrônicos, água mineral, entre outros produtos.

Os clientes aprovaram?

Sim, gostaram da ideia. Hoje em dia, há muita concorrência. Então, temos que procurar aprimorar sempre. O mundo vai mudando. No meu comércio então, que vende informação escrita, sofremos uma concorrência muito grande, que é a internet. Um fato acontece lá no Japão, e, imediatamente, já sabemos daqui por causa da internet. Se a usamos para o bem, é uma maravilha, é um produto excelente. Mas, se a usamos para o mal, aí acaba com a gente. Nostradamus já havia dito que, no futuro, surgiria dentro da família um ponto iluminado que iria transformar a vida na Terra. E que ponto luminoso é esse? É a televisão, é a internet, que mudaram a direção das famílias.

Com o surgimento da internet, as pessoas passaram a comprar menos jornal?

Exatamente. Só aqueles fregueses tradicionais continuam lendo o jornal, a revista impressa. Os jovens de hoje não têm esse hábito. Eles gostam de ler pelo computador, acham mais fácil. No meu caso, não, eu sou da época que tinha que estudar escrevendo. Mas isso é a evolução do mundo, faz parte. O que temos que fazer é nos adaptar ao meio. Eu não imagino até onde vai esse crescimento, porque, a cada dia, surgem novos produtos e pessoas muito inteligentes. Com isso, o mundo não para.




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