Intolerância ao glúten e à lactose tem saída

Glúten e Lactose

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Criado em 12 de Novembro de 2013 Saúde e Vida

Fabiana Brasil, que tem intolerância à lactose, diz que a reeducação alimentar trouxe grandes melhorias na sua qualidade de vida

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Saborear um copo de leite ou comer um simples pãozinho pode ser um grande problema para muita gente, mas mudanças na dieta podem ajudar a driblar esse desconforto
 
Viviane Rocha
 
Alimentos comuns, saborosos e fáceis de encontrar no mercado e nas cozinhas brasileiras podem representar uma série de incômodos para a saúde de quem os consome. Para aqueles que são intolerantes à lactose, tomar um simples copo de leite ou degustar algum de seus derivados pode não ser uma boa escolha para o organismo. No caso dos portadores de doença celíaca, ou seja, indivíduos que não têm tolerância ao glúten, montar o prato nosso de cada dia se torna uma tarefa bastante árdua. Esse é o caso da profissional em estatística Nathália Lima, 25, da jornalista Wanessa Maciel Fernandes, 29, e da atriz Fabiana Brasil, 29 . Apesar de não se conhecerem, elas têm coisas em comum: ambas sofrem desses males.
 
Nathália teve o diagnóstico correto da intolerância ao leite há apenas três meses, mas, muito antes disso, já havia mudado sua alimentação por ser portadora da doença celíaca. Ela passou por vários consultórios médicos para tentar descobrir o que causava as palpitações, as crises de enxaqueca e os vômitos que tanto a incomodavam. “Cheguei a fazer todo tipo de exames, mas nenhum médico descobria o que eu tinha”, conta. Depois de várias tentativas frustradas, ela procurou uma endocrinologista, que acabou descobrindo também a intolerância à lactose.
 
Já Wanessa soube do problema com a lactose e com o glúten há três anos. “No caso do leite, sempre tive dificuldade para ingeri-lo, assim como os seus derivados. Minha mãe conta que parei de mamar com 1 mês de vida”, revela. A jornalista diz que o consumo desses alimentos lhe causava vômitos, inchaço abdominal e diarreia.
 
Fabiana descobriu a intolerância à lactose no ano passado, quando passou por um processo de reeducação alimentar. Segundo ela, os sintomas de rejeição à lactose eram sentidos imediatamente após o consumo da bebida e de alguns dos seus derivados. “Sentia muitas dores de cabeça e desconfortos abdominais como a diarreia e gases”, lembra.
 
De acordo com a presidente do Conselho Regional de Nutrição, Heloisa Magalhães, a intolerância à lactose acontece pela ausência ou pela redução gradual da lactase, uma enzima do trato digestivo que quebra a lactose, facilitando a digestão do leite. “À medida que a idade vai passando, a quantidade de lactase no organismo diminui. Com isso, fica cada vez mais difícil a digestão do leite e de seus derivados”, explica.
 
Diante disso, surgem sintomas como gases, distúrbios gástricos e diarreias. A especialista conta que, nos últimos anos, a ocorrência desse mal tem aumentado bastante na população mundial. No caso do Brasil, dados do governo federal dão conta de que 40% dos brasileiros sofrem de algum grau de intolerância à lactose.
 
Heloisa alerta que, por apresentar sintomas comuns a outras doenças, como alergias alimentares e síndrome do intestino irritável, é muito fácil confundir esses incômodos com os sinais de intolerância ao leite. “É sempre importante buscar o auxílio de um profissional
para que haja um diagnóstico correto e uma readequação alimentar”, reforça. A nutricionista demonstra preocupação com o que ela chama de “modismo”. “Dependendo do caso, não é necessário retirar o alimento totalmente da dieta, como muitas pessoas têm feito atualmente por conta própria”, afirma.
 
Para a nutricionista coordenadora do grupo da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Silvana Portugal, o consumo de leite e derivados não favorece a saúde. “Muitos pensam que esses alimentos são ricos em cálcio e que é necessário consumi-los para atingir o mínimo desse nutriente no organismo. Mas, de acordo com estudos, o cálcio melhor absorvido é o dos vegetais, que acompanha o magnésio, nutriente importante para absorção do cálcio. Um suco verde, por exemplo, quando utilizado com folhas de brócolis, couve ou rúcula, tem mais cálcio biodisponível que um copo de leite”, afirma.
 
Para os que precisam excluir o leite e os laticínios da dieta, Heloisa explica que as pessoas podem encontrar alternativas, como os leites especiais – extraídos do arroz, da soja e das castanhas – e o leite com baixa lactose. Além disso, elas podem buscar outras fontes de cálcio, como feijão, ovos, repolho, sardinha e laranja. “Em casos mais extremos, um profissional pode prescrever um suplemento vitamínico para que o organismo do paciente não sofra quedas de cálcio”, conta. Heloísa revela ainda que existem comprimidos de lactase, mas que a disponibilidade do medicamento é escassa no Brasil.
 
Antes de descobrir a intolerância à lactose e ao glúten, Nathália Lima sentia palpitações, enxaqueca e vômitos/ Fotos: Deivisson Fernandes
 
Intolerância ao glúten
De acordo com a vice-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ruth Clapauch, a intolerância ao glúten é uma doença que se manifesta em diferentes graus e é provocada pela dificuldade ou pela incapacidade de digestão do glúten – uma proteína presente em uma gama de alimentos que tem como ingredientes aveia, centeio, malte, cevada e trigo. Por conta disso, o indivíduo não pode consumir produtos como macarrão, empanados, salame, bolos, pães, biscoitos, massa, cerveja, uísque, vodca, pizza, chocolate, adoçantes e temperos como o caldo de galinha.
 
A doença tem origem genética e não tem cura. Suas primeiras manifestações ocorrem na infância, mas muitas pessoas a descobrem somente na vida adulta. O glúten danifica as vilosidades do intestino delgado e prejudica a absorção de nutrientes pelo organismo, o que pode gerar sérios problemas para a saúde. “Os sintomas são muito semelhantes aos da intolerância à lactose”, afirma a especialista.
 
Os sinais podem se manifestar através de uma diarreia e outros incômodos abdominais por conta da dificuldade de absorção de nutrientes, que podem ocasionar problemas como desnutrição e retardamento do crescimento na infância, problemas na puberdade e de fertilidade na vida adulta. “Por isso, hoje os fabricantes são obrigados a deixar claro nas embalagens que o alimento contém glúten”, afirma Ruth. Para substituí-lo, a especialista explica que existem vários outras substâncias na cadeia alimentar. É o caso, por exemplo, dos produtos feitos à base de milho, mandioca, batata e arroz.
 
Mudança radical
Outro grande problema para esses pacientes é que os alimentos para substituir a dieta são mais caros e pesam muito no orçamento. O preço de um litro de leite de arroz, por exemplo, pode variar entre R$ 15 e R$ 25 em lojas especializadas. Já o de amêndoas custa cerca de R$ 25 o litro. No caso dos produtos sem glúten, os gastos são ainda maiores. Uma cerveja sem a proteína custa, em média, R$ 15, e um pacote de macarrão pode chegar a R$ 20.
 
No caso de Nathalia, a restrição aos laticínios e ao glúten em sua dieta é total. “Tomo leite de soja ou leite sem lactose e consumo queijos e iogurtes sem lactose também”, conta. Para trabalhar, ela leva lanches de casa. “Como minha alimentação é restrita, comer na rua é muito difícil. Meu prato, geralmente, só tem carne e salada. Além disso, faço um acompanhamento mensal com uma nutricionista”, explica.
 
Wanessa também carrega seus próprios alimentos para o trabalho, mas admite que, de vez em quando, cai em tentação. “Gosto muito de iogurte e, de vez em quando, bebo um pouco, mesmo sabendo que depois não vou me sentir muito bem”, assume. A jornalista também consome o leite de amêndoas, que ela mesma faz em casa, no lugar do comum, e evita, ao máximo, fugir da dieta. “Carrego a minha própria comida e, antes de ir a festas ou a encontros, me alimento em casa para não acabar comendo o que me faz mal”, diz.
 
Apesar dos sacrifícios, elas comemoram a melhoria na qualidade de vida, na saúde e até no visual. Nathalia, por exemplo, perdeu cinco quilos nas primeiras semanas depois que parou de consumir lactose. Já Wanessa conta que, com o auxílio de um nutricionista funcional, reduziu o consumo de glúten na sua dieta e, com isso, também perdeu peso. “Diminuí cinco centímetros no meu abdômen e perdi dois quilos e meio. Estou muito feliz”, celebra.
 
Mas, nem sempre a mudança é tão brusca. No caso de Fabiana, as restrições alimentares não são grandes. “Evito consumir alguns produtos, mas, de vez em quando, como um pedaço de bolo ou tomo um capuccino”, conta. Contudo, a reeducação alimentar provocou grandes melhorias na sua qualidade de vida. “Me sinto mais saudável e até o sono melhorou”, afirma.

 




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