Jovens optam por deixar a pílula de lado

Ato de substituir medicamento por outros métodos contraceptivos se deve aos efeitos colaterais ocasionados pelos hormônios

Criado em 30 de Abril de 2019 Saúde e Vida
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Surgida na década de 1960, a pílula anticoncepcional foi vista como algo revolucionário para o controle da natalidade. Porém, o benefício não vem “de graça”: para muitas mulheres, os hormônios contidos nesses comprimidos causam efeitos colaterais que, muitas vezes, atrapalham inclusive o rendimento do dia a dia. Dor de cabeça, perda de libido, alterações no humor, inchaço são alguns dos problemas que elas sofrem.

Por esses e outros motivos, as mulheres da geração millennial, nascidas entre a década de 1980 e o início dos anos 2000, cada vez mais aderem ao não uso da pílula. Na Espanha, por exemplo, de acordo com pesquisa da Sociedade Espanhola de Contracepção, apenas 17% das mulheres continuam a tomar a pílula.

No Brasil, não há pesquisas do tipo, mas, conforme a professora Ana Luiza Lunardi Rocha Baroni, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há a tendência de interromper não somente o uso das pílulas, mas também o de outros métodos que incluem hormônios. “Cada vez mais, as mulheres têm acesso à informação, aos riscos dos hormônios e optam por algo mais natural”, diz.

A estudante de medicina veterinária Leidi Santos, de 28 anos, é uma dessas mulheres. Após testar o anticoncepcional hormonal injetável e em pílulas – e sofrer com os efeitos colaterais –, ela decidiu abandonar a medicação. “Sentia muito enjoo, indisposição, tontura. Os efeitos eram muito fortes no organismo”, recorda-se.

A medicação deu lugar ao preservativo. Mas, por ter se esquecido de adotar o método certa vez, ela ficou grávida do filho Lucas aos 23 anos. Mesmo após a gestação, a jovem optou por não retomar o uso de hormônios e redobrou o cuidado com a camisinha, além de acompanhar o ciclo menstrual por meio de um aplicativo no celular. “Sinto-me melhor, e, no meu ciclo de amizades, muitas mulheres também abandonaram o uso de pílulas, seja por conta dos efeitos, seja por acreditarem que esse comportamento respeita a fisiologia natural do corpo feminino”, conta.

A fotógrafa Débora Alves Moreira, de 26 anos, largou a pílula há 12 meses, depois de usá-la por nove anos seguidos. Ela relata que tomou a decisão após ler bastante sobre casos de mulheres que sofreram trombose por conta da pílula – e ela tem ocorrências da doença na família. A jovem diz que também sentiu melhoras no organismo sem ela. “Parei de ter uma dor de cabeça que era inexplicável. Além disso, na TPM eu ficava muito inchada e dolorida. Isso passou”, relata. Atualmente, Débora usa preservativo e acompanha o ciclo menstrual por meio de um app no telefone.

Necessidade

De acordo com a médica Ana Luiza, os efeitos das pílulas são realmente fortes em algumas mulheres. Ela destaca, porém, que os métodos hormonais não podem ser vistos como vilões. Há casos, por exemplo, em que eles são muito necessários por uma questão de saúde, como para mulheres que têm endometriose, que apresentam sangramento muito aumentado, entre outras alterações de saúde. “Há vários tipos de pílula. Não podemos demonizar todos os hormônios, porque algumas mulheres se beneficiam deles”, salienta. Ela reforça que, para pacientes que não apresentam problemas de saúde, têm ciclo menstrual regular e cólica dentro da normalidade, o não uso de métodos hormonais é positivo. “Quanto mais natural (o processo for) e menos intervenção houver, melhor”, diz.

Empoderamento feminino

Já para os homens, o único método contraceptivo existente é o preservativo. Segundo a ginecologista, o advento do movimento feminista e das discussões acerca de responsabilidades e direitos de homens e mulheres, além de debates sobre conhecer e empoderar o próprio corpo, têm gerado questionamentos com relação ao dever de prevenção da gravidez. “A gestação indesejada deveria ser uma preocupação do casal, não só da mulher. Porém, a responsabilidade acaba ficando só para a parcela feminina, e, com isso, elas é que sofrem os efeitos dos hormônios”, reflete a médica.

“Nós, mulheres, nos submetemos a fazer uso de algo que nos faz mal para evitar uma gestação. Respeitar meu organismo é entender que, no meu caso, não preciso passar por isso”, pontua a fotógrafa Débora Alves. “O anticoncepcional faz com que você não ovule e traz alterações. Acredito que é preciso seguir o curso natural do corpo. Nossa fisiologia é perfeita”, completa a estudante Leidi.


 




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