Mãos e olhos de um artista
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Criado em 24 de Julho de 2012
Talento
“As pessoas precisam da arte. Não é necessário ser artista, mas o contato com a cultura e com a arte abre a mente das pessoas. Infelizmente, muitas não percebem isso. A arte tem o poder de transformar as pessoas. Ela humaniza, sensibiliza.”
Ainda pequeno, o artesão Sérgio Miguel aprendeu tudo o que sabe com o pai; ele nunca precisou de curso para ter se destacar no mundo da arte Artesão desde os 8 anos, Sérgio Miguel Souza, 38, nunca precisou de um curso para aprender a fazer o que mais gosta: arte em cerâmica. Seu trabalho, exposto em diversas cidades, ganhou destaque nas páginas na quinta edição do Catálogo de Artistas de Minas Gerais, promovido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Além disso, algumas peças do artesão levam a arte brasileira “para outros países, como a Alemanha.
Para ele, o dom nasce com a pessoa. “Cada um nasce para uma coisa. Você pode fazer muitos cursos de artes plásticas para adquirir a técnica. Mas o olhar e a expressão que você deposita na obra vêm de dentro. Nenhum curso ensina isso”, salienta.
A influência é de família. A avó, em Pernambuco, ensinou a técnica ao pai de Sérgio, o senhor Manoel Miguel Souza, que, em 1974, veio para Minas Gerais com o objetivo de começar a desenvolver sua produção. “Meu pai se casou, teve três filhos e nos ensinou tudo. Quando eu era pequeno, ele expunha seu trabalho na Feira Hippie, em Belo Horizonte, e me levava junto. Nesse processo, eu tive muito contato com filmes, música e arte em geral. Minha primeira experiência com a cerâmica aconteceu aos 8 anos. Lembro-me de um episódio marcante. Eu tentava desenhar um rosto igual ao que meu pai estava fazendo, mas não conseguia. Então, certo de que não me faltava habilidade, pedi a ele que trocássemos as ferramentas por acreditar que a dele era mais eficiente que a minha. Não era”, conta.
Com 17 anos, Sérgio começou sua carreira profissional fazendo arte em cerâmica. Na época, ele foi trabalhar no Salão do Encontro, onde permaneceu durante dez anos e trocou experiências importantes. Com vontade de conhecer o mundo e fazer um voo mais alto, o artesão deixou o local para dar aulas. “Senti dificuldades em lecionar, principalmente para crianças. É muito diferente você fazer seu trabalho e você ensinar a fazer o seu trabalho . Daí, fiz um curso de modelagem do corpo, que me ajudou muito”, explica.
Hoje, além do ateliê que possui, Sérgio dá aulas de cerâmica para crianças de 9 a 16 anos na entidade Pró-Viver. “Não consigo mais me desvincular do trabalho social. Eu vim de uma família muito humilde e, através da cerâmica, descobri um mundo diferente. Tudo o que aprendi não foi na escola, foi com a arte. O que faço é dar oportunidade aos meus alunos, que se parecem comigo quando pequeno. E os alunos curtem o trabalho. Muitos têm o dom da arte”, orgulha-se.
Para Sérgio, não há uma peça predileta, pois ele se cansa de sua obra e logo quer produzir outras peças. “Eu produzo algo, gosto e guardo. Aos poucos, vou me cansando, quero vender e começar a produzir outras. É engraçado que, quando eu não gostava de uma peça, eu a quebrava. Um dia, sem querer, deixei uma de que não gostei encostada na prateleira. Aí, uma cliente chegou e amou! Desde então, não quebro mais as peças de que não gosto”, diz.
Sérgio acredita que, por não saber conviver com a sensibilidade aguçada que os artistas possuem, o pai morreu cedo, com pouco mais de 40 anos. “Esse talvez seja um dos nossos principais desafios: mantermo-nos equilibrados. Os olhos do artista são diferentes de quaisquer outros. Ele fazia peças belíssimas, mas, infelizmente, isolava-se e bebia muito. Eu tento canalizar essa sensibilidade para as coisas boas, como as crianças com as quais trabalho. Quando me sinto triste ou angustiado, começo a escrever. É rápido. As ideias não saem muito organizadas, mas dão um alívio danado”, conta.