Meninas de Asas

As mineiras Victoria Tamietti e Camila Fernanda, medalhistas em patinação artística no gelo, que treinam em Betim, brilham nas pistas do Brasil

Criado em 06 de Abril de 2016 Esportes

Victoria Tamiette, de 8 anos, treina em Betim e se destacou em competição realizada no Rio de Janeiro, no ano passado, trazendo para casa a medalha de bronze; a atleta ainda faz balé, atividade que auxilia na dinâmica da patinação

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Da Redação

ELAS COLOCAM OS PATINS e saem livres pela pista de gelo. Bailam, dão piruetas e saltos, encantam o público. Duas pequenas mineiras estão mostrando esse talento país afora e, em breve, viajarão pelo mundo. Camila Fernanda, de 7 anos, e Victoria Tamietti, de 8, garantiram, recentemente, as medalhas de prata e bronze, respectivamente, no Rio Open 2015, campeo­nato nacional de patinação artística no gelo, na categoria da faixa de idade delas. Havia 25 anos que uma atleta de Minas Gerais não pendurava uma medalha no peito como elas fizeram.
Tímidas, graciosas, crianças. A sensação é a de que, com os patins nos pés, elas crescem em tamanho, responsabilidade e dedicação. E, claro, nos sonhos também. O principal: serem reconhecidas no esporte que escolheram praticar ainda tão novas. “Sonho competir na Itália, país que gosto e onde tenho família”, diz Victoria.

As duas conheceram a patinação no gelo e se encantaram por ela quando calçaram os patins pela primeira vez em pistas de entretenimento de shoppings. Victoria tinha apenas 4 anos e já saiu do local querendo voltar. A mãe, Ludmila Rettore Tamietti, conta que foi uma brin­cadeira, mas a filha sentiu muita facilidade em patinar. Sempre que a família viajava, para qualquer lugar que fosse, a primeira missão era encontrar uma pista. Nas Olim­píadas de Inverno, em que a modalidade Patinação Artística no Gelo é oficial, a pe­quena não tirava os olhos da TV. Os pais, então, decidiram procurar alguém para treinar Victoria em Belo Horizonte, já que a família mora em Brumadinho, na região metropolitana de BH. “Ela ficava maravi­lhada, e sua empolgação nos motivou a levá-la às aulas”, relata a mãe.

Victoria também faz balé, modalidade importante para ajudar na dinâmica da pa­tinação. A medalha de bronze no Rio Open, segundo Ludmila, foi uma surpresa muito boa. “Fomos para ela participar, e a danadi­nha já voltou com uma medalha. Foi bas­tante gratificante. Trabalhamos muito com ela sobre o competir, essa consciência de que participar é o mais importante. Claro que sempre se quer vencer, mas a partici­pação, para ela, é o fundamental”, ressalta a mãe de Victoria, que, pelo fato de a filha ter se iniciado no esporte tão nova, con­sidera que ela tem grandes possibilidades de despontar. “Hoje, projetamos mais oito anos, vislumbrando as Olimpíadas”, afirma Ludmila Tamietti, que lamenta a es­cassez de patrocínios para a modalidade no Brasil. “As famílias se esforçam muito para manter os atletas, mas não é suficien­te. O esporte precisa de mais visibilidade e apoio”, pontua.

Camila Fernanda também foi uma re­velação desde o primeiro momento. A mãe, Sandra Rodrigues, conta que a tra­jetória da filha é parecida com a da amiga de equipe. Camila também foi se divertir numa pista de shopping e, rapidamente, adaptou-se aos patins. Um rapaz que tra­balhava no local sugeriu à mãe procurar um shopping de Betim onde havia uma pista com treinador. “Embarcamos nesse sonho junto com ela e, agora, estamos buscando patrocínio”. Os patins, segundo Sandra, são o principal investimento para quem quer começar a praticar o esporte. Os pais que querem investir em seus fi­lhos devem ficar atentos quando viajarem para fora ou quando algum conhecido estiver em viagem. Isso porque o equipa­mento não é vendido no Brasil. Sandra e o marido recorreram à internet e também a amigos para comprarem os patins de Ca­mila. Um investimento e tanto: cada par pode chegar a R$ 4.000, dependendo das especificações. A pequena Camila, que calça 28, já tem um substituto em casa.


Camila Fernanda, que também treina em Betim, é um talento que se revelou desde a primeira vez que ela pisou numa pista de patinação; a menina, de apenas 7 anos, já faturou nada menos do que a medalha de prata no Rio Open 2015

“A expectativa é que, daqui um ano, ela perca o que está usando hoje. Por isso, não quisemos arriscar de ela ficar sem patins e já adquirimos o próximo com um número maior”, conta Sandra. Para o Rio Open 2015, a equipe iria com uma terceira participante, mas os patins dela não chegaram a tempo, e a garota acabou perdendo a competição.
Assim como aconteceu com a família de Victoria, a da Camila, que mora em BH, ficou surpresa com a medalha que a meni­na ganhou no campeonato nacional. “Foi a primeira competição dela. Ficamos muito felizes e percebemos que ela realmente quer prosseguir”, diz a mãe. Para isso, Ca­mila manteve as aulas de ginástica rítmica, rotina pesada, já que ela ainda estuda, mas gratificante.

SUL-AMERICANO

Com as colocações em segundo e em terceiro lugares no torneio nacional, no Rio de Janeiro, o Rio Open 2015, as duas se classificaram para o Campeonato Sul­-americano. Agora, os treinos estão foca­dos em avanço das técnicas. O mês pré­-agendado é outubro, quando as famílias embarcam para a segunda competição das filhas, em Lima, no Peru.

Mães e pais se dedicam tanto quanto as filhas para atenderem a todas as exi­gências que o esporte tem. Hoje, a prin­cipal delas é garantir o deslocamento das garotas para os treinos. A pista disponível fica em Betim, no Shopping Partage. A treinadora Rosângela de Castro Patrício conseguiu uma parceria com a empresa que montou a pista no local para que elas treinem entre duas e três vezes por sema­na. Se a pista for desmontada, a luta para encontrar outro local irá recomeçar.

SHINHA

Rosângela, mais conhecida pelas meni­nas como Shinha, é quem treina e corre atrás para resolver todos os percalços que o esporte ainda enfrenta em Minas Gerais, sendo que o maior deles é a falta de uma pista fixa. No ano passado, segundo a trei­nadora, as meninas ficaram três meses sem poderem treinar por falta de local. Antes da chegada da pista a Betim, elas peregrinaram shoppings de Belo Horizonte, de Conta­gem e até de Divinópolis, na região Centro­-Oeste do Estado. “Felizmente, hoje temos mais empresas no Brasil colocando pistas em shoppings. Daí, o difícil passa a ser a ne­gociação. Eles exigem o uso de equipamen­tos que, nos treinamentos, atrapalham. Os horários também são complicados. E isso tudo atrasa muito os treinos. Em Betim, conseguimos uma boa parceria e estamos treinando desde o segundo semestre do ano passado”, informa Rosângela.

De acordo com ela, ter uma pista fixa em Belo Horizonte ou na região metropolitana é um projeto antigo pelo qual a treinadora vem batalhando insistentemente, mas para longo prazo. “A pista para formação de atle­tas tem que ter um tamanho certo, muito maior que a de shopping; o gelo tem um preparo diferente. Enfim, não seria um local aberto ao público no fim de semana”, expli­ca a patinadora profissional, que, para via­bilizar a prática do esporte, indica o uso de uma pista para patins e hóquei. Para o Cam­peonato Sul-americano, Rosângela planeja levar mais três atletas além de Camila e Vic­toria. Agora, ela busca recursos e conta com a ajuda das famílias, que, de acordo com ela, estão muito dispostas a vencer obstáculos.

A treinadora iniciou a carreira de forma bem parecida com a das duas medalhis­tas. Começou a patinar na mesma idade de Camila e Victoria, aos 7 anos, no antigo Barra Shopping, no Rio de Janeiro. Passa­va férias com o pai na capital fluminense e, como dançarina de balé, aproveitava os meses em que ficava na cidade para fazer aulas intensas numa academia. Um dia, num intervalo para o almoço com o pai, pediu para entrar numa pista de gelo no shopping. Foi tão segura que o instrutor sugeriu ao pai dela que investisse na car­reira da filha e que a deixasse fazer aulas no local no período da tarde. A família morava em Barbacena, e, durante três me­ses, ela ficou no Rio com o pai treinando patinação artística no gelo. Estudou fora do país e fez parte de companhias de es­petáculos no gelo. “Na minha época, não existiam internet, TV a cabo. Minha traje­tória foi um pouco mais difícil, e também enfrentei a falta de uma pista fixa”, relata.

DESTAQUE

A patinação artística é um dos mais po­pulares esportes de inverno no mundo e está em crescimento no Brasil, mas ainda não faz parte dos Jogos Olímpicos. Atual­mente, o grande nome brasileiro no es­porte é Isadora Williams, de 20 anos. Ape­sar de ter nascido nos Estados Unidos, ela compete representando o Brasil. Isadora tem conseguido grandes resultados em competições internacionais. Ela começou a carreira aos 5 anos e, em 2014, foi a pri­meira brasileira classificada para os Jogos Olímpicos, terminando em 30º lugar.

 

ALGUNS MOVIMENTOS DO ESPORTE

 

Pirueta: também chamada Spin, ocorre quando o atleta roda sobre si próprio, fazendo um indeterminado número de voltas. Pode ser com um ou com os dois pés.
Pirueta sentada: é realizada quando o corpo está próximo do gelo, estando o joelho da perna de apoio bem dobrado.
Pirueta de avião: para a frente, em posição de avião, faz-se um T paralelo à superfície do gelo com uma perna livre na horizontal.
Salto: ocorre quando a rotação é superior a uma meia volta e as entrada e saída são feitas apenas em um pé, podendo ser um pé de entrada e outro de saída, os quais vão variar conforme o salto.
Toe Loop: salto picado; sua entrada é feita com a ajuda da serrilha do pé esquerdo e de costas.




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