Nos bastidores da diversão
Promotor de grandes eventos realizados no Estado, como o Réveillon do Iate Tênis Clube e o Abaeté Folia, Cristiano Carneiro, que é proprietário da Nenety Eventos, não imaginava que os encontros que organizava em seu apartamento, durante a pré-adolescência
“A sensação de entrar num evento e ver a expectativa ser suprida, seja na atração em si, seja no atendimento do bar, é o mais gratificante”, diz Cristiano Nenety
Julia Ruiz
PRATICAMENTE TODO MUNDO que já passou pelo ensino fundamental se lembra das festinhas na casa de colegas de sala de aula. Muito comuns no período da pré-adolescência, os encontros, normalmente, tinham como intuito socializar, estreitar as amizades, curtir as paqueras... tudo fora do ambiente escolar, é claro. Mas, para o produtor de eventos Cristiano Carneiro, 36 anos, foi muito mais do que isso. Por meio dessas festas, ele acabou descobrindo uma paixão – e uma vocação. “Usava minha casa como salão para receber os amigos do colégio. As meninas levavam os salgados, e os meninos, o refrigerante”, recorda-se. Os encontros, que reuniam cerca de 30 colegas, passaram do apartamento para o salão de festas do prédio, no bairro Cidade Nova, em Belo Horizonte, onde ele cresceu. “De 30 passei a receber 200 pessoas e, para controlar a demanda e arcar com os gastos, comecei a cobrar entrada”. O hobby virou coisa séria, e, já na universidade, para custear os estudos, Carneiro se dividia entre a vida acadêmica e a atividade de promoter de boates. E foi aí que o apelido Nenety começou a ser bem conhecido na capital e na região metropolitana de BH – e é bem provável que você, leitor, já tenha participado de algum evento produzido por ele.
Do apelido, o produtor fez sua empresa, a Nenety Eventos, em 2001. “Adquiri uma experiência importante ao produzir festas escolares, com bandas locais, e universitárias, além de trabalhar como comissário de grandes empresas de eventos. Tudo isso me deu condições para que eu começasse a fazer eventos no momento certo. Afinal, produzir um show, por exemplo, requer um aporte financeiro alto, planejamento detalhado e fatores que vão da economia até a meteorologia”, explica ele, que possui duas graduações no currículo: uma em administração de empresas e outra em relações públicas.
CONSOLIDAÇÃO
Como quase todo empreendimento, a entrada no mercado foi desafiadora muito marcante. “Havia grandes empresas concorrendo. Na época, Belo Horizonte contava com dois grandes festivais, que eram o Pop Rock Brasil e o Axé Brasil, e minha empresa já iniciou os trabalhos coordenando os comissários desses festivais”, conta Nenety, destacando que “o mais importante na hora de produzir um evento são o estudo de artistas em ascensão, o cálculo detalhado e planejado de despesas, a definição da melhor data e a escolha do valor do ingresso. É bem trabalhoso e requer muita dedicação. Por isso, é necessário ter uma boa equipe”.
Para isso, a Nenety Eventos possui, atualmente, seis funcionários, que atuam diretamente no escritório, localizado na Savassi, região Centro-Sul de BH, além de duas empresas prestadoras de serviço nas áreas de marketing e assessoria de imprensa. E, dependendo da demanda de trabalho em grandes festas, a produtora recruta, em média, 300 profissionais freelancers, que incluem outros produtores, seguranças, técnicos de luz e de som, dentre vários contratados.
Os dois festivais belo-horizontinos são destaque no currículo do produtor, mas o evento considerado ponto de partida para uma história de sucesso é, segundo Nenety, o Réveillon do Iate Tênis Clube. “Mesmo eu tendo uma empresa ainda pequena, o clube me abriu as portas, e, com a ajuda de um cerimonial, comecei a organizar tudo. É um evento muito marcante que a Nenety Eventos produz até hoje”, ressalta o empresário. Junto com o réveillon, ele destaca o Carnaval de Abaeté (Abaeté Folia) e, mais recentemente, o Festival Brasil Sertanejo. “São projetos audaciosos, que demandam mais atenção, investimento e empenho. Por isso, representam também desafios”.
Vale ressaltar que as três festas são fixas na agenda de produções da Nenety. “Quando um evento é sucesso, em todos os aspectos e por vários anos, as pessoas passam a esperar por ele, que, assim, entra para o calendário da cidade. É dessa forma com essas três”, explica.
RECOMPENSA
A correria e o esforço para lidar com questões burocráticas de liberação de espaço e do próprio evento, atingir a meta de venda de ingressos ou garantir que o número disponibilizado atenda à demanda valem a pena quando o público realmente se diverte. “A sensação de entrar num evento e ver a expectativa ser suprida, seja na atração em si, seja no atendimento do bar, é o mais gratificante”, garante o produtor.
MUNDO ARTÍSTICO
Chamariz de atenção da mídia e de basicamente toda a população, o mundo artístico acaba se tornando algo trivial para produtores de grandes eventos. Do convívio com artistas e com seus empresários, muitas histórias surgem. Mas será que dá para fazer amizades? “O artista é mesmo um símbolo e atrai os olhares de todos, inclusive os nossos, de contratantes. Geralmente, são pessoas humildes e receptivas, mas nosso encontro com eles normalmente é no dia do show. Então, nem sempre dá para estabelecer uma relação próxima. Quem a gente realmente vê e com quem conversa muito é o empresário”, elucida Nenety.
Ele diz, no entanto, que há uma relação próxima sim com alguns artistas com quem trabalha desde o início da carreira musical, com alguns, por serem mineiros, e com outros, por afinidade mesmo. “É o caso do Gusttavo Lima, do Eduardo Costa, do Sorocaba e das duplas Henrique e Juliano, e César Menotti e Fabiano. Com os demais, o contato é feito mais por meio dos empresários”.
Perguntado sobre as curiosidades envolvendo as celebridades musicais, ele diz que o “campeão de casos cômicos” é Eduardo Costa, mas adianta, brincando, que as histórias são muito longas. Quanto às listas de exigências absurdas dos artistas – assunto que sempre pauta veículos de comunicação –, o produtor entrega que elas existem, mas que ele mesmo não se lembra de nada tão extravagante ou trabalhoso. “Meus amigos já passaram sufoco. Numa das vezes, foi por um pedido da Claudia Leitte, que solicitou leite em pó de uma marca específica, pois vinha com o filho então recém-nascido. Lembro que o produtor do show ficou louco, pois ninguém de sua equipe conseguia encontrar o tal leite em pó”, brinca.
COMO QUALQUER UM
É comum muita gente pensar que quem atua no segmento de produção de eventos acaba trocando o dia pela noite e o fim de semana pela semana. Não é assim. “Muita gente acha que, por exemplo, passo a noite em claro, o que não é verdade. Eu vou trabalhar todos os dias às 8h. Meu horário de expediente é como o de outro qualquer”, assegura o empresário.
E será que dá para curtir a festa que ele mesmo produz? Nenety alega que a ansiedade é grande demais para isso. “Eu não bebo nos eventos até certo horário. Só depois que vejo que está tudo em ordem e correndo bem é que consigo tomar uma cerveja, mas, normalmente, quando isso ocorre, já chegou o fim da festa”.
VIDA E PROJETOS
Fora do ambiente agitado das festas, o produtor diz que gosta muito de viajar e de pescar. “Ficar em casa com a namorada também é bom demais”, salienta ele, que cita o futebol como um de seus pontos fracos. “Gosto do Atlético, do América, do Cruzeiro, do Vila Nova... de todos os times de Minas Gerais”, responde sem se comprometer.
De acordo com Nenety, os planos para 2016 são muitos, mas a crise político-econômica do país acabou acertando em cheio o setor de entretenimento. Por isso, é preciso ter cautela. “Nosso segmento é o mais afetado, pois a primeira coisa que o cidadão corta, para dar conta de arcar com suas despesas, é o lazer. Para pagar as contas, ele deixa de ir a um restaurante, a um show, a uma festa, dentre outros divertimentos”.
Por outro lado, segundo o empresário, também está em seus planos superar essa crise fazendo eventos mais enxutos, a fim de proporcionar a todos um “2017 cheio de festas”. Para quem já iniciou a trajetória no mercado conquistando grandes empreitadas não será difícil ultrapassar as adversidades e elaborar grandes festividades para o deleite de quem não abre mão de diversão.