O circo é de todo mundo

Premiado em concurso nacional, OSC Circo de Todo Mundo, que resgata centenas de crianças e adolescentes ensinando atividades circenses, terá as histórias desses meninas e meninas contadas em minidocumentário

Criado em 23 de Dezembro de 2020 Cultura
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Sara Lira

Malabares, fitas e cores fazem parte do dia a dia de quase 500 crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, atendidos pela Organização da Sociedade Civil (OSC) Circo de Todo Mundo, em unidades situadas em Betim e Nova Lima, ambas as cidades na região metropolitana de Belo Horizonte. Agora, as atividades da instituição e as histórias existentes por trás delas vão ultrapassar esse público: serão contadas em um minidocumentário – a organização ganhou um concurso nacional da Social Docs, produtora que promove instituições de impacto social pelo país.

De acordo com a coordenadora de projetos da unidade de Betim, Val Alves, o Circo de Todo Mundo foi selecionado entre 165 inscritos. Desses, três foram escolhidos para a fase final e participaram de votação popular, que ocorreu em novembro. “Fizemos uma mobilização muito grande para as pessoas votarem no nosso projeto”, lembra. A vitória da organização social foi anunciada no dia 1º de dezembro. 

Segundo Val, a equipe busca participar de iniciativas que ajudem a dar visibilidade ao trabalho, até mesmo para se conseguirem outros recursos. “Quando recebemos a notícia de que havíamos vencido esse prêmio, foi uma alegria geral. É uma forma também de mostrar nossas atividades e como elas causam impacto nos atendidos e nas famílias deles”, salienta ela, que completa: “É muito bom termos esse reconhecimento, pois atesta ainda mais a credibilidade do nosso trabalho”. 

As reuniões com os responsáveis pelo minidocumentário já foram iniciadas. A previsão de início das gravações é 11 de janeiro de 2021. A entrega do produto final está prevista para março.

Projeto que transforma 

A OSC Circo de Todo Mundo foi registrada oficialmente há 27 anos, mas os trabalhos começaram anos antes, nas praças de Belo Horizonte, com o antigo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. A tônica sempre foi a mesma: levar cidadania e dignidade por meio da arte circense.

Em Betim, é executado o projeto Semeando uma Cultura de Direitos, que atende a 264 crianças e adolescentes. Eles fazem oficinas de acrobacias, malabares, palhaço, entre outras que permeiam a arte circense. As atividades são realizadas na lona estendida dentro do Parque Edmeia Braga, conhecido como Matinha do Ingá, no Conjunto Olímpia Bueno Franco. 

As ações também são desempenhadas na Escola Municipal Desembargador Souza Lima, no bairro Vianópolis. Em todas as unidades, os participantes ainda  recebem aulas de capoeira e dança.

Um deles é Davi Lucas, de 9 anos, que entrou para o projeto aos 5. Segundo a mãe dele, Viviane Lourenço da Silva, de 40 anos, o menino se desenvolveu. Ela conta que David tinha dificuldades na escrita e chegou a ser encaminhado para acompanhamento no Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva (Craei) Rafael Veneroso. “Mas, quando ele começou a participar das oficinas no Circo, a coordenação motora dele melhorou demais. Hoje escreve normalmente e ainda faz desenhos maravilhosos”, relata Viviane. 

Davi adora as atividades da instituição, principalmente por poder fazer várias oficinas diferentes. Ele gosta mais do chamado “rola-rola”, equipamento que estimula a concentração e o equilíbrio, além das acrobacias de solo. 

“O Circo é um lugar onde eu posso fazer um monte de coisas legais. Aprendo muito lá”, conta o pequeno. O irmão dele, João Emanuel, de 15 anos, também participa do projeto. 

Além das oficinas práticas, as crianças e adolescentes atuam no projeto Sala do Saber. Por meio de rodas de conversa, os educadores trabalham a formação humana com conversas sobre assuntos de interesse dos meninos e meninas. “Nesse trabalho de escuta, a gente faz com que eles tenham poder de voz”, explica Val.

Já em Nova Lima é executado o Tecendo uma Rede de Cidadania, atendendo a cerca de 200 crianças e adolescentes. Elas participam de rodas de conversa, nas quais são discutidos temas diversos, como erradicação do trabalho infantil e enfrentamento do abuso e da exploração sexual.

As oficinas de circo também são o carro-chefe, ofertadas ao lado das atividades de capoeira, teatro, arte-educação e recreação. Atualmente, está em execução o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos em parceria com a Prefeitura de Betim.

Covid-19

Com a pandemia, as atividades presenciais da organização foram suspensas, mas as ações continuam de forma remota. De março a agosto, as equipes fizeram o telemonitoramento familiar com as assistentes sociais e o repasse de doações às famílias mais vulneráveis.

De agosto em diante, o Circo de Todo Mundo obteve autorização para disponibilizar as atividades nas plataformas virtuais. Aulas e rodas de conversa têm sido realizadas pela internet. “Ainda estamos organizando um espetáculo online. O trabalho se intensificou, tem sido desafiador, mas é muito importante manter esse contato”, encerra Val.

 

 

 




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