O espetáculo da fé

Semana Santa

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Criado em 14 de Abril de 2014 Religião

Fotos: Creusa Reis/Divulgação

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Espetáculo “A Paixão de Cristo” promete emocionar milhares de fiéis no parque de exposições de Betim
 
Renata Nunes
São mais de 100 atores e 80 pessoas envolvidas na montagem e na desmontagem de palco, produção e organização de atores e figurinos, entre outras centenas de tarefas de bastidores. Todo esse empenho para retratar cenas épicas da história da crucificação e da ressurreição de Jesus Cristo. É assim “A Paixão de Cristo”, espetáculo que deve reunir, neste ano, cerca de 5 mil pessoas no Parque de Exposições David Gonçalves Lara. A encenação, realizada de uma forma especial, através do olhar sensível da atriz Ana Del Gaudio, 60, e do estudante de psicologia Jefferson Pinheiro, 31, acontecerá no dia 18 de abril.
 
Idealizador da peça, o ex-seminarista aplicou no enredo do espetáculo o profundo significado da Semana Santa, principalmente, no que se refere à Sexta-feira da Paixão. Para isso, reuniu voluntários com o mesmo desejo de retratar a fé por meio da arte. Tudo começou em 2011, quando Pinheiro decidiu mostrar o sofrimento de Jesus Cristo por meio de um espetáculo na paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Novo Horizonte, em Betim. A convite dele, Ana Del Gaudio, que, além de interpretar Maria, mãe de Jesus, na peça, é produtora e diretora de cinema, resolveu abraçar a causa, participando da produção, das cenas e da direção, junto com Pinheiro. Nos três primeiros anos, a encenação era apresentada em frente à paróquia, porém, a iniciativa deu tão certo que o espaço ficou pequeno para abrigar o público de mais de 2 mil pessoas que iam prestigiar o evento. Foi então que ele foi transferido para o parque de exposições.
 
Durante duas horas, a história contada na Bíblia é traduzida em cenas com música, cores e expressões, que fazem o público conhecer mais a vivência de Jesus, através do lúdico. Cenas como a multiplicação dos pães, a dança de Salomé para Herodes, as Bodas de Canaã, a ressurreição de Lázaro, Maria limpando o sangue de Jesus e a ressurreição têm um ritmo extraordinário e uma trilha sonora feita especialmente para a peça. “A Paixão de Cristo” mostra desde a anunciação do anjo à Maria, passando pela história de Jesus quando criança e adolescente até a crucificação e a ressurreição.
 
Segundo o padre Dinamar Gomes, administrador paroquial da Sagrado Coração de Jesus, a encenação da Paixão de Cristo tem vários significados e possibilita um momento de reflexão. “Além de valorizar a arte, o lazer e a cultura, o teatro envolve pessoas de diversas idades e crenças, aumentando os laços fraternos e de amizades. Possibilita ainda desenvolver relações humanas como a disciplina, o afeto, a alegria de conviver com o outro, e despertar a importância da fé na vida das pessoas. Para os cristãos, é uma possibilidade de contemplar os Mistérios da Encarnação, Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e, a partir daí, mergulhar no mais profundo de nossa existência humana e reconhecer as nossas limitações, angústias, tristezas, bem como conquistas e alegrias”, explica.
 
 
Comoção
Todos os voluntários ficam tocados pelo fato de poder reproduzir um fato milenar que mudou a história da humanidade. É o caso do ator profissional Wilson Lisboa, 37, que, pela terceira vez, participa da peça. Ele conta que a cada apresentação sente uma emoção diferente. Em 2012, interpretou Judas, e, no ano passado, foi o sacerdote Caifás, manipulador, astuto e provocador, que lutou para condenar Jesus no supremo tribunal dos judeus, após a sua prisão. “Todo ator tem vontade de participar de uma produção como essa, com a grandiosidade e a importância da Paixão de Cristo. Fazer essa peça é especial. Envolvi-me tanto que deixei a barba grande para
ficar mais perto da realidade”, conta Lisboa, que, neste ano, vai interpretar Caifás novamente.
 
E não são somente os atores que ficam comovidos. Segundo os diretores, muitos espectadores choram e não conseguem assistir ao espetáculo até o fim. A auxiliar administrativa, Cristiana da Silva, 36, além de prestigiar a peça, desde a primeira vez que ela entrou em cartaz, agora, participa também como coordenadora de equipes. “Fiquei emocionada quando vi o espetáculo pela primeira vez. É maravilhoso. Os atores realmente conseguem mostrar, com veracidade, o sofrimento de Jesus por nós. A maldade do Caifás e dos soldados é transmitida de uma forma muito real. Uma vez, vi uma criança chorando e pedindo para os guardas pararem de bater em Jesus”, recorda.
 
Outra espectadora que se encanta é a fotógrafa Creusa Reis, 40. “Emociono-me a cada momento. Ver a fé e o amor de Jesus retratados dessa forma é um momento de reflexão”, revela.
 
 
Dedicação
Esse sentimento do público se deve à seriedade dos atores, que, apesar de, em sua maioria, não serem profissionais, se dedicam com entusiasmo e afinco. São três meses de ensaios, com cerca de 12 horas por semana, que se intensificam em abril. “Mas vale a pena. Poder vivenciar a história do evangelho de Jesus é muito tocante. Os olhos ficam cheios de lágrimas e vemos o público se emocionar conosco”, afirma o comerciante Felipe Marrêta, 27, que interpretará um dos soldados, pela segunda vez.
 
Quem vai representar Jesus na peça é o operador industrial Diego Henrique, 22. Ele revela que nas cenas em que o personagem apanha teve de se encolher para não sentir as dores das chicotadas dadas pelos atores que interpretam os soldados. “Claro que eles não tiveram a intenção de me machucar, mas estavam entregues às cenas”, justifica. Ele ressalta que interpretar Jesus exige uma entrega maior. Para isso, mesmo com uma rotina diária puxada, ele se dedica ao máximo ao personagem: decora os textos com apoio de familiares, além de deixar os cabelos e a barba crescerem para transmitir a mensagem de Jesus com mais realidade. “Não faço o teatro por mim e, sim, pelas pessoas que o assistem. É uma forma de evangelizar, levar a mensagem de Cristo para as pessoas, independentemente de religião”, reforça.
 
Barreiras
E quem assiste ao espetáculo não imagina o quanto a peça é promovida com dificuldade. Segundo Ana e Pinheiro, faltam patrocinadores para ajudar com as despesas, que são muitas. Mesmo assim, eles nunca pensaram em desistir e ainda sobra criatividade para inovar. Neste ano, a peça vai contar com uma montagem maior. O palco do parque, com 23 metros de comprimento, ganhará uma estrutura de mais 20 metros. A entrada do governador romano, Pôncio Pilatos, será grandiosa e feita por uma carruagem puxada por seis cavalos. Já a cena da ressurreição de Cristo, que, nos anos anteriores, era apresentada no dia posterior, acontecerá logo após a encenação da crucificação.
 
“Graças à garra e dedicação dos envolvidos, o espetáculo está cada vez mais bonito e encantador. Porém, precisamos de recursos financeiros para realizar essa peça que, além de retratar um momento importante da história, é uma forma de entretenimento. Por isso, nossa meta é incluí-la no calendário de eventos do município”, ressalta Jefferson. Atualmente, existe um projeto de lei, de autoria do vereador Edson Leornardo Monteiro, o Léo Contador, tramitando na Câmara Municipal com esse objetivo.



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