POR Lucas Fortunato Carneiro*
O papel social da mulher hoje é fruto de uma longa e desgastante evolução frente a uma sociedade fundamentalmente machista e preconceituosa. Devem-se buscar as raízes do papel fundamental da mulher na sociedade, e o marco inicial para tal reflexão é a sociedade grega, modelo da ocidental.
A mulher, nas sociedades primitivas, era vista como simples meio de reprodução e também como mão de obra. Enquanto os homens caçavam e cuidavam da segurança do grupo e da relação com outros grupos, as mulheres se dedicavam às lavouras, coletavam alimentos na floresta, cuidavam dos filhos e da casa. Mas será que há modificação nesse modelo? Se observadas de forma histórica, décadas atrás essas tarefas eram inerentes ao sexo feminino, e, ainda hoje, em algumas culturas, é predominante essa visão sobre a mulher.
Não quero aqui acusar culturas ou agir de maneira colonialista, impondo uma visão ocidental sobre a mulher ou o seu papel social, mas pretendo buscar nesses fatos uma fonte de reflexão sobre a mulher e sua evolução social.
Na Grécia, a cidadania modificava-se, mesmo que sutilmente, dependendo da pólis em que é analisada. Em Atenas, utilizava-se um modelo; em Esparta, outro. De modo geral, a cidadania grega pertencia aos filhos de gregos nascidos na Grécia, homens maiores de idade, geralmente com 21 anos, livres e que não podiam depender de outras pessoas, inclusive de seus pais e parentes. Escapavam à cidadania as mulheres, os escravos, os estrangeiros, as crianças e os adultos que dependiam de outros.
Ao se visualizar esse modelo de cidadania grega, a mulher está totalmente descriminada, ou melhor, seu papel nessa sociedade é limitado e específico. A mulher grega vivia confinada em sua casa, organizando as funções domésticas, estando totalmente submissa ao marido. Não se vislumbrava mais nada em relação à mulher e à sua influência social.
Nos fins da antiguidade, algumas culturas reconheciam na figura feminina algumas qualidades bem específicas e até superiores às dos homens, como contato com os deuses e certos encantamentos, que influenciavam os mais variados setores sociais. Na Idade Média, esse papel começou a ser combatido, e se impôs um pensamento de rebaixamento do feminino em relação ao masculino.
A mulher se tornou causa ou caminho do pecado; até mesmo em textos bíblicos, há variadas citações de rebaixamento da mulher. Mas me questiono: por que não buscar as grandes personagens femininas que existem na Bíblia, como Ester, Rute, Maria Madalena e Maria, mãe de Jesus? Por que não valorizar o espírito aguerrido e a ousadia dessas mulheres e de tantas outras?
A mulher grega vivia confinada em sua casa, organizando as funções domésticas, estando totalmente submissa ao marido
A religião, em suas mais variadas expressões, seja no Ocidente ou no Oriente, coloca sobre a figura da mulher uma carga imensa, estiliza uma imagem demonizada e até mesmo discriminatória. Desvalorizar o feminino na Idade Média foi uma estratégia básica para manter os poderes eclesiástico e social, mas isso, é claro, não impedia que, naquela época, houvesse mulheres com senso aguçado de liderança e altamente intelectualizadas.
Surgiu, então, a sociedade moderna, em suas mais variadas revoluções, que apresenta a mulher com um novo perfil. A mulher buscava o seu espaço, e o primeiro e importantíssimo passo foi a conquista do direito ao voto. Mas não foi só isso, houve também a entrada no mercado de trabalho, o aumento do nível de competitividade e até mesmo da competência e da agilidade para executar tarefas. Fica evidente o quanto isso contribuiu para um novo posicionamento do feminino nas relações.
Será que hoje, mesmo tendo consciência de toda a evolução feminina, a mulher não cria o homem para ser dominante? A mulher que se predispõe à maternidade não cria seu filho para dominar? Não será essa criança o sintoma de submissão ainda hoje presente?
Essas questões somente as portadoras da essência feminina podem responder. Enfim, existe uma inversão de papéis: em alguns casos, a mulher é que se apresenta para o cotidiano pesado e muito atarefado, e o homem fica em casa para cuidar das crianças e dos afazeres domésticos, isso sem contar também a mudança de mentalidade de alguns homens, que se colocam prontos para ajudar a mulher nas mais variadas funções.
Portanto, a mulher hoje é sinônimo de radicalismo, de ousadia, de uma feminilidade mais sensual, de inteligência e trabalho minucioso, personagem fundamental nos meios sociais e também figura central de muitas revoluções comportamentais e de pensamento. A mulher, com o seu dom de gerar vida, faz transformar-se a sociedade e, a cada dia, mostra que o feminino faz evoluir a essência do masculino.
*Educador, graduado em filosofia pela PUC Minas e graduando em teologia - [email protected]