‘O serviço público precisa romper alguns paradigmas’

Papo sobre Política

Criado em 19 de Outubro de 2015 Papo sobre Política

Fotos: Augusto Martins

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Daniele Marzano e Julia Ruiz

ELE É FILHO E NETO de comerciantes e se considera um administrador nato. Seguiu a vocação, mas descobriu outro talento herdado da família. Servidor da Prefeitura de Betim, trocou a coordenação da Guarda Patrimonial pela Câmara Municipal. Faltando menos de um ano para as eleições, o vereador Klebinho Rezende (PTB) diz que ainda há muito a ser feito, mas comemora os importantes passos já dados. Com muitos projetos em mente, ele abriu as portas de seu gabinete para um bate-papo sobre vida, carreira e política.
 
Caçula da casa, Kleber Eduardo de Sousa Rezende, 35 anos, não recebeu nenhum mimo especial por ser o mais novo dos três filhos de Leda e Antônio Augusto de Rezende Filho. Nascido e criado em Betim, assim como o pai e o avô paterno, Klebinho Rezende – como é conhecido em toda a cidade – garante que o carinho e a atenção foram os mesmos dados aos dois irmãos. “Eu só ganhei o ‘não’ nas horas certas, pois meus pais já estavam mais maduros”. Moleza realmente não fez parte de sua criação. Desde criança, ajudava o pai no armazém da família. “Aprendi a pesar uma mercadoria, a dar o troco para os clientes, a conferir o estoque, a fechar o caixa e, principalmente, a lidar com o público”, conta.
 
Foi ali que ele começou a perceber o gosto e a vocação pela administração. Houve também um “empurrãozinho” do irmão mais velho, que já era administrador. Seguindo os passos do irmão, Klebinho iniciou sua jornada profissional, que incluiu a BR Distribuidora e a Prefeitura de Betim, onde prestou concurso e foi aprovado. Enquanto aguardava a convocação para assumir o cargo de oficial de administração, ele atuou no próprio governo municipal, durante o primeiro mandato do atual prefeito, Carlaile Pedrosa (PSDB). “Trabalhei como contratado e comissionado, em todos os níveis hierárquicos, de estagiário a coordenador de divisão.
 
Nesse meio-tempo, fui chamado a ocupar o cargo efetivo no Setor de Serviços Gerais, na Secretaria de Administração”, relata.
 
LAÇOS QUE MUDARAM O FUTURO
Nos Serviços Gerais da prefeitura, Klebinho iniciou uma conexão com os profissionais da Guarda Patrimonial, até então, era ligada a esse setor. Em 2007, o servidor foi convidado a assumir o cargo de chefia da Guarda Patrimonial. “Encontrei ali um desafio muito maior do que administrar. Deparei com servidores desmotivados e sem perspectiva de melhorias. Não fiz mágica, apenas o que meu coração mandou. Tratei todos com respeito e dignidade, enxergando, primeiramente, o ser humano e, depois, o profissional. Foram medidas simples, mas importantes no dia a dia. Com o tempo, fomos recuperando a autoestima da Guarda”.
 
As iniciativas motivaram esses profissionais a estimularem uma candidatura de Klebinho para vereador, o que o surpreendeu. “A política faz parte de minha história familiar. Meu avô paterno, Antônio Augusto de Rezende, foi vereador por três mandatos em Betim, entre as décadas de 1960 e 1970, chegando a ser presidente da Câmara. Nessa mesma época, meu avô materno, Francisco Avelino de Sousa, foi vereador, também por três mandatos, em Bonfim (63 km de Betim). Mas eu nunca havia pensado nisso. Gostava de meu trabalho na prefeitura, onde sempre me movimentei. Além disso, achava impossível ganhar”.
 
A ideia cresceu e tomou corpo, até que o então futuro vereador não parou mais de pensar na possibilidade de vencer. Depois de muita reflexão, resolveu apostar no projeto. Logo que tomou sua decisão, veio o primeiro desafio: convencer a família a apoiá-lo. “Havia um excesso de zelo porque eles acompanharam de perto a vereança de meus avôs e sabiam que a carreira política requer muitas abdicações na vida pessoal”, diz Klebinho. Apesar da resistência, da conversa com os pais resultou o suporte de que precisava para enfrentar as urnas. Depois disso, o administrador reuniu tios, primos e amigos para expor as ideias e os planos sobre o que gostaria de emplacar em um possível mandato. “Saí do encontro fortalecido e muito disposto a trabalhar para ganhar a eleição”.
 
Klebinho filiou-se ao Partido Trabalhista do Brasil (PTB), que apoiou a candidatura de Carlaile. Por conta disso, o então governo municipal, comandado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o cedeu para a Câmara Municipal, onde trabalhou até o início do período eleitoral. “Foi bom porque, de certa forma, já estava me ambientando e conhecendo melhor o funcionamento da Casa”.
 
CAMINHADA RUMO À VITÓRIA
Um intenso trabalho foi feito nos três meses de campanha, em todas as regiões da cidade, chegando-se a um percurso de mais de 2.100 km. A caminhada valeu a pena, pois Klebinho recebeu votos de todos os colégios eleitorais de Betim. Por isso mesmo, o parlamentar assegura não trabalhar para regiões específicas e, sim, para todo o município. “Tive votações mais expressivas em algumas regiões, como Norte, Centro e Citrolândia, mas meus esforços são direcionados a todos”. Ele destaca que o apoio dos guardas patrimoniais foi fundamental para a vitória. “São cerca de 500 profissionais, que, certamente, multiplicaram seus votos entre seus familiares e amigos. Sem eles, não teria conseguido”.
 
'VERDADE NUA E CRUA'
Assim que começou a atuar, o vereador sofreu um “choque de realidade”, segundo conta. “O serviço público precisa romper alguns paradigmas, tais como a burocracia, que não pode ser confundida (ou usada como desculpa) com inércia, pois a primeira é um mecanismo de regulação dos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) para garantir o cumprimento das leis. Ou seja, o serviço público tem de se adaptar à população e às exigências legais sem perder a eficácia e a eficiência do atendimento. Temos que estar atentos aos avanços tecnológicos como ferramentas de gestão”, salienta.
 
Ele exemplifica essa inércia com um diagnóstico feito por sua equipe sobre o sistema de saúde da cidade, retratando carências, mas que não teve o efeito desejado. “O objetivo era colaborar com o Executivo. Fizemos um enorme relatório referente aos anos de 2013 e 2014 e o entregamos à Secretaria Municipal de Saúde, que até hoje não nos deu retorno. Acredito que nem tenham usado o material, rico e completo em detalhes. Nunca usei isso como politicagem. Fiz meu papel de fiscalizar e cobrar, mas sem sucesso. Minha equipe continua percorrendo locais, não só da área da saúde, para apurar demandas, que são reportadas à prefeitura. Contudo, são poucas as respostas que obtemos”, afirma.
 
Klebinho cita outro exemplo da inércia do poder público, que ocorreu quando o município perdeu um convênio de R$ 6 milhões com o governo federal. “A verba viria por meio de uma emenda do deputado federal Jaiminho Martins (PSD), mas a assinatura do convênio, que ocorreria em Brasília, foi marcada para um dia de feriado municipal em Betim (16 de julho), e o secretário designado para a solenidade disse que estava com viagem agendada e não foi. Isso me indignou”.
 
LEGADO DE FAMÍLIA
Klebinho Rezende possui referências políticas no seio familiar. O amor pela cidade, garante o administrador, foi a engrenagem que conduziu todos eles às cadeiras no Legislativo. “Minha família está aqui desde a época em que Betim se chamava Capela Nova. Meus avôs tinham esse dom, e digo dom porque, no período em que foram vereadores, o cargo nem remunerado era, ou seja, as pessoas se candidatavam unicamente pela vontade de ajudar o município e o povo. Não acompanhei a atuação dos dois como políticos, mas eles me deixaram como legado seu caráter e sua dignidade”, diz.
 
Questionado sobre como avalia a crise política que o país enfrenta, com a credibilidade de seus agentes, em todas as esferas e poderes, abalada, ele responde que ouvir a população é o melhor caminho. “O cenário político atravessa turbulências, e a geração que está chegando agora precisa superar esses desgastes e também o pré-julgamento feito pela sociedade. Ouvir, efetivamente, a população e buscar o máximo possível de transparência é o que me parece mais sensato para evitar que cheguemos a um caminho sem volta”, destaca Klebinho, que enfatiza o papel fundamental do Poder Legislativo na contribuição com o avanço, sobretudo no âmbito municipal. “O princípio básico deste Poder é fiscalizar. O vereador é o agente político mais acessível de todo o cenário, pois convive de perto e diariamente com as necessidades mais básicas da população. Dessa forma, cabe ao parlamentar transformar essas necessidades em projetos bem-elaborados ou, não sendo sua competência, reportar as demandas ao Executivo, para erradicar esses problemas”.
 
IDEIAS E PROJETOS
Klebinho tem muitas ideias para diversas áreas. Uma delas, no segmento de mobilidade urbana, pretende dar fim ao travamento provocado na região central pela passagem do trem. “Sugeri que o motorista que estiver descendo a Valadares vire à esquerda e pegue a Pará de Minas para passar debaixo do pontilhão, lá na frente. Já o motorista que hoje vem pela Pará de Minas para pegar a Valadares deixaria de fazer essa conversão por ali e a faria logo após o Restaurante Popular, na Santa Cruz, virando à esquerda, na Mestre Pedro. Uma solução simples, que não geraria custos ou transtornos, mas que não foi sequer apreciada pela administração municipal”, conta.
 
Ainda nessa área, ele batalha para oferecer um espaço seguro aos ciclistas da cidade. “Betim tem um desenho bem interessante para a prática do ciclismo. Não é difícil implantar uma ciclovia, e o município carece disso”.
 
Por outro lado, o projeto de implantar uma unidade do Restaurante Popular no Centro Administrativo João Paulo II foi, de acordo com o vereador, elogiada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Fabrício Freire, que teria prometido ajudá-lo a colocar a ideia em prática no próximo ano.
 
Satisfeito com o trabalho desempenhado em seu primeiro mandato, Klebinho, que, em princípio, não pensava em reeleição, garante que vai tentar se manter no ofício para dar novos passos. “Considerando todas as dificuldades que temos, faço uma avaliação positiva deste mandato. Com muito esforço, conseguimos aprovar leis que, agora, são direitos dos betinenses. Não emplacamos tudo que desejamos. Por isso, não posso desistir de minha cidade. Quero continuar sendo um representante legítimo do povo betinense. Como servidor público, também vou seguir lutando por melhorias para o funcionalismo”, promete.

 




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