O verdadeiro espírito natalino

Solidariedade

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Criado em 18 de Dezembro de 2013 Capa

Rejane Durço (de vermelho) ajudou a formar uma verdadeira rede de solidariedade no município/ Foto: Rômulo Ozólio

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Motivados simplesmente pelo desejo de fazer o bem e de ajudar ao próximo, esses mineiros doam alimentos, brinquedos, roupas e, acima de tudo, seu tempo, para levar alegria e esperança a crianças e adultos carentes no Natal; conheça um pouco das ações realizadas por esses verdadeiros “Papais Noéis” que, com gestos simples e solidários, conseguem transformar para melhor a vida de muitas pessoas neste período do ano
 
Lisley Alvarenga
 
Antes de tomar a proporção gigantesca que tem hoje, o belíssimo projeto social idealizado pela professora Rejane Durço Vianna, 51, e pela aposentada Sandra da Rosa Pereira, 67, teve de passar por muitos desafios. “A ideia de realizar o trabalho social aconteceu durante o período em que fazíamos parte da coordenação de Forania da Renovação Carismática Católica. Vimos lá, a necessidade de desenvolver um trabalho social cristão junto às comunidades carentes da cidade. Foi aí que resolvemos fazer um sopão para as famílias do bairro Cruzeiro do Sul, na região do Citrolândia. Mas, apesar de todos os alimentos serem conseguidos por meio de doações, tivemos de parar com a iniciativa após dois anos de muita luta, já que não tínhamos mais pessoal para fazer o sopão”, conta Rejane.
 
Mesmo assim, elas não desistiram e batalharam para expandir o projeto Natal Solidário. As voluntárias passaram, então, a mobilizar, junto à Paróquia São Francisco de Assis e demais igrejas do município, pessoas que pudessem e quisessem ajudar o próximo, contribuindo com alimentos, brinquedos, roupas e calçados. Só no ano passado, foram mais de 270 cestas distribuídas. E o movimento cresceu tanto que, além de atender essas famílias carentes ao longo do ano, hoje, ele se tornou uma verdadeira rede de solidariedade que envolve toda a população do município. “No dia da entrega das doações às famílias, atualmente, feitas também no bairro Cruzeiro, na região do Marimbá, participam pessoas de todas as religiões. É um momento de união e em que buscamos, além de ajudar o próximo, disseminar o real significado do Natal, que é o nascimento de Jesus Cristo.
 
Há 10 anos, Ana Del Gaudio distribui presentes em creches de Betim/ Foto:Deivisson Fernandes
 
Uma senhora Mamãe Noel
Todos os anos, a atriz Ana Del Gaudio, 60, fica tão ansiosa quanto as crianças para a chegada do Natal. Com alguns meses de antecedência, ela começa a arrecadar brinquedos para distribuir, no fim do ano, em diversas creches e postos de saúde de Betim, sempre acompanhada de um amigo, vestido de bom velhinho. Para se ter uma ideia, em 2012, foram quase 2 mil surpresas entregues. “Ver a felicidade estampada no rostinho de cada uma dessas crianças é uma satisfação que não tem preço. Mas sempre digo que esse tipo de ação social não deve ocorrer apenas no período de Natal. Precisamos ajudar ao próximo durante todo o ano. Não é preciso ter muito. Às vezes, uma palavra de carinho e conforto já é muito importante para essas pessoas”, afirma.
 
Desde os 15 anos, Ana realiza voluntariamente trabalhos sociais. “Tento contribuir arrecadando e doando cadeiras de rodas às pessoas necessitadas e ajudando idosos no processo de encaminhamento ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Já cheguei a construir, com a ajuda de doadores, uma casa de três cômodos para uma família carente”, revela. A ideia de distribuir brinquedos a meninos e meninas surgiu há 10 anos. “Na época, fui convidada para fazer esse trabalho social em uma TV local da cidade. Depois que saí de lá, resolvi continuar a distribuir os presentes”, explica. E de todos esses anos de solidariedade, essa verdadeira “Mamãe Noel” recorda-se de uma situação que a emocionou muito. “Fui entregar brinquedos em uma creche, um menino chegou perto de mim e me pediu uma cesta de Natal para a casa dele. Até hoje me arrepio ao lembrar as palavras daquele garotinho, que só queria ganhar alimentos para a sobrevivência de sua família. No mesmo dia, consegui a cesta e levei à casa dele”, conta.
 
O casal Jorge Joaquim (de vermelho) e a esposa mobilizam pessoas para apadrinhar crianças carentes no Natal/ Foto: Rômulo Ozólio
 
Anjos do bem
O dia a dia da técnica em enfermagem Janaína Rufo, 29, é bastante corrido. Além de cuidar da casa, do marido, de fazer faculdade e um estágio na área de enfermagem, ela ainda consegue reservar muito do seu tempo para se dedicar à ONG Anjos do Asfalto, formada por um grupo de socorristas que presta o primeiro atendimento às vítimas de acidentes de trânsito nas rodovias de Minas Gerais. Mesmo com tantos afazeres, essa betinense de coração enorme conseguiu descobrir, com o trabalho voluntário que realiza há cerca de sete anos, mais uma forma de poder ajudar ao próximo. “Quando entrei para a ONG, sempre nos finais de ano, nós fazíamos uma grande festa de confraternização com os integrantes. Porém, era um evento que, apesar de custeado por nós, tinha um gasto muito alto. Pensei, um dia, que poderíamos utilizar aquele dinheiro para fazer o bem a outras pessoas”, conta.
 
Foi então que, em 2010, Janaína teve a ideia de criar o Natal Solidário, um projeto para arrecadar brinquedos e distribuir às crianças carentes. “Conversei com meu marido, Saulo Monteiro, que é vice-presidente da Anjos do Asfalto, e ele adorou a ideia. O problema é que, para colocá-la em prática, precisaríamos do apoio dos demais integrantes do grupo. Felizmente, quando apresentei o projeto ao nosso presidente, Marcus Campolina, ele amou, assim como toda a equipe, que abraçou a causa e a tornou uma realidade.” Desde então, esses verdadeiros “anjos do Natal” reúnem brinquedos ao longo do ano, para poder doar em hospitais públicos e cidades mineiras. Só no ano passado, eles conseguiram lotar três veículos com brinquedos. “Apesar de muito trabalhoso e cansativo, é uma ação extremamente gratificante. Quando o grupo para em uma cidade, liga a sirene e as crianças formam filas gigantescas para receber aqueles mimos, é emocionante. Vale a pena ver o sorriso de felicidade estampado no rostinho de cada uma delas”, diz, emocionada.
 
Leonardo Silva deu continuidade ao trabalho social que, antes, era desenvolvido por ele e por sua mãe/ Foto: Deivisson Fernandes
 
Legado de família
Desde os 13 anos, o professor de dança Leonardo Silva, 35, desenvolve trabalhos sociais em Betim. Ele conta que tudo começou com sua mãe, uma mulher bondosa que sempre realizou campanhas para arrecadar alimentos, roupas e brinquedos para doar às pessoas mais necessitadas. “Resolvi, depois de mais velho, dar continuidade às ações que ela fazia, já que, hoje, ela não tem mais condições. Então, há oito anos, mobilizo os jovens que estudam na academia de dança da qual sou proprietário para ajudarem essas pessoas carentes. Vejo que, com isso, a iniciativa tomou um viés diferente. Com a participação deles, consigo, agora, multiplicar nessas pessoas a vontade de ajudar o próximo”, afirma.
 
Desde o início de novembro, Silva e seus voluntários começam a arrecadar brinquedos, alimentos e roupas, que são distribuídos às entidades e comunidades carentes da cidade em dezembro. Só em 2012, foram 3 mil quilos de alimentos adquiridos e, neste ano, a expectativa é de que esse número suba para 4 mil. “Neste ano, também vamos realizar uma gincana para captar pessoas para doar sangue e livros”, conta. E, apesar de conseguir ajudar tantas famílias, ele diz que se sente triste quando chega o momento de doar tudo o que foi arrecadado. “Dói muito em mim ver que ainda existem tantas pessoas passando fome e dependendo dos outros para conseguir sobreviver. Lembro que, uma vez, entrei em uma casa e duas crianças estavam brigando. Achei que era por causa de um brinquedo, mas, na verdade, elas disputavam uma cenoura mofada e o resto de farinha que havia na casa, únicos alimentos que havia, segundo a mãe. Essa cena me chocou muito”, recorda com tristeza.
 
Com o apoio da ONG Anjos do Asfalto, Janaína Rufo criou o projeto social Natal Solidário/ Foto: Arquivo pessoal
 
Plantando sementes
Há 15 anos, o casal Jorge Joaquim da Silva Neto, 52, e Eliana Aparecida Malta, 52, imaginou que, com um gesto simples de solidariedade, mas bastante criativo, poderia encontrar uma forma de fazer do Natal de centenas de famílias e de crianças carentes no Estado um momento de felicidade. “Minha esposa e eu frequentávamos uma casa espírita e, motivada pela necessidade de ajudar as pessoas, ela teve a ideia de proporcionar um Natal mais digno para os filhos das famílias assistidas por essa casa. Então, nós começamos a cadastrar essas crianças e a buscar pessoas para apadrinhá-las nesse período do ano. Iniciamos o projeto com 70 meninos e meninas e, hoje, já são cerca de 900 crianças, espalhadas por 12 comunidades, e quase 15 voluntários que abraçaram
a ideia e nos ajudam a desenvolvê-la”, conta Jorge.
 
Antes de distribuir os presentes, cada padrinho voluntário precisa preparar, em casa, um kit contendo um brinquedo, uma roupa nova e produtos de higiene pessoal, como sabonete, creme dental e escova de dente. “Fazer com que essas pessoas preparem juntas e em família esses kits de Natal é uma forma que encontramos de semear o espírito natalino no coração de cada uma delas. E isso tem dado certo. Elas ficam mais participativas e com muito mais vontade de ajudar o próximo. A grande maioria dos kits, por exemplo, vem com muito mais presentes do que pedimos aos padrinhos e grande parte deles quer nos ajudar com doações durante todo o ano”, diz Jorge, orgulhoso. No dia da entrega dos mimos, que acontece sempre em dezembro, cada comunidade beneficiada organiza uma grande festa para receber as famílias, com almoço, exibição de filmes e realização de brincadeiras com as crianças. “É muito emocionante ver a alegria estampada no rosto dessas crianças. Digo sempre que a melhor forma de ajudar a si mesmo é ajudar ao próximo. Mas, para isso, é necessário ter muita disciplina, dedicação e respeito ao ser humano. Não podemos iniciar uma ação e, de repente, deixá-la de lado. Há muitas pessoas que precisam e dependem disso”, reforça Neto.
 



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