Opostos que se atraem

Comportamento

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Criado em 11 de Junho de 2014 Relacionamento
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As diferenças do outro podem ser apaixonantes à primeira vista, mas, para uma relação de longo prazo, tendem a se tornar um empecilho; porém, casais afirmam que,  com respeito e paciência, é possível, sim, viver um relacionamento saudável e feliz, mesmo diante de pessoas tão distintas
 
Pollyanna Lima
 
“EDUARDO E MÔNICA ERAM NADA PARECIDOS, ela era de leão e ele tinha dezesseis. Ela fazia medicina e falava alemão, e ele ainda nas aulinhas de inglês.” Quem acredita que somente o casal Eduardo e Mônica, personagens da canção da banda Legião Urbana, consegue viver bem com tantas diferenças pode estar enganado. Muitas vezes, parece quase impossível conviver com alguém diferente, porque as disparidades culturais, sociais e de opinião geram conflitos até nas pequenas questões do dia a dia, como praticar esportes, cozinhar ou fazer compras. Porém, segundo alguns casais, se ambos estiverem dispostos a ceder e a entender o lado do outro, é possível vencer esses obstáculos e ser feliz ao lado de quem se ama.
 
O técnico em enfermagem Lucas Martins Pereira, 32, e a empresária e estudante de engenharia civil Elizângela Priscila Batista Martins, 31, estão juntos há dez anos, sendo três de casamento. Eles contam que têm gostos e pensamentos diferentes e foram criados de forma muito distinta. “O que mais me incomoda no Lucas é o fato de ele ser muito individualista. Creio que seja por ele ser filho único e eu ter nascido entre 14 irmãos, uma realidade completamente diferente”, explica Elizângela. Já Lucas tem outras dificuldades: “Ela vive em torno da família e esquece que tem marido. Além disso, ela dorme demais”, brinca ele.
 
Lucas Pereira, 32, e Elizângela Martins, 31, têm gostos e pensamentos bem diferentes; ela, por exemplo, adora filme e assistir futebol, já ele, não aprecia
 
Elizângela é viciada em café, enquanto Lucas detesta. Ela só toma banho quente, ele adora água fria. Ela gosta de filme e futebol, ele não aprecia. “Acordo superagitado, ela, num tremendo mau humor. No almoço, também temos divergências, pois eu gosto de comida mais seca e ela, se deixar, almoça um ensopado”, diverte-se Lucas. “Mas sempre estamos buscando formas de melhorar o nosso convívio”, enfatiza a empresária. “Depois da briga, um sempre dá o braço a torcer e espera as coisas se acalmarem para resolver. Até que esfriemos os ânimos, buscamos no silêncio a melhor solução”, completa o técnico em enfermagem.
 
A administradora Pamela Margarida Barbosa, 28, casada com o educador físico Marcos Vinícius da Silva, 30, conta que o jargão “os opostos se atraem” descreve perfeitamente a união do casal. Nossa história já tem dez anos: um de amizade, três
Pollyanna Limade namoro e 6 de casamento. Sou uma pessoa realista, prática e sempre insatisfeita. Já Marcos, apesar de ter 30 anos, pode ser facilmente confundido com um dos seus alunos, pois é um ‘jovem’ por natureza. Ele ama esporte e atividades ao ar livre, eu prefiro aproveitar um dia livre para dormir a tarde toda. Esse é, com certeza, o meu defeito que mais o incomoda. Uma situação engraçada que passamos juntos foi quando eu resolvi acompanhá-lo a um jogo de vôlei. Estava tudo muito legal para ele, até eu começar a dormir na arquibancada, em plena partida”, recorda Pamela.
 
Já o empresário Sérgio Giraldi, 33, e a jornalista Kenia Rodrigues, 39, juntos há nove anos, também são pessoas muito diferentes e parte disso, afirmam eles, se deve ao meio cultural em que ambos foram criados. “Sou do Rio Grande do Sul e ela, de Minas Gerais. Vim de uma cidade pequena, com menos de dez mil habitantes, e tenho hábitos culturais, alimentares, comportamentais e um modo de pensar bem diferente do dela”, explica Sérgio. “O que mais provoca desavenças entre nós são os nossos pontos de vista sobre o relacionamento familiar, já que sou muito próximo a minha família”, conta Kenia. “Já eu prezo muito pelo individualismo do casal e sinto a necessidade de certo distanciamento dos familiares, o que a Kenia não consegue fazer”, completa o empresário.
 

 
“Um dos problemas mais recorrentes e engraçados é quanto aos nossos gastos. Sou muito controlado e minha mulher gasta excessivamente. Então, já houve momentos em que tentei pechinchar muito e isso não agradou à Kenia, gerando divergência de opiniões. Também raramente gosto de pagar os 10% de gorjeta ao garçom, pois quase nunca fico inteiramente satisfeito com o serviço. Além disso, não gosto de dar gorjeta em táxis, principalmente, quando ‘regateio’ o preço e já tenho o valor predefinido para gastar no orçamento. Daí a Kenia, em muitos casos, por coração mole, pede para dar dinheiro a mais”, conta Sérgio. A jornalista confirma as atitudes do marido: “O Sérgio é muito pão-duro e isso, às vezes, chega a causar constrangimento. Mas, depois que passa, conseguimos rir da situação”.
 
O casal conta que já chegou a pensar que as diferenças seriam capazes de separá-los. “Quando se tem algo mais difícil de lidar e contornar, a sensação mais fácil é a de repelir e buscar algo mais próximo do que você acredita. Porém, há estratégias para que isso não venha a dividir de vez o casal: o diálogo e o companheirismo. Eles são fundamentais nesses momentos. Só se fica com alguém de quem se gosta e a quem se cativa. Esposa ou marido são escolhas individuais de cada um. Então, para contornar as desavenças, geralmente, realizamos longas e até divertidas conversas e discussões sobre os mais variados temas e polêmicas. Não vamos dizer que isso não é desgastante, mas, por outro lado, nos faz crescer”, afirma Kenia.
 
O que mais provoca desavenças entre o casal Sérgio Giraldi, 33, e Kenia Rodrigues, 39, é o relacionamento familiar; enquanto ela prefere a proximidade com a família, ele preza o individualismo. Fotos: Muller Miranda
 
“Todos os seres humanos são diferentes uns dos outros, uns mais, outros menos. Ninguém é igual, então, os opostos se atraem porque, em muitos casos, buscamos no outro uma pessoa que tenha características e modo de pensar que, em muitos casos, nos faltam. É como um time de futebol. Não adianta ter 11 atacantes ou 11 goleiros: é preciso ter um atacante, um goleiro, um lateral, cada um ocupando o seu espaço e desempenhando o seu papel”, reflete Sérgio.
 
Quem confirma o pensamento do empresário é a psicóloga Cleuza Prata. “Quando procuramos uma pessoa que é diferente, na verdade, estamos buscando no outro aquilo que gostaríamos de ser. Por exemplo, se sou muito tímida, vou me interessar por um homem mais extrovertido, então, começo a namorá-lo para sentir, através dele, o que eu gostaria de ser”, revela a especialista.
 
EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA
Para a psicóloga, os opostos podem até se atrair, mas, quando essas diferenças são muito evidentes, é difícil que eles consigam viver juntos por muito tempo. “É claro que toda regra tem exceções, mas, geralmente, os relacionamentos das pessoas opostas tendem a durar pouco. Isso acontece porque no período em que estamos atraídos um pelo outro, por meio de um hormônio chamado testosterona, nós ficamos ‘cegos’. Isso nos provoca a paixão, que é manifestada por meio da dopamina, um hormônio que causa o efeito de euforia. Ou seja, tudo que já conhecemos vamos receber com bons olhos, tanto o igual quanto o diferente. Quando estamos vivendo esse processo as coisas vão bem, porém, com o passar do tempo, vem uma outra etapa, a dos hormônios oxitocina (presente na mulher) e vasopressina (presente no homem). Eles causam uma sensação de calma no corpo e, nesse momento, tudo se ajeita. E é aí que as diferenças começam a incomodar. Então, começam os conflitos, porque a pessoa percebe que o comportamento do outro não é bem o que ela quer para a vida dela”, exemplifica.
 
Mas Cleuza afirma ainda que as pessoas podem, sim, aprender a viver com o diferente. “Basta ter vontade, desejo e disponibilidade para que possamos aprender algo que o outro gosta de fazer. Nosso cérebro tem um poder muito grande de adaptação, então, se você se se permitir fazer algo que o outro goste, em pouco tempo também sentirá prazer com a tarefa. Vale a pena experimentar”, finaliza.

 




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