Palavras X Ações

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Criado em 14 de Novembro de 2012 O Papo é outro
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Muita coisa perdeu o sentido em nossa sociedade. Honrar o fio do bigode, uma expressão que simbolizava cumprir com a palavra, praticamente deixou de existir. O que valia mais do que papel assinado foi trocado por contratos registrados em cartório.
 
Sem a ilusão, ou pretensão, de acreditar que as coisas devam mudar, mas deixando claro que, a partir do momento em que honrar a palavra deixou de ser comum, respeitar um acordo de cavaleiros não é mais algo interessante. Sendo assim, todas as relações amistosas passaram a correr o risco de ser conflituosas.
 
Longe de querer afirmar que está errado. Ao contrário, para mim, em qualquer negócio em que não há um contrato, a possibilidade de ele se tornar uma demanda jurídica injusta para a parte que está com a razão é muito grande.
 
A solução para determinados conflitos no mundo jurídico nem sempre satisfaz a verdade. Em alguns casos, ela pode até ser totalmente perversa. Tomamos como exemplos a posse de terra pelos grileiros e a perda da identidade indígena com a desapropriação de suas terras. Sem contar as desapropriações impostas pelo Estado ou pelos interesses de megaempresários. Este discurso é um alerta para os que pretendem fazer qualquer negócio e também para os que acreditam que o fio do bigode ainda vale alguma coisa. Há pouco tempo, acreditei nessa hipótese em uma determinada situação e acabei por entregar de "mão beijada" um patrimônio. Faltaram bom senso e respeito da outra parte. Tiro minha conclusão de que essas relações foram destruídas a partir do momento em que o ser humano deixou que o dinheiro valesse mais do que sua palavra.
 
O sistema manipula as pessoas de tal maneira que elas o sustentam mesmo sem perceberem. Os que têm uma visão diferenciada da vida sabem que esses métodos utilizados para nos fazerem felizes são ilusões que criam depressão e angústia em milhares de pessoas.
 
O bem-estar e a felicidade são mais simples e mais baratos do que se imagina. Mesmo porque nunca conheci alguém que, tendo tudo o que o dinheiro pode comprar, deixou de ser escravo dessa condição. Quanto mais se tem, mais se quer. Essa história, eu conheço há décadas e simboliza o parágrafo que acabo de escrever.
 
Vi a seguinte frase no Facebook: “miséria só existe porque alguém lucra com ela”. Uma afirmação triste para um país com tantas riquezas. O desperdício virou sinônimo de status.
 
Estamos em novembro. Muito próximos da data em que se comemoram, entre outras coisas, a unidade e a solidariedade. A intenção é fazer brotarem esses sentimentos. De maneira alguma, constranger qualquer pessoa. Mesmo porque não se constrangem, ou muito menos se sensibilizam, pessoas que colocam o dinheiro acima de tudo em suas vidas.
 
Negar que o desperdício é um dos motivos para que a miséria se propague em nosso planeta é impossível. Essa triste realidade é uma demonstração não só de profunda ignorância, mas também de extremo egoísmo. Característica que passou a ser o segredo do sucesso para alguns. E esse segredo se torna inútil quando nos deparamos com tragédias e desastres que atingem os poderosos na mesma proporção que afetam os considerados medíocres. Posso dar o exemplo do que aconteceu no Japão com a proliferação de radiação nociva ao ser humano.
 
Dessa mesma maneira, perde-se o sentido quando o cidadão não consegue entender que seus atos extremamente egoístas afetarão sua vida muito antes o que ele imagina. Não estou aqui insinuando que as pessoas não podem desfrutar do conforto e do que a sociedade tem de melhor para lhes oferecer. Digo apenas que não se deve fazer isso jogando dinheiro fora. Coisa que qualquer empresário de sucesso entende muito bem, mas que, às vezes, pela ânsia da ostentação, faz questão de esquecer.
 
Acredito, por exemplo, que desperdiçar alimentos seja um grande ato negativo praticado por qualquer pessoa e condenado pelas milhares de religiões e seitas existentes. 
 
Venho afirmando isso há décadas. Inclusive com uma cobrança às pessoas que estão em minha volta. Por questões econômicas ou morais, é um ato que, por mais que demonstre qualquer tipo de vaidade, é estúpido. Volta para a pessoa numa velocidade tão grande que ela nem tem ideia.
 
Tudo se converte nas restrições impostas pelo Estado. Principalmente quando ele percebe uma natureza arrecadatória. É uma pena imaginar que, um dia, poderemos pagar pela nossa falta de consciência. As pessoas não devem pensar em deixar de conquistar seus anseios e almejar uma vida melhor. Mas destruir o que está à sua frente e que poderá lhe fazer é incompreensível. Pior que pagar é termos de viver em um mundo de escassez sabendo que fomos coadjuvantes dessa história.
 
As comemorações natalinas estão bem próximas. Em sua ceia de Natal, evite o desperdício. Por mais que seja difícil para você, comece a compartilhar aquilo que iria para o lixo com aqueles que, muitas vezes, não poderão desfrutar de uma mesa tão farta como a sua. Afinal, o Natal não serve também para exemplificar modelos de solidariedade? Quer melhor demonstração de sabedoria que essa?
 
Não acredito que fazer doações seja uma ação ruim. Mas, se ela não for acompanhada de algum esforço pessoal que não o de apertar o teclado do computador para autorizar a transferência de dinheiro, de nada valerá sua contribuição para uma sociedade melhor. Mesmo porque ações valem muito mais que palavras e doações. Se somos tão capazes de fazer tanto por nós mesmos, não custa fazermos um pouco pelos outros. Inclusive, esse é o sentido real da solidariedade, da humanidade e do agradecimento por tudo o que hoje possuímos. Porque "pode chegar um tempo em que, mesmo com dinheiro, não teremos o que comprar". E, mesmo com vontade de ajudar, poderemos não ter mais com quem contribuir. E tenho certeza de que, olhando para o lado, você pode perceber que muito se pode fazer com o pouco que se tem. "Nossas ações valem mais que mil palavras”
 

*Diretor da revista Mais. Bacharel em pedagogia.

Formado em políticas e estratégias pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra. Pós-Graduado em gestão ambiental e gestão do cooperativismo.
Graduado em direito. Membro da Jari da PRF, presidente do Setcob, membro do grupo Anjos do Asfalto, vice-presidente do Conselho de Políticas Urbanas da ACMinas.
 



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