Para todos os gostos
Pela primeira vez em 20 anos, prato vegano vence o concurso Comida di Buteco, em BH, e abre espaço para a diversidade de paladares
Iêva Tatiana
Rolezinhos empanados de berinjela recheados com funghi e shitake, acompanhados de pururuca e molho madeira veganos. Foi com essa composição que o prato Vegano di Buteco caiu no gosto do público e venceu a 20ª edição do concurso Comida di Buteco, em Belo Horizonte, em maio. Muito mais do que pela vitória em si, o petisco protagoniza um importante capítulo da história do evento por ser o primeiro concorrente sem ingredientes de origem animal a conquistar o título em duas décadas.
Tanganica Art Bar, no Coração Eucarístico, na região Noroeste da capital, é o boteco vencedor da última edição do evento, que, pela primeira vez em 20 anos de história, premiou um prato vegano
O dono da ideia e do boteco vencedor – o Tanganica Art Bar, no bairro Coração Eucarístico, na região Noroeste da capital –, é o jornalista e cozinheiro Ângelo Rafael Telles. Segundo ele, foi preciso uma pitada de loucura para nadar contra a maré das tradicionais opções com carnes. Autodeclarado “meio doido”, ele se dispôs a encarar o desafio depois de ouvir algumas queixas sobre a falta de alternativas para esse público. “O pessoal queria algo novo, e parece que eu captei isso. Neste ano, senti que dava para fazer, e, no grupo de 52 bares [participantes do concurso], tinha que ser eu”, afirma Ângelo.
O mais novo campeão conta que já foi um vegano radical, mas, na lida diária com a cozinha, acabou voltando a comer de tudo. O aprendizado daquela fase da vida, no entanto, ele faz questão de aplicar no preparo dos pratos até hoje. “Tenho uma predisposição para seguir os trâmites que os veganos precisam: evitar usar a mesma panela em que foi preparada uma carne, utilizar utensílios individuais, não reaproveitar óleo usado em alimentos de origem animal, essas coisas. O prato vegano tem endereçamento, consideração e respeito”, ressalta o cozinheiro.
Dedicação constante
Apesar da afinidade com o veganismo, Telles confessa que elaborar o Vegano di Buteco foi extremamente desafiador – “até hoje, estou aprimorando o prato”, diz ele – e exigiu muita dedicação ao longo dos últimos sete meses. É que os organizadores do concurso requerem a apresentação da receita participante com bastante antecedência.
“Eu acordava antes das 5h, todos os dias, para testar o prato. Tinha muitas ideias a partir de coisas que eu já fazia e sabia que queria empanados com recheio de cogumelos. A pururuca, eu tinha desenvolvido em outro prato totalmente vegano anos antes e decidi que ela ia entrar como um coadjuvante muito forte junto com os rolinhos de berinjela”, relembra o proprietário do Tanganica.
Mas não se engane em pensar que a vitória trouxe tranquilidade a ele. Ao contrário. De acordo com o cozinheiro, servir o prato campeão do Comida di Buteco lhe dá a enorme responsabilidade de corresponder às expectativas inerentes a esse status. Ele admite que, na Saideira – evento que revela os petiscos vencedores de cada edição do concurso –, ficou emocionado, mas, no dia seguinte, sentiu-se assustado com a magnitude do que estava acontecendo. “O prato foi para o mundo, recebi felicitações até de brasileiros que vivem em Los Angeles e em Nova Iorque. É um fenômeno mundial. Dobrei uma esquina e fiz uma revolução”, avalia.
Candidatos de sucesso
A primeira participação do Tanganica Art Bar no Comida di Buteco foi em 2013, depois de dez anos de tentativas, com o prato Donna Angélica, em homenagem à mãe de Telles: bolinhas de mandioca com queijo acompanhadas de linguiça calabresa reduzida no vinho e molho de mexerica.
No ano passado, foi a vez de ele homenagear o pai com o petisco “Seu Jaks, Bom de Bola!”: tirinhas de lombo suíno empanadas e bolinhos de frango recheados com muçarela servidos com molho de laranja e jaca.
Desde que foram lançados, os dois pratos eram os mais pedidos do bar. Agora, eles dividem o interesse e o paladar dos clientes com o Vegano di Buteco. “A procura aumentou muito após o resultado; está todo mundo curioso para conhecer. O que eu não ganhei de dinheiro na primeira fase estou ganhando agora”, diverte-se o proprietário do bar, que mantém um cardápio só com petiscos que já disputaram o concurso.