Quem pratica o ciclismo está no pelotão de elite quando o assunto é o percurso rumo a uma vida mais feliz. E não é só porque a atividade reduz o colesterol ruim (LDL), diminui a pressão arterial, melhora a respiração, aumenta a imunidade, contribui para a boa forma e regula o sono. Pedalar estimula a liberação de endorfina e aumenta os níveis de serotonina (hormônio relacionado à felicidade e ao prazer) no organismo. Se você ainda acha pouco, há, no mínimo, dois outros grandes benefícios praticamente inevitáveis: a descoberta de grandes amizades e a chance de contemplar belas paisagens. Pegue carona na história do grupo Luluzinhas no Pedal e se inspire para tirar a bicicleta do porão da casa!
Julia Ruiz
A GERENTE DE QUALIDADE Jacqueline da Cruz Fortes, de 47 anos, não consegue conter o sorriso fácil e cativante nem quando tenta enumerar as vezes em que iniciou uma atividade física e, no meio do processo, desistiu. Ela passava, invariavelmente, pela mesma situação que, de acordo com estudo divulgado pelo Portal da Educação Física, é comum em cerca da metade das pessoas que começam algum tipo de exercício em academias, quadras ou clubes no Brasil: desmotivação e desistência entre o terceiro e o quinto mês de aula. “Eu pesquisava sobre natação, por exemplo, e esboçava um desejo de começar. Aí, meu marido me falava: para que você vai começar algo que sabe que não vai dar continuidade?”, recorda Jacqueline.
Ela, que chegou a sofrer de obesidade, passou por uma cirurgia bariátrica e, depois do período de recuperação (e de eliminar 42 quilos), decidiu cortar de vez as asas do desânimo e dar a si mesma a oportunidade de cuidar da saúde por completo, encontrando prazer e satisfação nisso. E foi graças ao conselho de um amigo que Jacqueline encontrou numa bicicleta muito mais do que um meio de conquistar a boa forma. Ela achou, graças às duas rodas, uma verdadeira família, que a ajudou a se libertar do sedentarismo que aprisiona 46% dos adultos no Brasil (67,2 milhões de pessoas), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alegria em pedaladas tem nome e até uniforme: Luluzinhas no Pedal – grupo formado só por mulheres que encontrou no ciclismo uma paixão, um estilo de vida, um prazer à prova de desistências.
O “anjo da guarda” de Jacqueline e das cerca de 60 mulheres que participam ativamente do grupo (são 150 no total) é a manicure e designer de sobrancelhas Luciane Magalhães Inácio, de 42 anos. Enquanto pedalava com alguns homens – e se sentia muitas vezes constrangida perto dos colegas -, ela imaginou como seria bom praticar a atividade ao lado de amigas. E fez acontecer. “Desde janeiro de 2013, quando comecei, tinha o sonho de criar um grupo só de mulheres, pois, assim, todas poderiam compartilhar a enorme sensação de prazer e de liberdade que eu sentia. Pouco mais de um ano depois, fiz alguns convites e as meninas foram chegando. Com a participação delas, o sonho começou a se tornar realidade, e, por meio das redes sociais, outras mulheres puderam conhecer o grupo e se juntar a nós. Uma a uma, fomos divulgando nossos eventos e atraindo mais pessoas”, narra Luciane.
E um desses grandes apoios veio da recepcionista Débora de Oliveira, 27, que, amiga de Luciane também fora das trilhas e das pistas, investiu na ideia. “Em janeiro do ano passado, comprei uma bicicleta para acompanhar a Lu nos treinos e nos passeios. Com muita garra e dedicação, pude ajudá-la a formar o Luluzinhas no Pedal”.
Com o “Lu” de Luciane, estava criada a identidade do time composto por mulheres de Belo Horizonte, Contagem, Betim, Florestal, Mateus Leme e até de Santos – sim, porque uma das integrantes se mudou para lá e acabou criando uma extensão do grupo na cidade do litoral paulista.
Da turma, quem se rendeu por último às Luluzinhas é justamente Jacqueline. “Foi em fevereiro deste ano. Eu estava recém-chegada a Betim e queria companhia para praticar esse esporte que ainda estava iniciando em minha vida. Participei então do meu primeiro ‘Pedal das Luluzinhas’ e, dali em diante, não parei mais”.
BEM-ESTAR QUE VICIA
Quem aprendeu a andar de bicicleta ainda criança deve se lembrar da sensação mágica de conseguir dar as primeiras pedaladas sem aquelas rodinhas auxiliares que garantem o equilíbrio do corpo. Ouvindo os relatos de Jacqueline, Luciane e Débora, não é difícil chegar à conclusão de que resgatar a atividade na fase adulta promoveu quase o mesmo sentimento de se livrar das rodinhas. A “pedalada libertadora” foi em circunstâncias diferentes, porém igualmente importante para as três. “Já usava a bicicleta como meio de transporte para o trabalho, até que um amigo me convidou para participar do passeio de um grupo. Eu me apaixonei pelo ciclismo naquele momento, e ali tudo começou a mudar”, descreve Luciane. “Quando fiz meu primeiro pedal de longa distância e pude conhecer lugares maravilhosos e diversas pessoas, firmando ali novas amizades, me dei conta do que a atividade estava me proporcionando. Como consequência, o ciclismo me ajudou a superar um grande problema de insônia”, afirma Débora.
“Participei de um passeio em Contagem, em que pude comprar minha bicicleta. Foi ali que descobri que pedalar é algo que está nas minhas veias e que os amigos que o ciclismo estava me apresentando se tornariam também minha família’”, ressalta Jacqueline, que, hoje, alterna a atividade com o cross fit para adquirir mais rendimento sobre duas rodas. A dedicação é tanta que ela, juntamente com Débora e Luciana, integra a diretoria do Luluzinhas.
E, com tanta endorfina no corpo, ninguém quis saber de moleza. As pedaladas foram ganhando mais força, indo de pistas e trilhas da região metropolitana de Belo Horizonte até ciclos de viagem pela Estrada Real e eventos para cachoeiras em Minas Gerais. Atualmente, elas se encontram toda semana, além de promoverem eventos mensais, como o tradicional Pedal das Luluzinhas, sempre repleto de aventuras, no qual se reúnem profissionais e iniciantes.
Esses encontros, abertos à população, contam com equipes de apoio para dar suporte e acompanhamento aos iniciantes e, em grande parte das vezes, com um ritmo leve, permitindo que todos participem.
PEDALANDO RUMO À VITÓRIA
E, como era de se esperar, mais e mais pessoas foram se “viciando” no bem-estar proporcionado pelas pedaladas até que, em abril do ano passado, Luciane e companhia decidiram mostrar de vez que são uma equipe: elas mandaram fazer um uniforme rosa para que todos pudessem identificar o conjunto. “Em dezembro, participamos de um evento em Nova Lima que reuniu mais de 70 grupos de mountain bike e o qual vencemos como maior equipe uniformizada”, recorda-se Luciane.
O passo ainda maior veio em seguida. “Iniciamos o registro de marcas e patentes, que nos permitirá comercializar nossos produtos e promover eventos de maior porte no meio esportivo”, elucida a fundadora.
BENEFÍCIOS
A ciência explica que a atividade é uma das mais completas, podendo ser praticada por pessoas de todas as idades, sem restrições de condicionamento físico. Contrações cardíacas mais eficazes, tonificação de vasos sanguíneos, redução da gordura corporal, diminuição da glicemia, aumento da oxigenação do pulmão e dos tecidos, tonificação de músculos e melhora do desempenho aeróbico e cardiovascular são benefícios do ciclismo.
E, se grande parte dessas vantagens não se pode ver, todas elas se conseguem sentir. Quando questionadas sobre o que o ciclismo representa na vida de cada uma, Luciane, Jacqueline e Débora respondem quase que em coro: “liberdade, amizade, superação, ajuda mútua, qualidade de vida... vida!”.
EXPERIMENTE
Deu vontade de sair por aí pedalando? Então, uma ótima notícia para você: o próximo evento com a participação das Luluzinhas é o Pedala Betim, que será realizado no próximo dia 19, data em que se comemora o Dia Internacional do Ciclista. O evento terá início às 20h, com concentração às 19h30, no estacionamento do Ginásio Poliesportivo Divino Braga. Serão 10 km de percurso. Outras informações podem ser adquiridas no site www.pedalabetim.com.br.
Agora, se você quer mesmo é se tornar uma Luluzinha ou acompanhar o dia a dia dessas ciclistas, acesse o endereço www.luluzinhasnopedal.com.br ou a página do grupo no Facebook (facebook.com/luluzinhasnopedal). Sentiu receio? Saiba que não há receita para entrar para o time. “Para ser uma Luluzinha, basta ter força de vontade, determinação e a paixão que rapidamente vai te acometer”, revelam Jacqueline, Luciane e Débora, que completam, brincando, que “amizade de ciclista é como miojo: bastam três minutos e pronto, entrou para a família”.