Pílula da vida

Medicamento utilizado pelo Ministério da Saúde é um dos meios de se evitar o vírus HIV, mas somente combinado ao uso do preservativo, ainda principal forma de prevenção contra a Aids

Criado em 23 de Agosto de 2018 Saúde e Vida
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Em apenas uma década, de 2007 a 2017, foram registrados 194.217 casos de infecção pelo HIV no Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde. No total, há 827 mil pessoas infectadas no país. Mas uma pílula distribuída pelo governo federal traz a possibilidade de prevenção contra o vírus. Trata-se do medicamento que faz parte da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), implantada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em dezembro de 2017.

A substância é direcionada só a grupos vulneráveis, que se expõem mais à possibilidade de infecção, conforme determinação do Protocolo Clínico e da Diretriz Terapêutica de PrEP do Departamento Nacional de Saúde (PCDT/PREP), e, basicamente, ela impede que a pessoa desenvolva a infecção pelo HIV. Compõem esse grupo gays, homens que mantêm relações sexuais com outros homens, pessoas trans, profissionais do sexo e parcerias sorodiscordantes (em que um dos parceiros vive com HIV, e o outro, não, ou quando o casal pratica relações sexuais, repetidas vezes, sem o uso de camisinha). Também se incluem pessoas que têm usado a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) repetidamente ou que apresentam infecções sexualmente transmissíveis.

O remédio, do tipo antirretroviral, já é usado para o tratamento do HIV. A diferença, de acordo com o médico infectologista da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Dario Brock Ramalho, é que ele passa a ser empregado também com o objetivo de prevenir. “Em vez de usarmos só a camisinha como prevenção, utilizamos a PEP, a PrEP e o próprio tratamento”, explica.

Conforme a médica infectologista do Hospital Eduardo de Menezes, Tatiani Fereguetti, elucida, o medicamento foi amplamente estudado e, por isso, é seguro. No entanto, como todo remédio, não é isento de efeitos adversos. Segundo o Ministério da Saúde, foram observados efeitos colaterais como dor de estômago, perda de apetite e dor de cabeça após seu uso. “Por isso, é necessário um acompanhamento médico regular enquanto a pessoa utiliza a substância”, orienta.

Segundo o ministério, o usuário precisa tomar o comprimido todos os dias. A proteção se inicia a partir do sétimo dia para exposição por relação anal e a partir do 20º dia para exposição por relação vaginal. A PrEP só será indicada após teste que comprove que o paciente não possui a infecção pelo vírus. Caso contrário, ela poderá causar resistência ao tratamento.

A primeira etapa da PrEP foi implantada em 22 municípios de Estados como Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. A segunda fase, já iniciada, contempla outros 16 Estados:  Acre, Alagoas, Amapá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Tocantins, Sergipe. 

Preservativo

Os especialistas salientam que, sozinho, o remédio não previne a infecção pelo HIV. “É uma estratégia a mais que vem para somar na prevenção. De forma isolada, não é 100% eficaz”, pontua Fereguetti. Ou seja, não basta tomar o medicamento. Usar camisinha durante o ato sexual ainda é indispensável. Afinal, ela protege a pessoa não apenas contra o HIV, mas também contra outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e gonorreia, além das hepatites B e C.

A PrEP prevê outras medidas juntamente com o uso da pílula: testagem regular; profilaxia pós-exposição ao HIV; teste durante o pré-natal e tratamento da gestante que vive com o vírus; redução de danos para o uso de drogas; testagem e tratamento de outras infecções sexualmente transmissíveis e das hepatites virais; uso de preservativo masculino e feminino, além do tratamento para todas as pessoas.

Produção

O Instituto de Tecnologia em Fármacos Farmanguinhos, da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), irá produzir medicamento com o mesmo objetivo, chamado Truvada. De acordo com a coordenadora de Desenvolvimento Tecnológico de Farmanguinhos/Fiocruz, Alessandra Lanzillotta Esteves, o instituto firmou uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a empresa nacional Blanver para a absorção da tecnologia de produção.





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