Prontos para mais 50!

Eles já passaram dos 50 e apresentam tanta resistência e preparo físico que causam inveja em muitos jovens de 20 ou 30 anos

Criado em 11 de Maio de 2017 Capa
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Muitas pessoas temem o envelhecimento e a vida após os 40. Porém, um ditado muito popular diz que é nessa idade que a vida começa. Mais do que isso, há quem ultrapasse os 50 ou os 60 com louvor e sirva de exemplo para muitos jovens de 20 e poucos anos nos quesitos resistência e preparo físico. Com muita disciplina e força de vontade, essas pessoas participam até mesmo de competições e arrasam nas atividades físicas que praticam.

O educador físico pós-graduado em reabilitação cardíaca, saúde e envelhecimento Nilson Nogueira de Rezende Amaral salienta que se foi o tempo em que esporte era praticado em sua maioria por jovens. “Está se tornando cada vez mais comum pessoas com mais de 50 anos se destacarem no esporte ou mesmo frequentarem mais as academias. Essa conscientização é importante, e o crescimento da educação física como profissão e ciência faz com que essas pessoas se sintam melhor orientadas”, destaca Amaral, que é proprietário da academia NF Fitness, no Teuto Esporte Clube, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Exemplos de quem segue essa tendência e possui saúde de ferro não faltam. A psicóloga Sueli Miranda Firmino, de 57 anos, pratica há 12 corrida cinco vezes por semana e desde então participa de competições de meia maratona. Em casa, ela coleciona medalhas de provas realizadas nos Estados de Minas, Rio e São Paulo e até nos Estados Unidos. Além da corrida, Sueli faz natação e musculação três vezes por semana – para ajudar no fortalecimento muscular –, modalidade pela qual ela também compete ocasionalmente.

A psicóloga conta que o esporte sempre esteve presente na vida dela. E os frutos dessa rotina esportiva ela colhe atualmente: “Eu não tomo nenhum tipo de medicamento, não tenho problemas de saúde. Além disso, a prática esportiva modela meu corpo e faz eu me sentir muito bem emocionalmente”, relata. Para ela, nunca é tarde para começar a prática esportiva. Desculpas como falta de tempo ou de ânimo ou até mesmo a idade não cabem. “É sempre hora de começar. A gente tem que estar aberto ao que é bom para a vida e persistir. Os resultados vêm progressivamente, e isso faz você se motivar. Nada é impossível, tudo é uma questão de querer”, aconselha.

De olho no futuro

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil possui a quinta maior população idosa do mundo, com cerca de 28 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Análise realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), mostra que um em cada três idosos brasileiros apresentava alguma limitação funcional. E um dos modos de se desacelerar ou prevenir essas alterações trazidas pelo envelhecimento é praticando exercícios físicos, conforme estudo publicado na “Revista Brasileira de Educação Física e Esporte” em 2012 e realizado pelos especialistas Francys Paula CantieriI e Inara Marques.

A geriatra, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais, Ana Cristina Nogueira Borges, completa que a atividade física é fundamental para manter a massa muscular, reduzir a gordura corporal e obter bem-estar físico e mental, além de socialização. “A atividade física também auxilia no controle de inúmeras doenças crônicas, como obesidade, diabetes, dislipidemias, depressão e hipertensão, bem como previne angina, infarto, derrame e quadros demenciais, entre outros”, explica.

Nogueira ainda afirma que o ideal é que a pessoa tenha feito exercícios durante toda a vida, pois tal hábito pode mudar o histórico de saúde dela. Ainda assim, sempre é momento de iniciar. “A atividade física faz parte de um conjunto de hábitos saudáveis de vida, junto com não fumar, não beber em excesso, ter uma alimentação balanceada, praticar sexo seguro, ter lazer e socialização; enfim, é uma escolha de vida. E, quando a pessoa coloca como parte de sua vida o exercício, dificilmente ficará sem executá-lo”, complementa.

Divisor de águas

O gerente comercial João Batista Fernandes, de 60 anos, decidiu mudar de hábitos aos 50, quando a saúde começou a dar sinais de que algo não ia bem. Ele trocou o sedentarismo pelos passeios de bicicleta e, atualmente, não vive sem o esporte. “Eu era sedentário, pesava 92 kg, e alguns indicadores de saúde estavam me atormentando, como perda de sono e muita tensão nervosa. Resolvi zelar mais pela parte física, mas, por tabela, os benefícios foram também chegaram a outras áreas da vida, como a familiar, pois a prática esportiva me trouxe equilíbrio emocional. Além disso, perdi peso. Hoje, peso 80 kg”, conta.

A ideia de escolher o ciclismo veio após uma viagem ao caminho de Santiago de Compostela, rota de peregrinação religiosa na Espanha. Quando voltou para o Brasil, começou a fazer spinning e, daí em diante, passou a pedalar fora da academia. Batista segue duas vertentes do ciclismo. Uma delas é a cicloviagem, em que os ciclistas, em grupo, visitam os mais variados locais sobre duas rodas. “Conheço várias cidades, culturas e gastronomias. E tudo isso por um preço extremamente baixo, com a possibilidade de trabalhar no ritmo do corpo. Uma das viagens que mais me marcaram foi a Paraty, no Rio de Janeiro. Para chegar até lá de bike, percorri 1.168 km. A chegada é um momento de explosão de emoção sem igual. É sempre um alívio de tensão, um ato emocional extremamente positivo”, diz.

A outra vertente do ciclismo que João Batista segue é a de competições, que já renderam a ele alguns pódios e medalhas no Brasil e até fora do país, em Portugal. “Participo, mas o prêmio maior é cumprir o objetivo da prova dentro dos parâmetros e chegar junto com a galera”, salienta.

Segundo Batista, valeu a pena ter mudado de hábitos, já que, segundo ele, sua saúde atualmente é diferenciada em relação à das pessoas da mesma faixa etária que não praticam atividade física: sem doenças nem necessidade do uso de medicamentos.

Mudança

O professor universitário Gabriel Franco, de 61 anos, também passou a pegar firme na rotina esportiva após os 40. Praticante de corrida há cerca de 20 anos, treina e malha em torno de três vezes por semana. “Eu sempre caminhei muito, nunca fui exatamente sedentário, mas não tinha disciplina com atividade física”, lembra. Atualmente, além de se dedicar à prática, ele participa de provas país afora e no exterior. Começar a competir foi despretensioso, como uma “brincadeira”. Ele corria na esteira da academia e passou a participar de provas após o incentivo da professora. Os benefícios são invejáveis para muita gente na mesma faixa etária. “Minha saúde é boa. Eu não tomo nenhum remédio”, comemora.

Malhação

Um dos problemas mais comuns que acompanham o envelhecimento é a perda de volumes muscular e ósseo (sarcopenia e osteopenia, respectivamente), que pode provocar baixa resistência, resultando em quedas ou lesões. Esses são mais motivos para a prática esportiva ser uma rotina, de acordo com o educador físico, fisioterapeuta e treinador de natação do Minas Tênis Clube, André Cordeiro. “É importante associar a prática esportiva a outra complementar para auxiliar no fortalecimento. Pode ser pilates, musculação ou outro tipo, desde que isso seja acompanhado por um profissional”, diz. “A musculação é a atividade mais indicada, pois retarda e reverte esses processos. Atividades de impacto severo devem ser evitadas, mas não impedem as pessoas de correrem, pedalarem, nadarem. Tudo depende da condição física no momento do início da prática esportiva. É preciso dar  uma atenção especial à musculatura da parte posterior do corpo, à estabilização da coluna e aos membros inferiores”, completa o educador físico Nilson Amaral.

Quem entende muito bem de musculação e percebe os efeitos dessa atividade no corpo é a professora aposentada Fátima Maria Diniz Sousa, de 58 anos. Para ela não há “tempo ruim” para ir à academia, local que ela frequenta todos os dias por pelo menos uma hora. Uma das intenções é contribuir para o fortalecimento muscular, já que Fátima também pratica natação. Os benefícios são perceptíveis para ela e também para quem a conhece. “Eu sempre tive esse hábito e agora gosto mais ainda, pois, depois que me aposentei, tenho mais tempo para me dedicar. Devido a essa disciplina com a atividade física, tenho mais disposição para outras atividades, durmo melhor e não tenho nenhum problema de saúde”, salienta.

Fátima também considera a “falta de tempo” uma desculpa. Mãe de três filhos – de 25, 22 e 18 anos –, ela conta que nem quando eles eram pequenos e ela trabalhava abandonou os hábitos saudáveis, que incluem alimentação balanceada. Tantos anos com disciplina rendem a ela elogios frequentes pelo corpo escultural. “As pessoas falam que, pelo meu corpo, eu aparento ter menos idade. Ninguém acredita que eu já tenho até filho casado. Acho que, quando a pessoa faz atividade física, ela fica mais dinâmica e jovial”, comenta.

Crescimento profissional

Além dos benefícios físicos, o esporte ainda proporciona conquistas pessoais. O advogado e corretor de imóveis Eduardo Rodrigues, de 56 anos, joga tênis desde 2001, com treinos seguidos religiosamente três vezes por semana. Um ano depois, ele começou a competir e, desde então, coleciona 50 troféus. “Na região metropolitana de Belo Horizonte, até o ano passado existia o circuito Pró Tênis Mineiro, principal organizador de torneios em Minas Gerais, do qual participava. Esse movimento foi encampado pela Federação Mineira de Tênis, o que vai expandir torneios por todo o território e ampliar as oportunidades de novas conquistas. Participo ainda de torneios internos no Teuto Esporte Clube e também já estive na etapa do circuito nacional, tendo chegado a semifinais jogando em duplas”, relata.

Queixa com a saúde é algo que ele simplesmente desconhece. Ele afirma que não fuma, pratica uma alimentação saudável, procura repousar entre as atividades, faz check-up médico periódico e mantém a espiritualidade forte, crendo em Deus. “Os exercícios físicos me deixam ativo e em forma, pronto para as atividades do dia a dia. Principalmente o tênis me ajuda a ter mais paciência e tranquilidade para o enfrentamento dos problemas comuns nos tempos modernos, como o excesso de estresse e ansiedade”, destaca.

Juntos até no esporte

Se praticar atividade física sozinho já traz uma infinidade de benefícios, imagine com a pessoa que se ama? A administradora de empresas Andréia Pacheco, de 54 anos, e o engenheiro civil Álvaro de Oliveira Pacheco Junior, de 60, são casados há 28 anos, e o esporte permeia a vida do casal por todo esse período. Ela pratica musculação, yoga, spinning e corrida quatro vezes por semana; ele, musculação e corrida também três vezes por semana.

Os frutos da disciplina no esporte são colhidos inclusive no relacionamento dos dois. “Ajuda-nos a manter o bom humor durante as discussões de relacionamento, contribui muito a combater a TPM da Andréia e também meu estresse. Atualmente, Andréia está passando pelo climatério, e isso tem colaborado muito para reduzir os sintomas de irritabilidade e calorões dessa fase”, conta o engenheiro.

Juntos, eles participam de corridas de rua, como as meias maratonas de BH e do Rio, a Volta da Pampulha, o Xterra Tiradentes, a Volta da Ilha, em Florianópolis (SC), entre outras. Assim como os demais entrevistados desta reportagem, os dois também esbanjam saúde. “Meu médico pessoal sempre brinca comigo dizendo: ‘Cuidado, hein! Seus exames são tão bons que alguém pode te sequestrar’. Ou seja, meus exames são invejáveis”, comenta Andréia.

Fortalecendo o emocional

O vôlei sempre esteve presente na vida da professora aposentada Maria Lúcia Otoni de Rezende, de 72 anos. Porém, o esporte teve um papel fundamental há quase 30 anos, quando ela perdeu o marido. “Nós jogávamos juntos. Quando ele morreu, eu roubei a bola de vez: eu era a primeira a entrar na quadra e a última a sair. Foi o esporte que me ajudou a abandonar a tristeza”, relembra.

Integrante do time master do Teuto Esporte Clube, ela frequentemente compete. Hoje em dia, está afastada por conta de um desgaste no ombro esquerdo. Desde novembro, ela faz fisioterapia e não vê a hora de retornar para as redes. “Estou ansiosa para voltar”, comenta. O problema do ombro, segundo ela, é um desgaste natural devido à idade. Tirando isso, Maria Lúcia tem uma saúde de ferro. “Não tomo nenhum remédio, e os médicos falam que é por causa do vôlei. Sou muito ativa. Minha filha diz que quer ser igual a mim”, relata.

Equilíbrio

O equilíbrio físico-emocional também é algo que o contador André Luiz Teixeira Sudário, de 50 anos, procura obter fazendo yoga. Atuante em outros esportes como o tênis, atualmente, e mountain biking e trekking no passado, é na prática milenar indiana que ele encontra equilíbrios físico, mental e espiritual ao mesmo tempo. Por conta da yoga ele foi para a Índia, onde ficou por 40 dias, na cidade de Mysore, no Sul do país. Ele explica que lá praticou o estilo ashtanga (uma das vertentes da yoga). “Foi uma oportunidade de conhecer outras culturas e um enorme aprendizado”, resume.

Para ele, a atividade física é inerente a homens e mulheres. “Eu vejo a prática esportiva como uma ação natural dos seres humanos e dos animais e involuntária, por uma questão de necessidade. Penso que todos precisam descobrir o que mais gostam de fazer e buscar prazer nisso”, ressalta.

A consciência propiciada pela prática esportiva possibilitou a André ter contato direto com a natureza e entender que dela resultam bons frutos. “Procuro me alimentar melhor, dormir melhor. Faço todas essas coisas buscando prazer, e não preocupado com estética. Sinto-me bem fisicamente, e acho que isso é consequência desses cuidados. Vejo a prática esportiva e a boa alimentação como tudo em minha vida”, salienta.

A geriatra Ana Cristina Nogueira pontua que os benefícios emocionais são realmente uma consequência da prática de atividade física. “Os resultados positivos são notórios nas saúdes física e mental. Esporte regular ajuda a manter o bom humor, dá sensação de bem-estar e combate o estresse”, afirma.


 Auxílio profissional

De acordo com o Informe Mundial de Envelhecimento e Saúde, divulgado em 2015 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), uma análise combinada de estudos revelou que as pessoas que gastam 150 minutos por semana com intensidade moderada de atividade física tiveram uma redução de 31% na mortalidade em relação aos que eram menos ativos. E, segundo a OMS, os benefícios são ainda maiores para os que possuem mais de 60 anos. 

Mas, por mais vantagens que o esporte possa trazer, é necessário procurar orientação profissional antes de iniciar a prática. Um treino feito de forma incorreta pode acarretar lesões ou outros problemas ainda mais graves. A geriatra Ana Nogueira alerta que quadros clínicos específicos podem ser prejudicados se a pessoas fizerem exercício por conta própria. “Por exemplo, alguém que tenha um grave comprometimento por artrose de joelhos pode piorar suas dores ao fazer caminhadas. Uma idosa com osteoporose pode não se beneficiar da natação, já vez que, para haver formação óssea, é preciso praticar exercícios de maior impacto ósseo”, explica.

Por isso, o educador físico Nilson Amaral destaca que o primeiro passo é fazer avaliações cardiológica e física. “A partir dessas avaliações o profissional poderá orientar a pessoa no sentido de praticar a atividade mais adequada às suas condições”, pontua. Ele reforça que, seguindo esses cuidados, todos, em qualquer momento da vida, podem começar a se exercitar. “Nunca é tarde para iniciar uma atividade física, e os benefícios serão percebidos independentemente da idade e ou da condição física”, arremata.




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