QUAIS PALAVRAS MAIS QUERO REPETIR NA VIDA?
POR Lucas Fortunato Carneiro*
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Criado em 15 de Maio de 2014
Comportamento
Cada geração tem o seu leque de palavras. Isso prova que ela evolui, cresce e se adapta com facilidade. De um simples risco a este texto, tudo é palavra.
FALAMOS, FALAMOS E FALAMOS, mas o que realmente queremos dizer? Amar e viver são formas de falar? “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”, ensina Santo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.).
Existe algo tão profundo que pode desafiar a vida? Sim, a palavra. Tudo pode começar por meio de uma palavra: a vida, as ideias, as ações. Tudo tem princípio e fim por meio de uma palavra. Surgem no coração e se transformam em ação. Nada mais lindo do que uma palavra falada para edificar, e nada mais lamentável que uma palavra para destruir. O que podemos falar? O que devemos falar? O que queremos que os outros falem? Não é questão de ser otimista ou pessimista em relação às pessoas ou ao que elas dizem por aí, mas, sim, de onde surgem as palavras ditas. “Quais são as palavras que mais quero repetir na vida?”, já dizia o compositor Gabriel O Pensador.
Tudo no universo possui uma linguagem, tudo o que existe tem capacidade de transmitir algo, mesmo sua simples presença ali pode dizer muito. O grande nó da questão são as origens. Nos animais, a origem de sua linguagem é o instinto; nas plantas, a sua exuberância e delicadeza; no espaço e tempo, o mistério; no sagrado, o inatingível. E no ser humano?
A linguagem expressa por palavras é um dom dado ao ser humano. Essa capacidade desenvolvida vem de uma necessidade profunda de se comunicar e de penetrar a existência de quem quer que seja. Observemos as palavras que mais falamos, elas representam o que dentro do nosso coração existe, nossos sentimentos e nossa postura em relação ao mundo. Se queres saber quem sou, observa minhas palavras. Se queres saber o caminho para onde estamos caminhando, observa o caminho que estamos construindo com as palavras.
Cada geração tem o seu leque de palavras. Isso prova que ela evolui, cresce e se adapta com facilidade. De um simples risco a este texto, tudo é palavra. Do sagrado ao profano, tudo é linguagem, tudo é palavra, tudo é expressão de vida.
O que podemos fazer para crescer? Creio que vamos mudar as coisas aos poucos se começarmos por meio da palavra. Vivemos hoje em uma sociedade verborrágica (pessoa que usa uma quantidade excessiva e, geralmente, irritante de palavras para dizer coisas de pouco conteúdo ou sem importância), porém, falar muito não significa inteligência, mas pode ser expressão de uma fuga mundi. Fugimos de nós mesmos por meio das palavras em excesso. Falamos demais e, na maioria das vezes, não falamos nada, pois não colocamos sentido e vida no que dizemos.
Existe um barulho constante que nos incomoda e que nos faz querer ainda mais fazer barulho. Existe uma sabedoria na falta das palavras, no silêncio, que pode ser expressão muito sincera do que realmente seja falar algo com sentindo, por meio do silêncio, que nem sempre significa fechar a boca. Podemos edificar, ajudar, ser solidários, construir relações reais e duradouras. O filósofo Sócrates (399 a.C.) já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Esse exercício filosófico só se faz possível quando terminam as palavras que advêm da verborragia e nascem, então, as palavras do silêncio.
O pensador e santo católico Agostinho de Hipona usa a expressão “cor inquietum” (coração inquieto). Ele ensina que as verdadeiras palavras nascem de um coração que está atento, que procura a verdade em tudo o que sente e vive, que é capaz de ouvir e de se fazer ouvir, um lugar onde não só passa a vida, mas brotam sentimentos, palavras e ações que edificam e transformam o interior humano e o exterior no cosmos.
Nada nesta vida pode ser tão valioso como a palavra. O caminho da realização da paz e do bem pode ser feito ali onde a palavra se faz verdadeira. Somos hoje parte de uma história de conquistas, evoluções, derrotas, mas que nunca deixou de existir porque a palavra foi o seu principal instrumento para tal. Termino este pequeno grupo de palavras com o pensamento do mesmo pensador e santo católico Santo Agostinho: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro de mim e eu estava fora, e aí te procurava. Estavas comigo e eu não estava contigo. Mas tu me chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e curaste a minha cegueira”.
*Educador, graduado em filosofia pela PUC-Minas, graduando em teologia e Pós-graduando em psicopedagogia pela Fumec - [email protected]