Quando a distração e a agitação vão além
Transtornos
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Criado em 20 de Setembro de 2013
Saúde e Vida
Fotos: Reprodução Internet
Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) afeta uma em cada 20 crianças no mundo e caracteriza-se por desatenção, impulsividade e excessiva atividade motora
Cristina Guimarães
Criança é agitada, curiosa e animada. Contudo, a permanente inquietação, o questionamento excessivo, a dificuldade de prestar atenção à aula, a distração e a pouca paciência para estudar, bem como a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo e a dificuldade de terminá-las podem ser características de meninas e meninos que sofrem de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Presente em uma em cada 20 crianças em todo o mundo, o conhecido e diagnosticado transtorno psíquico infantil pode ser classificado de acordo com a prevalência dos seus sintomas: predominantemente hiperativo ou desatento e o tipo combinado. “Para a avaliação do subtipo de TDAH, é necessário observar a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade da criança. É muito importante percebermos que existe um padrão persistente no comportamento dela e que isso vai apresentar prejuízos em várias áreas de sua vida. Atualmente, os pais têm dificuldade de colocar limites nas crianças, o que faz com que elas sejam mais agitadas por natureza. Porém, isso confunde as pessoas”, explica a psicóloga Daniela Marcelino Lara, do Conheser Núcleo de Psicologia, que trabalha com terapia cognitivo-comportamental.
A diferença entre uma criança com TDAH e outra sem esse tipo de distúrbio talvez não possa ser percebida na hora do recreio da escola, quando é de se esperar que meninas e meninos estejam correndo, pulando ou gritando. Porém, quando todos retornam à sala de aula, pode-se observar que uma determinada criança, sistematicamente, não consegue parar e, nas aulas, é frequentemente incapaz de sustentar a atenção, desviando-a para outros estímulos com maior facilidade do que as demais. Nesse sentido, a diferença é quantitativa, e não qualitativa.
A dentista Polyana Lustosa Costa Pinto percebeu que seu filho Daniel, hoje com 17 anos, tinha TDAH quando ele estava no início do ensino fundamental. “Ele sempre foi muito travesso e nunca parava quieto. Comecei a observar que, no momento de fazer as tarefas da escola, ele não permanecia sentado. Tudo o distraía”.
Atenção: pais e escola
Os sintomas do TDAH podem ser verificados em crianças a partir de 4 anos. Pais e profissionais da educação têm papel fundamental na identificação do transtorno. “Ter um filho com TDAH não é fácil, mas a família deve entender que não está diante de uma criança problemática e, sim, com dificuldade. É preciso ter consciência que existem saídas. Buscar ajuda, o mais rápido possível, encontrar um diagnóstico e oferecer o tratamento adequado poderão proporcionar à criança e à família bem-estar e uma vida normal”, explica a psicóloga.
O tratamento deve ser multimodal, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas à criança. A medicação, na maioria dos casos, faz parte do tratamento.
Polyana, atenta ao comportamento do filho, procurou ajuda. Primeiro, buscou orientação médica com um neuropediatra, que identificou o transtorno e prescreveu o uso de Ritalina – mais antiga e mais comum entre as chamadas drogas da inteligência. Depois, Daniel iniciou o acompanhamento com um profissional da psicologia. “Essas ações ajudaram bastante. Meu filho é maravilhoso e temos uma
relação de amizade e de respeito. O transtorno, associado à adolescência, faz com que a pessoa fique mais agitada, impulsiva e questionadora. A nossa cumplicidade, a ajuda médica e da psicóloga – que ele vê como uma amiga – contribuíram muito para nossa relação”, orgulha-se a mãe.
Maria Fernanda Sviatopolk-Mirsky Maia, coordenadora pedagógica do Acompanhar Pampulha – núcleo de acompanhamento da criança e do adolescente – e diretora da franquia, reforça o compromisso dos pais na administração do TDAH. “É importante esclarecer que é um transtorno de comportamento. Nesse sentido, a família tem papel fundamental, apresentando os limites de todos os atores da sociedade. Por isso, fazemos uma formação, que se chama ‘Treinamento de Pais’, para mostrar como eles têm atribuição-chave no tratamento.”
Por que acontece ?
A psicóloga Daniela explica que muitas causas são apontadas pela literatura para o desenvolvimento do TDAH, tais como danos cerebrais, nutrição pré-natal deficitária, alto índice de estresse, condições físicas, neurológicas e psiquiátricas, alta incidência de infecções respiratórias e alérgicas, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas pela mãe durante a gravidez.
No entanto, as causas da doença têm sido associadas a anormalidades no desenvolvimento cerebral, mais relacionadas aos fatores hereditários do que ambientais, que corresponderiam à disfunção no córtex pré-frontal e em suas conexões com rede subcotical e com o córtex parietal.
“Essas áreas atuam na inibição de comportamentos, na manutenção da atenção e na inibição de respostas. Auxiliam ainda na inibição e no controle das emoções e das motivações, bem como na utilização da linguagem para controlar e planejar o futuro. O fator genético é considerado o mais importante no TDAH, já que está presente em 80% dos casos. Alguns estudos apontam para uma predisposição genética para o transtorno, mas nenhum gene isolado pode ser considerado necessário ou suficiente ao desenvolvimento do TDAH.”
A especialista complementa que, “ao observar uma criança que apresenta algum problema escolar, social ou comportamental, deve-se encaminhá-la para uma avaliação profissional. Pais, professores e profissionais, juntos, precisam colaborar na promoção da saúde e do bem-estar de meninas e meninos com TDAH.”