Quando é preciso descer do salto
Saúde e Vida: Males do salto alto
Fotos: Augusto Martins
Uso constante de calçados altos pode promover degenerações no corpo, dos pés à cabeça
Lisley Alvarenga
DURANTE UM PASSEIO despretensioso no shopping, andando de uma vitrine para outra, não é raro nos depararmos com uma mulher parada, admirada com a mais nova coleção de uma loja de calçados. A relação que a mulher mantém com os sapatos vai muito além do consumismo e chega a ser afetuosa. Mas será que ela já parou para pensar nos prejuízos que o salto alto pode trazer à sua saúde? Os potenciais danos vão dos pés à coluna, passando pela panturrilha e pelos joelhos.
As mulheres jovens não descem dele e parecem dominar o jogo. Todavia, com o passar dos anos sobre o salto alto, as alterações degenerativas vão se tornando mais acentuadas. Quando uma mulher utiliza muito esse modelo de calçado, submete o joelho a torques excessivos, principalmente em pernas arqueadas. “Isso torna a porção medial dessa articulação mais suscetível a transformações degenerativas da cartilagem articular, com maior incidência de patologias”, explica o fisioterapeuta Anderson Graciano de Melo.
Portanto, não é exagero afirmar que o salto submete o corpo da mulher a condições não fisiológicas que necessitam de constantes adaptações e acomodações. “A função das articulações é alterada, o que pode desencadear forças e torques acima do normalmente exercido. Além disso, o seu uso demanda que alterações posturais sejam feitas a todo o momento para que se dê o equilíbrio postural”, acrescenta Melo.
Selma Batermarque da Silva Santos, 44, é um exemplo de mulher que está terminantemente proibida de usar saltos altos. A professora foi diagnosticada com três hérnias de disco na coluna e, quando sobe no salto alto, piora seu problema. “Sempre gostei muito de usar sapatos altos. Hoje, como meu nervo ciático está inflamado, prefiro abrir mão dele e fazer tudo o que meu fisioterapeuta orienta”, diz. E, quando Selma insiste em usar o salto alto, sente dores terríveis. “No momento em que estou usando esse tipo de calçado, não sinto a dor. Ela vem mesmo quando o tiro. Começa na região lombar e, depois, atinge toda a minha perna. É tão forte que parece que até meu osso dói”, conta.
Nem todas as mulheres que usam sapatos de salto alto terão hiperlordose lombar (deformação na coluna), metatarsalgia (dor que acomete a região anterior aos dedos em casos de muita pressão durante o caminhar), joanete ou outro problema relacionado ao calçado. Contudo, como prevenir é sempre melhor do que remediar, tomar providências para evitar essas complicações é o recomendado. De acordo com o ortopedista e atual presidente da Federação Mundial de Cirurgia Minimamente Invasiva de Coluna, Pil Sun Choi, há um tipo de salto e uma frequência de uso menos prejudiciais à coluna. No dia a dia, o ideal, conforme ele destaca, é um sapato com 3 a 4 cm. “Saltos maiores devem ser reservados aos eventos, e, mesmo assim, a mulher deve se preparar para sentir dores nas costas e nos pés após o uso”, alerta o ortopedista.
Apaixonada por saltos altos desde a infância, Meire Cristina de Assis, 33, é uma exceção à regra. Proprietária de um salão de beleza em Betim, ela conta que passa, em média, 12 horas por dia em cima do salto alto sem sentir dor. O que mais surpreende é que ela possui um desvio na coluna desde quando nasceu. “Fui ao médico por causa disso, mas ele me disse que o salto não era o problema. Sendo assim, continuei a usar. Minhas clientes ficam impressionadas. Perguntam-me sempre como dou conta de ficar tanto tempo usando salto. Mas, para mim, é uma coisa natural. Já estou acostumada. Se eu usar rasteirinha e tênis, é que vou sentir dor nas costas e nos pés”, brinca. A empresária possui uma verdadeira coleção de saltos, que ultrapassam os 150 pares. “Minha paixão por sapato alto é tão grande que meu tamanco de praia é uma plataforma”, revela. Para ela, que mede 1,56 cm, com salto alto, a mulher fica mais sensual.