Dentro ou fora das quatro paredes, as atividades físicas caíram no gosto da galera; a moda agora é se exercitar; mas pra quem está cansado da rotina de malhação, o jeito é buscar algo novo; modalidades que aliviam o estresse e reduzem muitas medidas estão chegando com força total e conquistando o mineiros
Na metodologia Supercore, exercícios que pode ser realizado ao ar livre e em estúdio, as pessoas treinam fazendo os mesmos movimentos, alterando apenas a intensidade e a complexidade de acordo com a aptidão
Amanda Kaizer
O DESPERTADOR TOCA BEM CEDO. Os pés cansados arrastam os chinelos em um ritmo desanimador, e o dia começa assim, sem muitas expectativas. Afinal, os motivos do estresse continuam intactos. O trânsito está longe de mudar, as pressões no trabalho ficam piores a cada dia, e a saúde mental não está tão bem. Para contornar os males da rotina, parte dos brasileiros já descobriu a solução: se mexer. A verdade é que os agachamentos na academia ou a corrida na rua reduzem – e muito – o estresse. Segundo a pesquisa “Stress no Brasil”, realizada pela psicóloga Marilda Pitt, 75% dos brasileiros apostam na prática de atividades físicas para aliviar o estresse e veem resultado nisso.
O auditor fiscal João Martins é um dos que mergulharam de cabeça no universo esportivo. Depois de 15 anos aprendendo muay thai e indo à academia regularmente, ele percebeu que faltava alguma coisa. “Mesmo em dia com o meu corpo, eu sentia a necessidade de praticar algum esporte que me deixasse perto da natureza”, conta. Foi aí que surgiu a ideia de aprender stand up paddle, esporte que une água, prancha e muita disposição. O primeiro contato com essa prática ocorreu com o atleta e pioneiro da modalidade em Minas Gerais, Johnny Costa. Ele diz que, para praticar o SUP – apelido que a atividade ganhou nas águas mineiras –, são necessários prancha, remo, colete salva-vidas e água. “Quando comecei as aulas, alugava o equipamento. Agora, já tenho minha prancha”, revela João. E quem pensa que o SUP é só relaxamento está muito enganado. Johnny, que também é educador físico, esclarece que o stand up paddle é intenso e trabalha todas as regiões do corpo, principalmente as do core – conjunto de músculos responsáveis pelo equilíbrio. “A aula dura cerca de uma hora. Se o aluno treinar forte, ele pode queimar até 800 calorias”, informa. Dentre os benefícios imediatos, o professor ressalta ganho de equilíbrio e estabilidade, além, é claro, do descanso mental. “Por se tratar de uma modalidade aquática e coletiva, praticando-a, as pessoas se esquecem dos problemas e se voltam para a beleza natural ao redor”, pontua.
Solange Pacheco (ao centro) explica que a ioga, além de despertar a harmonia interior, nos propõe uma reflexão acerca de quem somos; dentre as ramificações da atividade, o hatha ioga tem se destacado
Se o stand up paddle promete relaxamento na água, a ioga retoma ensinamentos milenares e propõe uma filosofia prática, na qual o corpo e a mente se unem durante a execução das posturas. Solange Pacheco, professora de ioga há 16 anos, explica que a relevância dos ensinamentos faz com que a atividade se destaque de outra forma. “Essa filosofia prática é o caminho da saúde do corpo, da mente e da alma, pois, além de despertar a harmonia interior, ela nos sugere uma reflexão acerca de quem somos e do que queremos para nossa vida”, declara. Várias são as ramificações da ioga. Existem atividades que promovem grande contemplação e reflexão, como laya e raja, e outras que trabalham o físico com mais intensidade, como kundalini, iyengar e asthanga. Dentre todas elas, a que mais ganhou destaque no Eterno Movimento, estúdio coordenado pela professora, foi a hatha ioga, que equilibra as energias masculinas e femininas do ser através de posturas que fortalecem, alongam e dão flexibilidade ao corpo. “Ao trabalhar as funções orgânicas, a ioga desintoxica os corpos físico e emocional”, salienta Solange.
No balé fitness, os movimentos clássicos da dança foram aliados a exercícios direcionados ao abdômen, ao glúteo e aos braços; Juliana Coimbra e a bailarina Letícia Viana são adeptas da prática
Essa busca por equilíbrio ecoa nos ouvidos da humanidade ao longo do corre-corre diário. É preciso buscar a paz interior e resgatar a autoestima. Foi a partir dessa ideia que a advogada Ana Luísa Fidelis decidiu sair da zona de conforto e perder alguns quilos. Bailarina desde pequena, Ana deixou as sapatilhas de lado por causa de uma lesão no joelho. “Tentei me encaixar em várias atividades para recomeçar, todas sem sucesso”, relata. O reencontro com o exercício físico se deu com a calistenia – treino que usa o peso do próprio corpo para a execução de movimentos de força e acrobacias em barras de ferro. Reconhecida pela Federação Mundial de Street Workout, a calistenia tem grupos credenciados em várias regiões no país. Ana Luísa escolheu o grupo Beagarra para dar início aos treinos, em setembro do ano passado. “De lá para cá, emagreci 12 quilos e consigo agachar. Antes, isso era impensável devido à lesão”, conta, animada.
Coach de calistenia, Luiz Fernando Machado diz que, quando as pessoas estão bem com seu corpo e treinam em grupo, o resultado é muito satisfatório. “Elas conseguem chegar a um equilíbrio mental, que resgata a essência e as aproxima da própria espiritualidade”, ressalta. Durante uma hora de aula, ele une exercícios da calistenia, treinamento funcional, street workout e musculação. Vários agrupamentos musculares são estimulados em uma única atividade. Por isso, há necessidade de executar o fortalecimento, com barras, flexões e abdominais. Os alongamentos e aquecimentos não ficam de fora. Afinal, ninguém quer parar por conta de lesões. Quem quiser se mover pela endorfina – frase que define o grupo – pode ficar despreocupado. Tem exercício para todos os níveis.
Aí está uma preocupação relevante, já que nem todos estão acostumados à rotina fitness. Quem dirá ao balé fitness. É isso mesmo: o antigo “plié” foi remodelado pela bailarina Betina Dantas e agradou a “gregos e troianos”. Depois de sofrer uma lesão no pé e não poder dançar com as sapatilhas de ponta, Betina encontrou um paradoxo. Como manter o corpinho de bailarina sem se exercitar? Com pouca afinidade com a academia, ela decidiu unir o balé e a malhação. E não é que deu certo? Movimentos clássicos da dança foram aliados a exercícios direcionados ao abdômen, ao glúteo e aos braços – tudo o que a mulher gosta de trabalhar. Com estúdios credenciados em todo o país, o balé fitness virou moda entre as mulheres. Em Belo Horizonte, quem ensina a modalidade é a bailarina Letícia Viana, em seu próprio estúdio, no bairro Belvedere. Ela conta que sentia necessidade de trabalhar com um balé direcionado ao público adulto – pouco lembrado nos estúdios de dança. “Por ser democrático, o balé fitness conquista todos. Ele pode ser executado tanto por bailarinos profissionais quando por amantes da dança”, explica. No geral, as aulas ocorrem em circuito e são divididas em duas partes. Na primeira, os exercícios são feitos na barra de balé com mais repetições. Os últimos minutos são dedicados às atividades abdominais, de glúteo e de braços. Letícia diz que nenhum peso é utilizado na aula além do corporal. “É uma aula muito pesada. Por isso, deve ser feita com um profissional qualificado, a fim de se evitarem lesões”, orienta. Nesse ritmo puxado, os benefícios são notáveis: além do resultado corporal – postura alongada, flexibilidade e definição –, as alunas de Letícia apontam as vantagens do treino coletivo. A dentista Juliana Coimbra nunca se adaptou à musculação, mas se encontrou no balé. “A dança, por si só, é uma atividade diferente pela presença musical, que nos relaxa bastante. Além disso, durante as aulas, nos encontramos com pessoas de quem gostamos. Eu gosto tanto que faço balé fitness e balé clássico”. Como bem disse a professora, sorrisos são importantes para uma vida mais leve. No estúdio de Letícia,
isso é prática involuntária.
A sensação de bem-estar e felicidade proporcionada pelo exercício físico faz do empresário Luiz Felipe Maia um apaixonado pelo workout. Depois de praticar tênis e corrida por alguns anos, o mineiro começou com o supercore. A atividade, criada por Kenji Takahashi, traz uma dinâmica de treinamento completamente diferente das aplicadas em ambientes internos.
Os aparelhos são substituídos pelo peso corporal e pela estrutura da Praça do Papa – local onde o grupo se encontra semanalmente para treinar – ou do estúdio Supercore, no bairro Bandeirantes.
É só observar um pouco para notar que todos os alunos praticam o mesmo treino. Kenji explica que, quando criou a atividade, seu objetivo era organizar o treinamento funcional para que pessoas de diferentes capacidades pudessem realizar o mesmo exercício. “Na metodologia supercore, as pessoas fazem os mesmos movimentos alterando a intensidade e a complexidade de acordo com a aptidão”,
diz. Dessa maneira, a atividade fica mais dinâmica e descontraída. Segundo Luiz, os exercícios são bem rápidos, e todo o corpo é trabalhado durante a atividade.
“Em dois meses, meu percentual de gordura caiu 6%. Além de ganhar muita massa magra, também fiquei com o corpo bem definido”, conta, orgulhoso. O exemplo do empresário e dos alunos da metodologia supercore – que começou em Belo Horizonte e já tem estúdios espalhados no Brasil – é uma prova de que o treinamento funcional bem-executado pode dar muito resultado nos quesitos ganho de massa muscular e definição. Kenji informa que a aula ocorre em sistema de circuito. “São dez estações de atividades. Algumas são dedicadas a exercícios de correção postural”, pontua. Se a prática for aliada a uma boa dieta, os resultados serão impressionantes. Durante uma hora de aula, o aluno gasta 600 calorias. E os benefícios são dos melhores. “Além de um corpo bacana, o aluno ganha em sociabilização, equilíbrio, força e consciência corporal”, destaca o professor.
A calistenia - treino que usa o peso do próprio corpo para a execução de movimentos de força e acrobacias em barra de ferro - também caiu no gosto dos mineiros; em BH, o grupo Beagarra aderiu à prática
Se a movimentação do corpo já é recomendada para pessoas em geral, imagine então para as mulheres grávidas. Para a professora de Pilates Marcela Silveira, a teoria de que gestantes não podem se exercitar pelo risco de terem parto prematuro não passa de um mito. “Estudos atuais têm apresentado inúmeras vantagens proporcionadas pela prática regular de exercícios físicos durante a gestação”, conta. Dentre eles estão a maior possibilidade de controle do peso, a redução do risco de doenças – como pré-eclâmpsia e depressão pós-parto – e a menor ocorrência de dores pélvicas. Mãe e bebê saem ganhando desde que a atividade seja realizada em intensidade moderada e após a liberação médica.
Jonnhy Costa descobriu no stand up paddle uma forma de estar em contato direto com a natureza; dentre os principais benefícios da atividade, estão ganho de equilíbrio e estabilidade, além, é claro, de descanso mental
A professora, que dá aulas para gestantes, explica que existe um programa específico para as futuras mamães. Nesse, os exercícios são de baixo impacto e focam o fortalecimento dos músculos estabilizadores da pelve e da coluna. Assim, as lombalgias e dores tão frequentes nesse período são prevenidas e tratadas. A engenheira Janaina Aguiar, que está com 24 semanas de gestação, começou o Pilates por indicação médica e está adorando. “Sempre tive muitas dores de cabeça e dores musculares. Quando descobri a gravidez, parei com os remédios. O Pilates foi a atividade ideal, pois a fisioterapeuta dá a aula conforme meu ritmo. Hoje, me sinto muito melhor; tenho dores com pouca frequência e vou para o trabalho mais disposta”, relata. No mundo fitness, casos como o de Janaina – que dependia de remédios para conter as dores – e o de Ana Luísa – que queria perder alguns quilos após a lesão no joelho – não são raridade. Raro mesmo é ver alguém que se sinta infeliz praticando um esporte do qual gosta. A verdade é que todos que colocam o corpo em movimento se sentem menos estressados – como apontado em pesquisa – e mais de bem com a vida. Por isso, escolha a modalidade que tem mais a ver com você. Pode ser na água – com o stand up paddle –, nos ares – com os movimentos na barra da calistenia –, ou nas praças de Belo Horizonte – com o supecore. Falta de opção não é desculpa. Em Belo Horizonte, há de tudo. Por isso, saia do sofá, chame os amigos e vá para a rua. Exercite-se.