'Quem me dera ao menos uma vez'... Uma educação de verdade

POR Lucas Fortunato Carneiro*

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Criado em 11 de Novembro de 2013 Comportamento
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Muito vem se falando sobre métodos, formas, intenções e ações de educar, mas creio não ser somente isso. A discussão passa pela necessidade que cada um tem da educação e também por como o povo a enxerga.
 
Caro leitor, inspirei-me na lendária musica “Índios”, da extinta banda Legião Urbana, para colocar em prática o antigo e fundamental exercício de refletir, nesta edição, neste nobre espaço de comunicação.
 
A reflexão deste mês vem pautada pela eterna discussão: a educação no Brasil. Não quero aqui, de forma alguma, fazer um discurso cheio de belas palavras, mas quero relatar o que sinto e o que vivo na educação brasileira. Sendo educador, busco meditar incansavelmente sobre esse dom e obrigação que tenho: “o educar”.
 
Muito vem se falando sobre métodos, formas, intenções e ações de educar, mas creio não ser somente isso. A discussão passa pela necessidade que cada um tem da educação e também por como o povo a enxerga.
 
Já é desprezível ouvir políticos dizendo que o futuro da nação está na educação. Creio nisso, mas não vindo da boca de um político. Vejo que ela está além de fornecer uma boa estrutura escolar, que também é necessária, ou de construir mais escolas para a comunidade. Entendo que é preciso, sim, existir incentivo e abertura a novas práticas.
 
Na filosofia, valoriza-se o “espanto”, a “curiosidade” e o “perguntar”. Portanto, será que educamos os nossos estudantes, sejam eles crianças, jovens e adultos, para o questionamento? Paulo Freire (1921-1997) dizia que a nossa educação é bancária, que consiste simplesmente em depositar no aluno uma quantidade determinada de conhecimento para cada ano letivo. E isso é fato. Nossos estudantes são depósitos de conhecimento e, diga-se de passagem, às vezes, muito mal depositado. O aluno não consegue ver utilidade naquilo que é transmitido pelo(a) professor(a).
 
Acredito que uma ação social que vislumbre as várias dimensões da vida do estudante seja uma das inúmeras possibilidades de inovação do sistema de educação público e privado. Entender quem é esse estudante, qual a sua estrutura familiar, qual a sua realidade e, principalmente, o que ele enxerga do mundo é imprescindível. Como educar uma criança que tem em seu lar violência, drogas, fome, desrespeito e desemprego? Antes de ensinarmos o pretérito perfeito, devemos nos perguntar: que aluno é esse que vem para a escola?
 
Enquanto os governantes por nós eleitos não valorizarem a educação como meio para uma sociedade mais justa e reflexiva, e nós, assim como eles, continuarmos tendo um foco único na economia, na indústria, nas relações públicas, no pré-sal, na baixa do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para compra de mais carros, na mídia politiqueira ou no julgamento interminável do mensalão, não teremos uma revolução na educação.
 
Querido leitor, “quem me dera ao menos uma vez” uma educação de verdade e questionadora. Sonhar não faz mal, mas alimenta nosso espírito. Enquanto a alegria, a satisfação, a entrega e a boa vontade não estiverem estampadas nos rostos dos(as) nossos(as) professores(as), não será possível evoluir. Tenho plena consciência de que não se muda nada do dia para noite, mas alimento dentro de mim o sonho de uma educação para a discussão, a consciência social e, principalmente, que nos leve não apenas a passar no vestibular ou no exame do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas que produza boas perguntas e práticas sempre mais surpreendentes. Faça um exercício, quando seu (sua) filho(a) ou uma criança de sua família chegar da escola. Não pergunte se ele (ela) tirou uma nota boa, mas questione: você fez uma boa pergunta hoje?
 
*Educador, graduado em filosofia pela PUC-Minas, graduando em teologia e Pós-graduando em psicopedagogia pela Fumec - [email protected]



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