Mesmo em tempos modernos, muitos persistem com o sonho de “subir ao altar”e, cada vez mais, usam práticas novas para tornar um dos sacramentos mais populares do mundo um momento singular e mágico
Viviane Rocha
O TEMPO PASSA, novos modelos de relacionamento surgem, mas o casamento não sai de moda. Segundo o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), em 2013 foram realizados 1,1 milhão de matrimônios no Brasil, número três vezes maior que a quantidade de divórcios. Mas não só a quantidade considerável das cerimônias impressiona. A criatividade empregada pelos noivos para que o “momento do sim” seja inovador e marcante é algo que deve ser destacado. Por isso, no mês das noivas, a revista Mais conta histórias de casais que selaram suas uniões de forma original e bastante inspiradora.
A produtora audiovisual Kivia de Aguiar Delgado, 24 anos, e o engenheiro Ronaldo Tavares Delgado, de 30, fizeram uma cerimônia surpresa para família e amigos, tendo como testemunhas apenas uma câmera profissional, um tripé e o nascer do sol no alto de uma montanha. O evento, com a cara do casal – discrição em meio à natureza –, ocorreu em abril deste ano. “Meu marido e eu não somos muito tradicionais, não temos paciência para eventos sociais, e Ronaldo, além de tudo, é muito tímido. Por isso, decidimos fazer tudo do nosso jeito”, conta Kivia. A inspiração para a cerimônia foi uma cena do seriado “Do Amor”, cuja personagem central se casou no jardim de uma casa abandonada.
Kivia e Ronaldo, juntos há dois anos e meio, relatam que não queriam passar meses planejando uma festa de casamento. Tanto é que toda a preparação da cerimônia deles durou nada mais do que um dia. “No dia anterior, pegamos o tripé emprestado de minha irmã, compramos o buquê, as rosas para o cabelo e uma camisa para o Ronaldo”, relembra Kivia.
No dia do enlace matrimonial, Kivia e Ronaldo saíram de casa às quatro da manhã, para que pudessem chegar juntos com o nascer do sol atrás de uma serra mineira, cujo nome eles preferem não revelar. “Encontramos um lugar distante da ‘civilização’. Fizemos nossos votos um para o outro ali e trocamos as alianças”, recorda-se. Tudo sem o nervosismo e sem a correria comuns das festas maiores, repletas de convidados e horários a serem cumpridos. “Não teve script, foi natural. A gente só curtiu aquele momento e aquela paisagem maravilhosa, que bem cumpriu o papel de nosso altar. Foi divertido e mágico”.
PARA POUCOS E QUERIDOS
Já a blogueira Tallita Lisboa, de 24 anos, e o engenheiro Lucas Guedes, de 28, optaram por um casamento com público, porém seleto, basicamente amigos íntimos e pessoas da família, fugindo do padrão de festas para centenas de pessoas. Assim, a cerimônia e a recepção do casal se realizaram em um restaurante em Belo Horizonte, em agosto do ano passado. E, para abençoar o momento, algo inovador: o casal convidou um familiar querido, o pai do noivo, e, para levar as alianças, outra pessoa especial para ambos, o irmão da noiva. “Sempre prezamos ficar com a família e com os amigos. E, neste momento tão especial, não seria diferente”, ressalta Tallita, que chegou para a cerimônia acompanhada da mãe. Para o casal, juntos há um ano e nove meses, o protagonismo da família no casamento era fundamental. “Nada melhor do que alguém que conhece o casal para contar aos demais convidados sobre o amor e a vida a dois”, diz Tallita.
A escolha de um número reduzido de convidados foi uma estratégia para que todos os convidados ficassem à vontade durante a recepção e pudessem ter contato uns com os outros. “Pude conversar com todos os convidados e curtir com eles esse momento único”, destaca Lucas. A preparação e o resumo do grande dia foram registrados no blog de Tallita, chamado “Oolha Isso” (www.oolhaisso.com.br).
“FAÇA VOCÊ MESMO”
Certos de que não queriam profissionais de cerimonial dizendo o que deveriam fazer em seu casamento, a publicitária Poliana Scofield, de 37 anos, e o enfermeiro William Faria, de 35, resolveram fazer um casamento personalizado em todos os detalhes. “Tudo o que teve em nosso casamento foi a gente que fez”, destaca Poliana. Por seis meses, Poliana, William, familiares e amigos prepararam tudo. O convite era uma caixa pintada de amarelo com minissabonetes em forma de coração, tudo feito pelos noivos, que estão juntos há dois anos.
A decoração da festa foi produzida com garrafas PET, com a ajuda da mãe da noiva. Na ornamentação, era possível ver flores e corações feitos de feltro. A noiva teve uma equipe de amigas que a ajudou a ficar superproduzida para o grande dia. O vestido de noiva foi feito sob medida por uma costureira de Betim, e o calçado era uma rasteirinha. Amigos presentearam o casal com a música da cerimônia, uma cabine de fotos e até a viagem de lua de mel, para Porto Seguro, na Bahia. A cerimônia e a recepção ocorreram num sítio na região de Vianópolis.
Poliana e William decidiram trocar alianças debaixo de uma árvore, ou seja, ao ar livre. E uma chuva forte que caiu no dia do casamento não atrapalhou nada do que havia sido planejado. Sim, eles se casaram sob uma fina chuva. “Havia dois meses que não chovia e foi chover justamente no dia do casamento. A chuva foi tão forte que alguns convidados não conseguiram chegar ao sítio. E, como ela não passou, só amenizou, nós resolvemos iniciar a cerimônia. “Eu amo a chuva. Para mim, não foi problema algum casar ao ar livre. Todo mundo se divertiu muito”, recorda-se Poliana. A noiva foi levada ao altar pelo filho, Miguel, de 8 anos. “Foi um dia perfeito”, finaliza a publicitária.
SONHO QUE PERMANECE
Para o psicólogo especialista em terapia comportamental Samuel Henrique da Silva, o sonho de subir ao altar corrobora o desejo das pessoas de alcançar a felicidade. “Vivemos em uma sociedade na qual o ideal romântico perpassa as nossas relações afetivas e ele traz consigo a ideia da união das almas gêmeas como um passo decisivo rumo à felicidade”, explica. Para ele, a religiosidade também influencia bastante na decisão de realizar uma cerimônia. “A cultura da cerimônia de casamento está presente nas principais religiões. A maioria das pessoas anseia pela cerimônia de casamento por ter crescido imbuída desses ideais”.
Todavia, ele acredita que, para muitos casais, a cerimônia não é um momento primordial. “Observamos um movimento de resignificação do casamento e das relações de modo geral: se, antigamente, era apenas por meio do casamento que se definiam as relações, hoje os laços de afeto e as vivências do casal cumprem esse papel”, diz. “Assim, tem crescido também o número de pessoas para as quais o casamento passa a ser uma etapa que pode ou não ocorrer”.
Segundo o especialista, as cerimônias mais criativas demonstram uma ligação maior do casal com sua história particular do que com uma mera tradição social e religiosa. “As pessoas e as formas como elas se relacionam têm se diversificado, buscando-se mais transparência e congruências com os sentimentos de felicidade e liberdade”. Tais mudanças, segundo Samuel, são legítimas do ponto de vista dos sentimentos.