Residências sustentáveis

Opções que podem ser incluídas em casa ou em empresas contribuem com o meio ambiente e promovem economia financeira

Criado em 20 de Setembro de 2018 Capa
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A preocupação em ser sustentável está cada vez mais presente na mentalidade dos brasileiros. De acordo com pesquisa realizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), em parceria com a agência global Havas, a sustentabilidade ligada à energia concentra 44% da preocupação da população. A mudança climática e a destruição ambiental alcançam marca ainda maior: 57%.

Atualmente, há muitas alternativas para contribuir com o meio ambiente, como investir em residências, empresas ou comércios sustentáveis, com equipamentos ou sistemas que geram benefícios ambientais e também economia, promovendo a redução do consumo.

Segundo Francisco Alves, da Lifemotions, empresa de soluções em energias renováveis e 
automação, instalar um sistema de energia fotovoltaica custa a partir de R$ 22 mil

Uma das opções que têm crescido é a procura pelo sistema de energia solar fotovoltaica. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), divulgados em junho, há um ano essa fonte seria capaz de abastecer cerca de 60 mil residências. Hoje, esse número é dez vezes maior, passando para 633 mil casas em todo o país.

Ainda conforme a Absolar, o crescimento exponencial foi impactado pela redução de 75% no preço da energia solar nos últimos dez anos e pelo aumento do preço da energia elétrica, que subiu 499%, de acordo com o Ministério de Minas e Energia.

“Largamente conhecido, o sistema de aquecimento solar ganhou um novo aliado: a energia elétrica fotovoltaica. Mas o que significa isso? Simplificando a fórmula, a energia fotovoltaica consiste na transformação da luz solar em energia elétrica”, explica o diretor comercial da Lifemotions, empresa de soluções em energias renováveis e automação com sede em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, Francisco Alves.

O Atlas Solarimétrico mineiro, desenvolvido pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), mostra que o território do Estado possui potencial para irradiação solar duas vezes maior do que a Alemanha, por exemplo, país líder no ranking de produção e aproveitamento da energia solar.

Sistema de Energia Fotovoltaica

Os painéis solares absorvem a luz solar, gerando energia, e um equipamento denominado “inversor” a equaliza para que seja compatível com os parâmetros da rede elétrica. A energia produzida supre a demanda instantânea do local, e o excedente é enviado para a rede elétrica, que, posteriormente, quando não houver sol, será consumido.

Os painéis para a captação da luz solar são instalados nos telhados, e a quantidade varia de acordo com o tamanho do imóvel. Eles podem ser colocados tanto durante a construção quanto depois de concluída a obra, caso o proprietário do local queira trocar o sistema elétrico pelo fotovoltaico.

A posição das placas influencia na eficácia da absorção solar. “Para se fazer uma instalação correta, os módulos (placas) devem estar, preferencialmente, voltados para a direção norte, com uma inclinação aproximada de 20 graus para imóveis localizados na região metropolitana”, detalha Francisco.

Segundo o diretor comercial da Lifemotions, instalar um sistema de energia fotovoltaica custa a partir de R$ 22 mil. Em média, uma casa com uma família de quatro pessoas, com um consumo de cerca de 500 quilowatts por mês e uma conta que gira em torno de R$ 550, conseguiria obter o retorno do investimento a partir de três anos.

Custo x benefício

Para quem acha o valor salgado, a arquiteta e designer de interiores Cíntia Rezende afirma que o investimento em um projeto de instalação de placas de energia fotovoltaica não precisa ser feito todo de uma vez. Se ele for bem elaborado, pode seguir duas etapas para não pesar muito no bolso do cliente – para quem ainda está construindo, fica até mais fácil. E é nesse momento que se destaca a importância de contratar um profissional qualificado e experiente no assunto.

“É possível fazer a preparação detalhada de toda a  infraestrutura, pensando no  posicionamento dos telhados e das caixas d,água, na predisposição para a energia fotovoltaica, nas tubulações para a rede hidráulica, inclusive com a utilização da água da chuva, e nos locais para as placas solares, para, depois, ser feita a finalização da construção. Até mesmo após ser finalizado, o empreendimento pode receber os equipamentos. Não é necessário fazer tudo de imediato. A pessoa pode se programar para comprar e instalar as placas e outros equipamentos posteriormente”, salienta. Ainda de acordo com a arquiteta, um dos maiores enganos relacionados ao sistema é pensar que ele é inacessível em função de custo.

Mas ela alerta que também é importante checar a procedência dos profissionais envolvidos e não se contentar apenas com o menor preço. “Existem muitos aventureiros nesse mercado, e o trabalho não consiste só em instalar as placas. É preciso ter muita orientação e preparo tanto da parte de quem vende o material quanto de quem elabora o projeto. Aqui, no escritório, nós participamos de um workshop totalmente voltado para o tema para nos qualificarmos”, informa Cíntia.

Por outro lado, ela reconhece que o recurso ainda é relativamente novo no Brasil, o que dificulta não só a qualificação de profissionais como o interesse das pessoas em buscar essa solução. Segundo a profissional, as placas de energia fotovoltaica não são discutidas em sala de aula na faculdade de arquitetura e há pouco material de divulgação disponível para potenciais clientes. Muitas vezes, a tecnologia é apresentada somente em sites especializados.

“Por isso, sempre vou a feiras, viajo muito para o Rio de Janeiro e para São Paulo, busco informações e me atualizo. Quero ser uma profissional com referência em Betim”, diz Cíntia.


A arquiteta e designer de interiores Cíntia Rezende alerta a quem for investir na instalação de placas de energia fotovoltaica para preparar a infraestrutura adequada com a ajuda de um profissional

Investir para economizar

O comerciante Márcio Rodrigues, depois que conheceu os benefícios, optou pela instalação das placas no restaurante dele, em Brumadinho, na região metropolitana de BH, no ano passado. O estabelecimento, inaugurado em 1999, hoje conta com 232 painéis. Mirando a redução de gastos com energia elétrica e a contribuição para o meio ambiente por meio da geração de energia sustentável, Rodrigues alcançou rapidamente seus objetivos, conforme relata: “Logo após a conexão com a rede elétrica, a economia foi imediata”, diz ele, satisfeito com a experiência. “A tecnologia foi um avanço para a população brasileira. Temos muito a ganhar”, emenda o comerciante, defendendo que todos deveriam se preocupar com os rumos do planeta.

Aquecimento de água

Outra opção que também utiliza propriedades solares é o aquecimento da água usada para abastecer piscinas, chuveiros e torneiras. O sistema contribui com a redução do uso de energia elétrica, além de ser durável, como explica o sócio-fundador da Lifemotions, Giordano Guillevic. “Ele tem alta durabilidade, de até 20 anos”, diz.

De acordo com a arquiteta Akemi Nishimoto, o aquecimento solar já é bastante utilizado em residências, comércios e indústrias. O sistema é composto por placas coletoras solares e um reservatório de água (boiler). Essas placas são responsáveis pela absorção da radiação solar, transferindo o calor para a água que circula no interior das tubulações de cobre.

De lá, a água vai para o boiler, um reservatório térmico que armazena o líquido aquecido composto por cilindros de aço inoxidável, isolados termicamente, para que evite a perda de calor. Assim, a água permanece quente, pronta para o consumo.

Existem outros tipos de aquecedor solar, entre eles o a vácuo modular e o a vácuo acoplado. “O primeiro é muito utilizado em indústrias e hotéis, onde há espaço disponível e necessidade de grande quantidade de água quente. O segundo é ideal para residências, pois economiza espaço e possui a mesma eficiência”, salienta a especialista.

Ela explica que o equipamento depende do tamanho do reservatório, que é definido de acordo com a quantidade de água consumida na residência ou no estabelecimento a ser instalado. Para se ter um cálculo mais certo, Akemi recomenda contratar um profissional, que vai indicar o aquecedor mais apropriado para o projeto.

O aquecimento solar da água da piscina também é possível. A diferença, segundo Giordano, é que, nesse caso, não é utilizado reservatório específico, pois a água circula entre a própria piscina e as placas. Assim, ela fica em torno de 22°C a 28°C, de acordo com a época do ano.

Segundo a arquiteta Akemi, as vantagens do sistema de aquecimento solar de água são variadas e vão desde benefícios ao meio ambiente à tarifa de energia mais barata. “O sistema de aquecimento solar é utilizado para a redução dos gastos com energia elétrica, que pode chegar a 30%, havendo um retorno rápido do investimento. Outra vantagem é a valorização do imóvel”, destaca.

A arquiteta Akemi Nishimoto garante que redução de gastos com energia elétrica em residências que adotam o aquecimento solar pode chegar a 30%, e o retorno do investimento é rápido

Inspiração europeia

Há oito anos, desde que construiu uma casa em Betim, a terapeuta ocupacional Camila de Almeida Guimarães Krollmann conheceu os benefícios do aquecimento solar. Em busca de uma economia ainda maior, ela decidiu ampliar as fontes de energia alternativas, e, há pouco menos de três anos, o imóvel passou a ter 12 placas de energia fotovoltaica.

O interesse pelo sistema surgiu depois de uma viagem à Alemanha, onde os painéis são comumente vistos nos telhados das construções. De volta ao Brasil, Camila começou a pesquisar preços e empresas que oferecem o serviço na região metropolitana. A certeza de que o investimento valeria a pena veio com a aprovação da lei que instituiu o chamado IPTU Ecológico no município (um programa de dedução fiscal para quem adota soluções sustentáveis de consumo de água e de energia elétrica).

Agora, além de pagar somente a taxa mínima cobrada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a terapeuta ocupacional conta que se sente mais à vontade para utilizar equipamentos que antes eram evitados em função do impacto negativo que o emprego deles poderia causar nas tarifas.

“Antigamente, não usávamos muito o ar-condicionado, por exemplo. Mas, sabendo que ele não vai mais onerar tanto a conta, utilizamos com mais frequência, assim como a lava-louças e o fogão elétrico, que gera mais economia, já que o gás de cozinha é outra coisa que não para de encarecer”, ressalta Camila.

Captação de água da chuva

Há mais ou menos três anos, o Brasil vivenciou uma das piores crises hídricas da história. Em várias partes do país, represas atingiram níveis críticos de capacidade, e muito se falou sobre o uso racional e medidas alternativas para a economia de água. Uma boa estratégia para reaproveitar esse recurso é captando-o da chuva.

O sistema é simples: a água proveniente das precipitações é coletada pelas calhas e armazenada em um reservatório separado da água tratada, vinda do sistema da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). Em seguida, é bombeada de maneira adequada para uma caixa d’água também separada.

O sócio-fundador da Lifemotions explica que esse sistema permite uma reserva de até 20 mil litros de água em apenas uma cisterna. O recurso pode ser usado na lavagem de áreas externas e carros, na cura de concreto, no uso em descargas sanitárias, na irrigação de áreas verdes, entre outras situações. Assim, economiza-se água tratada, restringindo-a ao consumo humano. “Uma chuva torrencial rápida pode captar milhares de litros de água”, destaca Giordano.

De acordo com o sócio-fundador da Lifemotions, Giordano Guillevic, o sistema de captação de água da chuva permite uma reserva de até 20 mil litros de água em apenas uma cisterna

Consciência ecológica

Acostumado desde criança a se preocupar com os prejuízos causados pelo homem ao meio ambiente e a fazer de tudo para reduzi-los, Adilson de Souza criou sozinho um sistema de captação de água de chuva no posto de combustíveis dele, no bairro Citrolândia, em Betim. E ele não parou por aí: o estabelecimento também possui aquecimento solar e placas de energia fotovoltaica. O conjunto de medidas tem rendido até visitas de outros empresários interessados em conhecer de perto os recursos que proporcionam uma redução drástica nos custos com energia elétrica e água – o espaço abriga 21 lojas.

“Era para eu estar pagando algo em torno de R$ 3.000 em conta de luz ou, ao menos, R$ 2.500, mas eu pago cerca de R$ 250, ou seja, 10%, apenas a taxa mínima.Mesmo que a pessoa não tenha consciência ecológica, não esteja nem aí para isso, tem o dinheiro de volta em um determinado tempo. Depois, pelo resto da vida, é lucro”, afirma Adilson.

A instalação dos painéis de energia fotovoltaica foi feita há cerca de dois anos, pela Lifemotions, e, desde então, o proprietário do posto paga somente a taxa mínima cobrada pela Cemig. Hoje, é ele quem fornece energia para a companhia e, por isso, consegue descontos até na fatura de casa.

Adilson de Souza criou sozinho sistema de captação de água de chuva em seu posto de combustíveis, no Citrolândia, em Betim

Já o sistema de reaproveitamento de água da chuva foi feito por ele próprio e tem capacidade de 60 mil litros, facilmente cheio depois de uma chuva intensa de três horas de duração aproximadamente. A água, que é tratada e própria para consumo, por enquanto tem sido utilizada apenas nas descargas dos banheiros do posto e das lojas.

“Não se trata só de economizar, mas de contribuir com a ecologia. Esses sistemas são mais um instrumento nessa militância em que minha família atua, é uma questão de educação. Meu pai foi uma pessoa muito simples, que nunca foi à escola, mas era um autodidata e, durante toda a minha vida, me ensinou a utilizar a água de maneira consciente e a plantar árvores”, finaliza o empresário.

Irrigação inteligente

Na mesma linha de economia de água, ainda é possível instalar no jardim um sistema de irrigação automatizado. Os jatos são colocados em áreas estratégicas, e a quantidade de água é controlada por meio de uma central automatizada, que determina também por quanto tempo e em qual a frequência a irrigação irá ocorrer.

Ainda de acordo com Giordano, o sistema pode ser conectado à internet, personalizado para buscar dados de umidade do ar e previsão de chuva. Assim, a irrigação pode ser aumentada ou diminuída conforme a necessidade sazonal do dia. “Ele possibilita uma economia de até 90% na quantidade de água e padroniza a irrigação das plantas, evitando que elas fiquem encharcadas ou recebam pouca água”, diz.

Automação Residencial

Esse tipo de modernidade, de emitir comandos e ações usando apenas um controle, chama-se automação e, dentro de uma residência, oferece uma série de alternativas que também promovem economia de recursos e comodidade.

Por meio de um clique ou da programação online é possível determinar a hora em que uma cortina deve abrir ou fechar, permitindo maior incidência de luz solar em uma parte do dia; ou o momento em que o ar-condicionado deve ligar ou desligar; controlar a iluminação da casa de modo personalizado, permitindo mais ou menos luz em determinados cômodos, além de programar para que as lâmpadas acendam ou apaguem também de modo automático.

Ainda é possível controlar programações de sonorização e vídeo em áreas internas e externas, seja por motivos de lazer (músicas em um determinado ambiente, por exemplo) seja de segurança (câmeras de monitoramento).

Na automação residencial, tudo é programável, de acordo com a necessidade do morador, que controla as ações por meio de uma central de multimídia. “Essa automação pode ser cabeada, e o projeto é feito ainda na construção para cada comando, o que garante mais estabilidade, ou por meio de Wi-Fi caso a obra já esteja finalizada. É uma comodidade que também torna a moradia mais sustentável”, salienta.

Economia verde

A adoção de medidas sustentáveis em residências, em empresas e no comércio, além de contribuir para a preservação ambiental e de resultar em economia de consumo e de gastos com tarifas de água e de energia elétrica, permite que haja deduções no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em Betim. Chamado de IPTU Ecológico, o benefício é concedido a pessoas físicas e jurídicas que instalam sistemas de geração de energia elétrica fotovoltaica, de aquecimento solar e de captação e reutilização de água de chuva.

Aprovada no ano passado pela Câmara Municipal – o projeto foi uma indicação do vereador Palmerinho (PV) ao Executivo –, a Lei 6.223/17, que instituiu o IPTU Ecológico, entrou em vigor neste ano. De janeiro a agosto, cerca de 40 projetos foram apresentados à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semmad), coordenadora do programa. Depois de aprovados pela pasta, eles seguem para a Secretaria Municipal de Finanças, Planejamento e Gestão, responsável pela concessão dos descontos no tributo no ano seguinte.

Para assegurar a concessão da dedução, é preciso apresentar o projeto instalado, as notas fiscais referentes a ele e a comprovação de que houve queda no consumo de água e de energia elétrica. No caso das placas fotovoltaicas, a redução no valor do IPTU varia de 15% a 50%; no aquecimento solar, de 5% a 10%; e, na captação de água de chuva, de 10% a 15%.

Segundo o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ednard Tolomeu, os resultados do programa observados até o momento foram surpreendentes, já que mais imóveis residenciais pleiteiam descontos no imposto.

“Espera-se, de modo geral, que as empresas façam aportes maiores em tecnologias como essas, porque elas entendem que, quanto menor a despesa, maior é o lucro. Mas, quando vemos pessoas físicas se organizarem para terem pequenas centrais de energia no telhado, nota-se uma mudança de paradigma na sociedade”, avalia Tolomeu.


Segundo o secretário de Meio Ambiente de Betim, Ednard Tolomeu, cada vez mais residências pleiteiam deduções em imposto por meio do IPTU Ecológico

Boa receptividade

Segundo o secretário, com a aprovação da nova legislação, surgiram três movimentos no município. Primeiramente, houve uma grande mobilização de empresas que oferecem os serviços previstos no texto, todas interessadas em apresentar à população os produtos que compõem o portfólio delas. Na sequência, veio a divulgação da importância de implementar esses mecanismos também em residências. Por fim, verificou-se a movimentação das pessoas em busca da adesão ao programa.

“A gente já vê uma ação muito efetiva das empresas em Betim para ampliar a tecnologia, inclusive nos valores cobrados por elas. Com sistemas mais apurados e acessíveis, os preços estão cada dia mais ao alcance da população, promovendo um equilíbrio entre custo e disponibilidade”, diz.




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