Rodando pelo mundo
Blog Cadeira Voadora, de Laura Martins, foi criado há sete anos para incentivar pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida a ganharem asas e irem além dos limites impostos pela sociedade. Cadeirante, ela conta nos textos as próprias experiências – pos
A cadeirante Laura Martins mostra no blog Cadeira Voadora que as pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida podem realizar seus sonhos e ganhar o mundo; na foto, ela visita o Mercado da Boca
Ela é turista de carteirinha e decidiu que seria um desperdício de informações, imagens e pesquisas não compartilhar com outras pessoas suas experiências em hotéis, restaurantes e pontos turísticos pelos quais já passou – tanto no Brasil quanto no exterior. Foi então que nasceu, no início de 2011, o blog Cadeira Voadora, diretamente da vontade de Laura Martins, autora da ideia, de incentivar outras pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida a criarem coragem para “levantarem voo” e ganharem o mundo.
Aos 5 anos, Laura teve mielite transversa, uma doença neurológica derivada de uma inflamação na medula espinhal, provocada por um vírus, para a qual ainda não existe vacina. Ela já usou aparelho ortopédico e muletas canadenses, mas, atualmente, locomove-se exclusivamente com cadeira de rodas para preservar a musculatura. A partir da própria necessidade de saber mais sobre a acessibilidade dos locais que pretendia visitar, Laura resolveu falar a respeito das aventuras que já havia encarado a fim de ajudar mais gente.
“Fui para a Europa, para visitar o filho de uma amiga em Genebra, na Suíça, e ela me perguntou por que eu não escrevia a respeito da viagem. Foi o ‘clique’ que faltava”, relembra. Há sete anos, ela já mantinha um blog sobre assuntos variados e, então, resolveu criar outro, especificamente voltado para o turismo.
Apesar do início despretensioso, o resultado deu tão certo que o blog cresceu, deixou a plataforma original para ganhar um domínio .com.br, há cerca de um ano e meio, e, hoje, conta inclusive com textos de colaboradoras, todas cadeirantes: uma advogada, que aborda questões jurídicas, uma publicitária, que escreve crônicas, e uma carioca, que adora viajar.
Depois de passear muito Brasil afora e pelo exterior, Laura garante que o quesito acessibilidade não é falho só no Brasil; mas Toledo, na Espanha (foto), foi uma surpresa positiva para ela.
Altos e baixos
O compartilhamento de “bagagem” com os leitores tem ajudado a desmitificar o universo das pessoas com deficiência e a romper paradigmas equivocadamente instituídos pela sociedade, a começar pela possibilidade – e liberdade! – de ir e vir. Além disso, segundo Laura, a troca de informações evidencia que, ao contrário do que muitos pensam, o quesito acessibilidade não é falho somente no Brasil.
“Quando fui visitar muitos países que as pessoas falaram que eram acessíveis, vi que a propaganda não era verdadeira. Nos Estados Unidos, Nova Iorque é bastante acessível, mas só na parte turística. Mesmo assim, é impressionante a quantidade de restaurantes e hotéis sem acessibilidade. Achei o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, melhor do que o Central Park nesse aspecto”, diz a blogueira.
Por outro lado, Toledo, cidade histórica espanhola, foi uma surpresa positiva, já que as construções modernas geralmente são mais bem-equipadas, em função das novas legislações, que exigem adequações. Durante a estada na cidade, Laura encontrou transporte público, museus e até igrejas muito antigas acessíveis a todos.
“Muitas pessoas me disseram, antes de eu ir, que, mesmo para quem não é cadeirante, esses locais são difíceis, mas acho que elas não sabiam que até o trem para chegar lá é acessível. Quando cheguei, pedi informações turísticas, e eles me deram um mapa com indicações de locais com menos e mais acessibilidade”, conta Laura.
Voando mais alto
Cumprindo bem a missão de ajudar viajantes com deficiência ou mobilidade reduzida – o Cadeira Voadora já é referência em território nacional e o único no país a prestar informações sobre turismo acessível de graça –, a autora do blog quer, agora, profissionalizá-lo para assessorar também empresas e escolas. Para isso, Laura, que é formada em letras, está cursando marketing digital e pretende fazer outros cursos na área de turismo no próximo semestre.
“Tenho que trabalhar com empresários e estudantes porque as oportunidades são imensas, e as necessidades também. Com a expectativa de vida só aumentando, cada vez mais vamos ter idosos com poder aquisitivo para viajar. Além deles, temos pessoas que quebram a perna, pais com carrinhos de bebês. Os cidadãos podem deixar de ser deficientes se as cidades forem adaptadas. A função do blog é esta: explicar para o cadeirante que o problema não é dele, é da sociedade”, conclui.