Saudável e sem crueldade

Veganismo

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Criado em 13 de Agosto de 2014 Comportamento

Fotos: Müller Miranda

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Adeptos do veganismo, além de não consumir alimentos de origem animal, deixam de usar roupas de seda, lã ou couro. Parece extremismo, mas eles afirmam que, além dos benefícios à saúde, essa é uma filosofia da consciência do sofrimento submetido aos animais  

Renata Nunes

NÃO COMER NENHUM tipo de carne, ovos, mel ou laticínios, além de não vestir roupas derivadas de animais, incluindo sapatos de couro. Essa é a vida de um vegano, uma filosofia que contempla há­bitos alimentares vegetarianos estritos. A explicação, segundo os adeptos, está na consciência do sofrimento submetido aos animais.

“Os animais sentem a morte se apro­ximando, sentem o cheiro de sangue, ouvem os gritos de seus semelhantes, e nada podem fazer. (...) não adianta tre­mer e berrar, nem lançar olhares tristes para seus algozes, serão mortos, e ponto final.” Esse foi o trecho do texto do es­critor Claudemir Ferreira que motivou o também escritor, músico, professor e em­presário do ramo de alimentos veganos Tiago Henrique Rezende Fonseca, 28, a parar de comer carne. “Depois disso, co­mecei a ler, ver vídeos e me informar. Des­cobri o veganismo em 2012 e me tornei adepto. Não senti mais qualquer desejo por alimentos vindos da exploração de um animal, pelo contrário, passei a enxer­gar toda a crueldade desse meio”, explica.

Parece difícil cortar da alimentação produtos como carnes e derivados do leite, mas veganos como a professora Poliane Martins, 27, afirmam o contrário. “Foi simples me tornar vegana, eu tinha certeza de que era certo deixar de utili­zar os animais para o que quer que fos­se. Carnes de soja ou glúten, iogurte de soja e leite de coco são alguns alimentos que consumo no lugar da carne”, explica a professora, que, assim como Tiago, não usa sapatos e roupas de couro, lã ou seda e evita produtos de empresas que reali­zam testes em animais.

Tiago Henrique resolveu tornar-se vegano após descobrir a exploração e a crueldade sofrida pelos animais

PARA AGRADAR AO PALADAR

Quem imagina que a alimentação de um vegano não pode ser saborosa en­gana-se. Hambúrguer, “pão sem queijo” (uma versão de pão de queijo), feijoada, pizza e canelone, sem nenhum produto de origem animal, é claro, são algumas das possíveis receitas veganas. “Existe al­ternativas gostosas e saudáveis para toda versão de alguma receita com ingrediente animal, basta pesquisar e se aventurar na cozinha”, salienta Tiago Henrique, que destaca também outras receitas como churrasco com proteína vegetal texturi­zada (PVT) de soja e de vegetais, lasanha com tofu e empadas, todos em sua versão estritamente vegetariana.

O culinarista e empresário Paulo Re­nato Rabelo, 34, é proprietário de dois estabelecimentos que comprovam isso: um trailer de lanches veganos, localizado na praça Mendes Júnior, ao lado da rua da Bahia, e do restaurante Espaço Veg, ambos na capital. Receitas tradicionais, diferentes e que agradam pelo cheiro, aspecto e sabor fazem parte do cardápio do espaço: feijão-tropeiro, canelone, lasa­nha, nhoque e bacalhoada adaptada são alguns dos pratos sem nenhum produto de origem animal do Espaço Veg, que há cerca de dois meses vem conquistando o belo-horizontino. Ele conta que utili­za carne de soja, proteína do trigo e de mandioca para compor as iguarias. “Tam­bém uso outros tipos de proteína vege­tal, como seitan (carne vegetal) e salami­nhos à base de batata-baroa, que vêm de outro Estado.”

“Há 10 anos, decidi buscar e comer­cializar alimentos desse tipo. Era difícil encontrar comida vegetariana em BH e, quando achava, só eram os mesmos pro­dutos, sempre na linha ‘natureba’. Resol­vi inovar. Queria levar o veganismo para outro patamar, que fosse atrativo a todos. Comecei vendendo para amigos, depois, prestava serviço de bufê e, aos poucos, fui ficando conhecido”, comemora o em­presário.

Adepto do vegetarianismo há 47 anos, o empresário Vittorio Medioli acredita que chegará o dia que comer carne será equiparado a um vício inútil e prejudicial

É essa dificuldade em encontrar ali­mentos veganos que faz Poliane carregar o próprio lanche na maioria dos lugares a que vai. “Em lanchonetes, não há ne­nhum alimento que posso comer. Por isso, quando me tornei vegana e esque­cia meu lanche em casa, era obrigada a comer salgadinhos chips.”

O médico especialista em nutrologia Lucas Mendes Penchel explica que o ve­ganismo é uma reeducação comporta­mental e alimentar que o mercado não costuma incentivar. “Há poucas lojas e estabelecimentos destinados a esse pú­blico. Mas acredito que, com o tempo, esse estilo de vida terá um pouco mais de atenção do mercado.”

OPINIÃO DE ESPECIALISTA

Segundo a nutricionista Silvana Portu­gal, não há malefícios no veganismo, mas é necessário ingerir vitamina B12, que não é encontrada em alimentos de origem vegetal. “Veganismo ou vegetarianismo não é uma dieta, é uma escolha alimentar à qual podemos nos adaptar muito bem, principalmente, com orientação nutri­cional”, explica. Por isso, Tiago afirma que ingere vitamina B12 em cápsulas vegetais diariamente. “Interessante que, mesmo nos alimentos de origem animal contendo B12, os níveis naturais da vi­tamina são escassos para o organismo, logo, a indústria onívora suplementa do­ses dessa vitamina nos animais para que forneçam a quantidade necessária ao ser humano. Ou seja, de um modo ou de ou­tro, todo mundo suplementa, o que muda é a forma de se obter a vitamina”, revela.

Silvana salienta ainda que o ideal é que veganos tenham uma orientação para a suplementação, porque podem fazê-la de forma inadequada e desfavorecer o or­ganismo com excesso ou doses menores que o necessário. “Exames bioquímicos de vitamina B12, ácido fólico e homocis­teína são necessários para saber a real ne­cessidade da suplementação de vitamina B12. Muitas vezes, são necessárias tam­bém outras vitaminas, como a B6, B9, B2, além de ferro, zinco e cobre, para equili­brar o corpo. É preciso que o profissional faça a suplementação de forma persona­lizada, pois variam muito a quantidade e a variedade de nutrientes que cada um precisa”, informa.

Entre os benefícios do veganismo, a es­pecialista destaca o controle do colesterol e da pressão arterial, além do baixo índice de diabetes e de osteoporose. “O vega­no ingere alimentos ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes que protegem o organismo e favorecem o sistema imune, o bem-estar e a disposição”, explica.

Foram justamente o bem-estar, a dis­posição e os antioxidantes provenientes da alimentação vegetariana que deram jovialidade ao empresário Vittorio Me­dioli, 63. “Depois de 47 anos de vege­tarianismo, vejo que estou mais preser­vado e tenho aspecto mais jovem que a maioria dos meus contemporâneos. Nos momentos mais críticos da minha vida, o vegetarianismo me socorreu e fez a dife­rença”, avalia.

Além de cortar da alimentação produtos como carne e derivados de leite, Poliane Martins não usa sapatos e roupas de couro, lã ou seda

Para Poliane, a carne não faz falta e, mesmo adepta ao veganismo, ela sempre é convidada para churrascos. “Se vou a um, como arroz, vinagrete e, quando pos­sível, farofa. Se vou a um barzinho, peço porção de batatas e azeitonas e acompa­nho o pessoal na bebida, porque o álcool é liberado ao vegano. Não sei dizer se já deixaram de me convidar por ser vegana, mas, se o fizeram, perderam uma excelen­te companhia”, brinca.

Quanto à necessidade de proteína, a nutricionista Silvana Portugal explica que existem dois tipos: a vegetal e a animal. “A proteína vegetal é encontrada na quinoa, na soja e nos seus derivados como (tofu, soja na vagem, tempeh, e no grão de soja cozido), amaranto e leguminosas (todos os tipos de feijão, lentilha, ervilha). Essas leguminosas combinadas com arroz são uma ótima fonte de proteínas para vega­nos e vegetarianos (três porções de legu­minosas para uma de ar roz)”, explica. 




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