Se economizar, não vai faltar

DESPERDÍCIO DE ÁGUA

0
Criado em 18 de Setembro de 2014 Meio Ambiente

A Powercoat mantém um lago de 1.5000.000 m³, formado essencialmente com água de chuvas, onde são criados peixes e patos/ Powercoat/Divulgação

A- A A+

Atualmente, 40% da população do planeta sofre com as consequências da falta de água; e você, o que está fazendo para preservar esse precioso recurso natural?

Renata Nunes

A GRAVE CRISE de falta de água que mora-dores dos municípios de São Paulo e Minas Gerais vêm enfrentando nos últimos meses é uma triste realidade já vivenciada por 2,7 bilhões, das 7 bilhões de pessoas que habi­tam o planeta, segundo um estudo publica­do na revista científica PloS One. Apesar de ser fundamental para a sobrevivência dos seres vivos, esse precioso recurso natural, considerado o mais abundante do mundo, está ficando cada vez mais escasso. Estima­tivas do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPRI), nos Estados Unidos, dão conta de que até 2050 4,8 bi­lhões da população mundial estará em si­tuação de estresse hídrico. Por isso, diante desse cenário extremamente pessimista, é preciso, desde já, adotar ações de uso consciente da água.

Para se ter uma ideia da quantidade do desperdício, ao lavar o carro com man­gueira, em apenas 30 minutos, uma pessoa pode consumir 560 litros de água, o equi­valente a meia caixa-d’água de mil litros. Outra atividade simples e bastante rotinei­ra, lavar a calçada, por exemplo, pode gas­tar 310 litros desse líquido precioso, caso deixemos a torneira aberta sem parar e de forma despreocupada. “Se pensarmos que Betim tem uma frota de 98 mil veículos, e que esses carros são lavados uma vez por semana, consumimos mais de 2,6 bilhões de litros de água potável por ano, o sufi­ciente para o consumo humano da cidade por quase dois meses”, explica a bióloga, mestre em meio ambiente e diretora ge­ral da Tecnologia em Controle Ambiental (TCA), Ana Paula Fonseca Gomes.

Mudanças de hábito também podem contribuir para minimizar os impactos nos serviços de abastecimento. Segundo a Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa), ações simples, como evi­tar “varrer” a rua com água, manter tornei­ras fechadas ao lavar vasilhas ou ao escovar os dentes e reutilizar, sempre que possível, a mesma água nas atividades domésticas, são algumas formas de se economizar. E quando a conta de água apresentar um va­lor acima do habitual, a Copasa aconselha verificar, antes de tudo, se há algum vaza­mento nas instalações hidráulicas. Uma torneira com um filete de 1 milímetro des­perdiça, em média, mais de 2 mil litros de água por dia ou 62,6 mil litros por mês.

Com essas pequenas ações, pode-se prolongar a vida útil dos rios e manan­ciais, garantindo o fornecimento de água necessária a toda a população. Tais medi­das também contribuem em outras áreas do saneamento.

O Complexo de Tratamento de Efluentes Líquidos construído na fábrica da Fiat, em Betim, permite o reuso de 99% da água utilizada pela montadora em sua produção - Fiat/Divulgação

BONS EXEMPLOS

A montadora Fiat Automóveis registra, desde 1994, queda dos indicadores de ge­ração de resíduos, consumo de água e de energia por veículo produzido. “Em 19 anos, para cada veículo produzido, o consumo de água teve queda de 68%. Já o consumo de energia elétrica caiu 55% e a redução da ge­ração de resíduos chegou a 51%”, informa o gerente de meio ambiente, saúde e se­gurança do trabalho da Fiat Chrysler para a América Latina, Cristiano Felix.

Nos últimos cinco anos, os investimen­tos da empresa em gestão ambiental ul­trapassaram R$ 40 milhões. Um exemplo é o Complexo de Tratamento de Efluentes Líquidos construído em 1998, na fábrica de Betim, e modernizado em 2010, que permite o reuso de 99% da água utiliza­da pela montadora em sua produção. “A água tratada é usada para resfriamento de equipamentos, nos processos de pintura, nas cabines hídricas para teste, enfim, em praticamente todas as etapas produtivas do carro que demandam a utilização de água”, revela Cristiano Felix.

Tanto investimento rendeu o título de “Montadora Mais Sustentável” na pesquisa “Empresas Mais Conscientes”, realizada pela revista “Consumidor Moderno”, em parceria com a Shopper Experience. O levantamento destaca as iniciativas para uso racional dos recursos naturais na planta de Betim, a re­dução de consumo de energia elétrica e de água por carro produzido e as campanhas para uso responsável do automóvel.

Outro bom exemplo de uso racional da água é o da Powercoat Tratamento de Superfícies. A empresa possui um Sistema de Gestão Ambiental certificado confor­me ISO 14001 e, entre as práticas ligadas à gestão de águas, mantém um lago de 1.5000.000 m³, formado essencialmente com água de chuvas, onde são criados peixes e patos. “Parte dessa água é utili­zada na irrigação dos jardins e na lavagem das ruas internas da empresa, evitando­-se, assim, o consumo de água potável para essas finalidades”, explica o coor­denador de sistema de qualidade e meio ambiente, Julio Mello.

A empresa também desenvolve um for­te trabalho de conscientização dos cola­boradores, como o “Programa Ação e Re­dução”, que estabelece metas de redução no consumo mensal de recursos naturais. Como incentivo para participação, para cada meta atendida são sorteados entre os colaboradores fins de semana em pou­sadas na região.

Apesar dos bons exemplos citados, se­gundo o chefe da Divisão de Desenvolvi­mento e Educação Ambiental da Prefeitu­ra de Betim, Leonardo Gomes Lara, ainda há poucas empresas e cidadãos conscien­tes de sua responsabilidade em relação aos recursos hídricos. “Mas nota-se uma preocupação crescente em todos os seto­res em função da escassez desse recurso tão fundamental à sobrevivência de todas as espécies de vida do planeta.”

CRISE HÍDRICA

Em Pará de Minas, no Centro-Oeste de Minas Gerais, a falta de água assola os moradores. Segundo a Copasa, o problema é o nível baixo dos manan­ciais que abastecem a cidade, causado pelo longo período de estiagem. Ainda conforme a companhia, entre janeiro e março de 2014, choveu cerca de 30% da média histórica para o período no município. Entretanto, há um impasse contratual entre a prefeitura da cidade e a Copasa. Em 2009, o contrato de concessão venceu e, para renová-lo, o município teria feito exigências que a Copasa se recusou a aceitar, tais como obras de melhorias e investimentos. Em virtude disso, a prefeitura abriu licitação para que uma nova empresa preste serviços na cidade. Enquanto o problema não é solucionado, 24 cami­nhões-pipa têm reforçado o abasteci­mento na cidade, segundo a Copasa. Além disso, a companhia afirma que busca realizar o abastecimento por meio de poços profundos. Já a prefei­tura diz que também mantém cami­nhões-pipa nas escolas do município, creches, postos de saúde e residências com pessoas acamadas como abasteci­mento complementar.




AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Mais. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Mais poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.