Se economizar, não vai faltar
DESPERDÍCIO DE ÁGUA
A Powercoat mantém um lago de 1.5000.000 m³, formado essencialmente com água de chuvas, onde são criados peixes e patos/ Powercoat/Divulgação
Atualmente, 40% da população do planeta sofre com as consequências da falta de água; e você, o que está fazendo para preservar esse precioso recurso natural?
Renata Nunes
A GRAVE CRISE de falta de água que mora-dores dos municípios de São Paulo e Minas Gerais vêm enfrentando nos últimos meses é uma triste realidade já vivenciada por 2,7 bilhões, das 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, segundo um estudo publicado na revista científica PloS One. Apesar de ser fundamental para a sobrevivência dos seres vivos, esse precioso recurso natural, considerado o mais abundante do mundo, está ficando cada vez mais escasso. Estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPRI), nos Estados Unidos, dão conta de que até 2050 4,8 bilhões da população mundial estará em situação de estresse hídrico. Por isso, diante desse cenário extremamente pessimista, é preciso, desde já, adotar ações de uso consciente da água.
Para se ter uma ideia da quantidade do desperdício, ao lavar o carro com mangueira, em apenas 30 minutos, uma pessoa pode consumir 560 litros de água, o equivalente a meia caixa-d’água de mil litros. Outra atividade simples e bastante rotineira, lavar a calçada, por exemplo, pode gastar 310 litros desse líquido precioso, caso deixemos a torneira aberta sem parar e de forma despreocupada. “Se pensarmos que Betim tem uma frota de 98 mil veículos, e que esses carros são lavados uma vez por semana, consumimos mais de 2,6 bilhões de litros de água potável por ano, o suficiente para o consumo humano da cidade por quase dois meses”, explica a bióloga, mestre em meio ambiente e diretora geral da Tecnologia em Controle Ambiental (TCA), Ana Paula Fonseca Gomes.
Mudanças de hábito também podem contribuir para minimizar os impactos nos serviços de abastecimento. Segundo a Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa), ações simples, como evitar “varrer” a rua com água, manter torneiras fechadas ao lavar vasilhas ou ao escovar os dentes e reutilizar, sempre que possível, a mesma água nas atividades domésticas, são algumas formas de se economizar. E quando a conta de água apresentar um valor acima do habitual, a Copasa aconselha verificar, antes de tudo, se há algum vazamento nas instalações hidráulicas. Uma torneira com um filete de 1 milímetro desperdiça, em média, mais de 2 mil litros de água por dia ou 62,6 mil litros por mês.
Com essas pequenas ações, pode-se prolongar a vida útil dos rios e mananciais, garantindo o fornecimento de água necessária a toda a população. Tais medidas também contribuem em outras áreas do saneamento.
O Complexo de Tratamento de Efluentes Líquidos construído na fábrica da Fiat, em Betim, permite o reuso de 99% da água utilizada pela montadora em sua produção - Fiat/Divulgação
BONS EXEMPLOS
A montadora Fiat Automóveis registra, desde 1994, queda dos indicadores de geração de resíduos, consumo de água e de energia por veículo produzido. “Em 19 anos, para cada veículo produzido, o consumo de água teve queda de 68%. Já o consumo de energia elétrica caiu 55% e a redução da geração de resíduos chegou a 51%”, informa o gerente de meio ambiente, saúde e segurança do trabalho da Fiat Chrysler para a América Latina, Cristiano Felix.
Nos últimos cinco anos, os investimentos da empresa em gestão ambiental ultrapassaram R$ 40 milhões. Um exemplo é o Complexo de Tratamento de Efluentes Líquidos construído em 1998, na fábrica de Betim, e modernizado em 2010, que permite o reuso de 99% da água utilizada pela montadora em sua produção. “A água tratada é usada para resfriamento de equipamentos, nos processos de pintura, nas cabines hídricas para teste, enfim, em praticamente todas as etapas produtivas do carro que demandam a utilização de água”, revela Cristiano Felix.
Tanto investimento rendeu o título de “Montadora Mais Sustentável” na pesquisa “Empresas Mais Conscientes”, realizada pela revista “Consumidor Moderno”, em parceria com a Shopper Experience. O levantamento destaca as iniciativas para uso racional dos recursos naturais na planta de Betim, a redução de consumo de energia elétrica e de água por carro produzido e as campanhas para uso responsável do automóvel.
Outro bom exemplo de uso racional da água é o da Powercoat Tratamento de Superfícies. A empresa possui um Sistema de Gestão Ambiental certificado conforme ISO 14001 e, entre as práticas ligadas à gestão de águas, mantém um lago de 1.5000.000 m³, formado essencialmente com água de chuvas, onde são criados peixes e patos. “Parte dessa água é utilizada na irrigação dos jardins e na lavagem das ruas internas da empresa, evitando-se, assim, o consumo de água potável para essas finalidades”, explica o coordenador de sistema de qualidade e meio ambiente, Julio Mello.
A empresa também desenvolve um forte trabalho de conscientização dos colaboradores, como o “Programa Ação e Redução”, que estabelece metas de redução no consumo mensal de recursos naturais. Como incentivo para participação, para cada meta atendida são sorteados entre os colaboradores fins de semana em pousadas na região.
Apesar dos bons exemplos citados, segundo o chefe da Divisão de Desenvolvimento e Educação Ambiental da Prefeitura de Betim, Leonardo Gomes Lara, ainda há poucas empresas e cidadãos conscientes de sua responsabilidade em relação aos recursos hídricos. “Mas nota-se uma preocupação crescente em todos os setores em função da escassez desse recurso tão fundamental à sobrevivência de todas as espécies de vida do planeta.”
CRISE HÍDRICA
Em Pará de Minas, no Centro-Oeste de Minas Gerais, a falta de água assola os moradores. Segundo a Copasa, o problema é o nível baixo dos mananciais que abastecem a cidade, causado pelo longo período de estiagem. Ainda conforme a companhia, entre janeiro e março de 2014, choveu cerca de 30% da média histórica para o período no município. Entretanto, há um impasse contratual entre a prefeitura da cidade e a Copasa. Em 2009, o contrato de concessão venceu e, para renová-lo, o município teria feito exigências que a Copasa se recusou a aceitar, tais como obras de melhorias e investimentos. Em virtude disso, a prefeitura abriu licitação para que uma nova empresa preste serviços na cidade. Enquanto o problema não é solucionado, 24 caminhões-pipa têm reforçado o abastecimento na cidade, segundo a Copasa. Além disso, a companhia afirma que busca realizar o abastecimento por meio de poços profundos. Já a prefeitura diz que também mantém caminhões-pipa nas escolas do município, creches, postos de saúde e residências com pessoas acamadas como abastecimento complementar.