“Se existisse uma fórmula para o sucesso, o trabalho seria um de seus ingredientes”
Se alguém perguntar pelo Pé de Porco, muitas pessoas, provavelmente, não saberão dizer quem é. Apenas quem acompanhou ou quem conhece a história de José de Oliveira Barboza lembra do apelido, recebido quando ele ainda era jovem. Inusitadamente, foi o mesmo apelido que o ajudou a tornar-se o bombeiro hidráulico mais conhecido de sua época. Hoje, aos 61 anos, o presidente da Câmara dos Dirigentes e Lojistas (CDL) de Betim, conhecido como Zé Barboza, conta como superou a timidez e revela como enfrenta, com garra, os desafios da vida
REVISTA MAIS - A primeira profissão do senhor foi no ramo de hidráulica. Conte-nos um pouco dessa época.
José Barboza - Sou o mais velho de dez irmãos. Meu pai, Osvaldo de Oliveira, era pedreiro. Aos sete anos, eu já o acompanhava no trabalho. Aos 14, contudo, recebi o melhor convite de trabalho de toda a minha vida: de ser ajudante de bombeiro hidráulico. Agarrei a oportunidade com unhas e dentes e trabalhei muito, com a maior satisfação, para poder aprender. Fui ajudante durante seis anos. Alguns anos depois, prestando serviço por conta própria, eu tinha uma companheira especial: a minha bicicleta. Com ela, eu ia pelos quatro cantos da cidade. O trabalho era duro já que, na época, não havia tubo em PVC. O esgoto era de ferro fundido e os tubos eram galvanizados, o que tornava o serviço de bombeiro hidráulico diferente do que é hoje.
E para o senhor ser diferente significa ser melhor?
Acho que todas as atividades práticas, com o passar do tempo, ficaram mais fáceis. Mesmo com as dificuldades, tenho orgulho de tudo que passei, pois tenho histórias para contar. Carrego uma bagagem. Eu aprendi muito com tudo o que vivi. Nos dias de hoje, grande parte das pessoas pegam as coisas prontas ou quase prontas. Muitas, não têm esforço algum e, por isso, não aprendem com aquilo que vivenciam.
O senhor possui uma loja de peças hidráulicas. Como surgiu a ideia de abri-la?
A partir da década de 70, a técnica da hidráulica foi melhorando em todo o país. E, em Betim, não tínhamos todo o material necessário para trabalhar e para fazer reposições de peças. Pensando nesse nicho do mercado, abri uma loja, no bairro Decamão, para suprir a demanda dessas peças de reparo. A loja deu tão certo que está aí até hoje. Foi nessa mesma época que, durante uma partida de campeonato de futebol, recebi o apelido de “Pé de Porco”. Não gostei muito. Acho que, por isso, pegou tanto. Como todos sabem, quando uma pessoa não aprova o apelido, aí que ele pega mesmo. Aos poucos, todos da região me conheciam como Pé de Porco. Mas, como tudo na vida tem um lado bom, o fato me ajudou a divulgar a minha loja. Ela ficou na boca do povo. Lembro de comentários como: “ah, esse serviço hidráulico é feito na Pé de Porco” ou então “esse produto você, com certeza, encontra na loja do Pé de Porco”. Com o tempo, eu nem queria mais perder o apelido. Ele se tornou minha marca registrada.
Como a CDL-Betim entrou na vida do senhor?
Sempre fui muito bom profissional. Dedicava-me muito e buscava me aprimorar, fazendo cursos e participando de palestras. Sempre queria saber das novidades relacionadas à hidráulica. Nossa loja e nosso serviço no ramo se tornou referência no município. Foi eu quem trouxe a tecnologia do aquecer solar para Betim, instalando o primeiro aparelho solar aqui. Além disso, fui secretário do Desenvolvimento Econômico, no primeiro ano do governo Carlaile Pedrosa. Por causa dessas coisas, fiquei muito conhecido na cidade. Isso motivou um amigo a me convidar para fazer parte da diretoria da CDL-Betim, em 1992. Além de ser muito tímido, eu achava que não daria conta. Por isso, inicialmente, recusei o convite. Mas, com o tempo, acabei indo, afinal, sempre gostei de enfrentar desafios. Na época, a entidade era um escritório pequeno, localizado na avenida Governador Valadares. Alguns diretores faziam até vaquinha para pagar a única funcionária que havia. Logo, tive a ideia de construir a sede da CDL. Os diretores quase me bateram (brinca). Mas mesmo com as opiniões contrárias, eu insisti na ideia e, junto com os demais diretores, finalizamos o projeto. Isso fez com que fosse indicado à presidência da entidade. Inicialmente, não quis aceitar. Foi aí que, na época, o então presidente da CDL me desafiou dizendo: “é melhor você falar logo que não dá conta do cargo, para indicarmos outra pessoa”. Quando ele disse isso, não pensei duas vezes, aceitei o cargo.
Por que ninguém mais conhece o senhor pelo apelido?
Essa é uma parte engraçada da minha história. As pessoas começaram a ficar com receio de me chamar pelo apelido, depois que me tornei presidente da CDL. Elas ligavam para a loja solicitando algum tipo de serviço na área de hidráulica e diziam: “olha, me passaram um apelido aqui, mas não sei se posso falar”. Era engraçado. Isso fez com que, com o passar do tempo, o Pé de Porco acabasse ficando para trás.
O senhor disse que sempre foi muito tímido. O que fez para superar a timidez?
Apesar de ter aprendido a conviver com a ela, ainda me considero uma pessoa muito tímida. Comecei a superar isso há alguns anos, em um dia que eu estava passeando por um shopping. Lembro que no local vi um homem vendendo um curso sobre como falar em público. Pensei comigo: “é isso que eu preciso”. Hesitei em falar com o rapaz, simplesmente por que tinha vergonha de abordá-lo. Fiquei o dia todo remoendo aquilo, próximo ao homem, mas sem ter coragem de perguntá-lo. Até que, quando ele estava se preparando para ir embora, tomei coragem e pensei: “é agora, ou nunca”. Matriculei-me no curso, em Belo Horizonte. Quando eu estava na terceira aula, percebi que meus amigos de Betim também precisavam participar. Propus ao professor do curso de montar uma sala de aula em Betim. Todos meus amigos também se capacitaram. O curso foi muito bom para minha carreira profissional e para a minha vida pessoal.
Qual é seu hobbie?
Há muitas coisas que gosto de fazer, como estar com os amigos, idealizando coisas boas. Mas, a maior delas é pescar. Tenho uma turma que há 20 anos sai para pescaria. É muito bom. Nós relaxamos, nos distraímos e nos divertimos, além, é claro, de pegarmos muitos peixes. O senhor pesca mesmo muitos peixes ou essa é mais uma “história de pescador”? Confesso que nunca pesquei um peixe muito grande. Mas, em relação à quantidade, já peguei uma quantidade enorme. Ainda mais na época em que haviam espécies em abundância. Hoje em dia as águas estão muito diferentes. Vou te dar o exemplo do Rio Betim. Você acredita que eu já pesquei e já nadei muito nele na época em que ele era limpo?
O senhor acredita que haja uma fórmula para o sucesso?
Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Não existe uma fórmula para o sucesso, mas, se existisse trabalhar seria um de seus ingredientes. É importante, contudo, ter foco. Quando você se dedica ao seu trabalho, é humilde para aprender com as pessoas que conhecem mais que você e não passa por cima de ninguém para atingir seus objetivos, você, com certeza, terá sucesso. Não existe uma fórmula. É tudo isso que falei. Agarrar as oportunidades com ética, determinação e responsabilidade. Se você fizer tudo isso, com certeza será reconhecido. Dizem que coisas boas atraem coisas boas. Eu acredito nisso.