Sem rebeldia
Médico aborda em vídeos, no canal Jovem Antenado, assuntos relacionados à adolescência, esclarecendo dúvidas e dando dicas para pais, profissionais e, sobretudo, para a geração teen
Sara Lira
A adolescência costuma ser uma fase de desafios, tanto para os pais quanto para os próprios adolescentes. As mudanças hormonais, as novas vivências e o início da transição para uma vida independente muitas vezes tornam a convivência complicada. Nessas horas, orientação nunca é demais. E é exatamente isso que o pediatra com titulação em adolescência – profissional chamado de hebiatra –, Paulo César Pinho faz por meio do projeto Jovem Antenado.
Tudo começou com o site que ele mantém com notícias sobre a adolescência, através do qual ele esclarecia dúvidas. Pouco tempo depois, ele teve a ideia de fazer algo mais interativo e moderno. Assim, no fim de 2015, o especialista começou a gravar vídeos com temas variados por meio do canal com o mesmo nome no Youtube. “É um canal educativo, que leva informações tanto para os adolescentes, como para pais e leigos. Além disso, ele também fornece material de pesquisa para meus alunos e pessoas que participam de congressos, com interesse na atenção biopsicossocial dos adolescentes”, explica.
Os vídeos tratam de assuntos como o uso da pílula do dia seguinte, vacina do HPV, ideologia de gênero, maioridade penal, culto ao corpo, entre outros temas sobre os quais os jovens têm curiosidade. “Para chamar a atenção, fizemos vídeos que duram no máximo quatro minutos, pois eles não querem nada que tome muito tempo deles; gostam da informação objetiva”, diz.
O projeto oferece ainda palestras do especialista sobre temas acerca da adolescência em escolas e eventos. O retorno do trabalho de Paulo César Pinho é positivo, segundo ele. Por meio de e-mails, mensagens e até abordagens durante congressos, ele escuta opiniões e comentários sobre os temas abordados. “Com o mundo globalizado, você encontra de tudo na internet, mas penso que faltam informações corretas. Há muitos canais de humor, moda e outros assuntos, mas de científico mesmo não se vê muita coisa”, afirma.
Temporariamente, o especialista fez uma pausa na publicação de vídeos, mas já planeja o retorno à vida online com novos projetos no próximo ano. Alguns deles são incluir cenas humorísticas para introduzir o tema a ser tratado no vídeo, além de novos assuntos.
Um dos conteúdos que estão por vir será como lidar com o luto, ideia que surgiu depois que doutor Pinho conversou com uma paciente que havia sofrido uma perda recente. Durante a consulta, ele lhe explicou as fases do luto e como ela poderia trabalhar a recuperação desse tipo de trauma. “O interessante é que, após uma semana, a moça me ligou dizendo que, com a medicação e com o que eu havia lhe dito, ela estava se sentindo melhor e sugeriu que eu disponibilizasse todas aquelas orientações no canal, para ajudar outras pessoas”, relata.
Fase delicada
Considerando-se a quantidade de estímulos que os adolescentes recebem hoje em dia, muitas questões preocupam o médico. O início cada vez mais precoce da vida sexual é uma delas. Para doutor Pinho, é sempre importante reforçar as informações sobre sexo seguro e o risco de transmissão de doenças e gravidez. “Muitas vezes, a explicação sobre uma saúde sexual segura é postergada. Mas, se o jovem tem a informação suficiente, ele irá cuidar mais do próprio corpo. Essa educação vai formar hábitos, ações e atitudes para que os adolescentes exerçam uma sexualidade sadia”, destaca.
Temas relacionados ao uso de substâncias químicas como álcool e drogas também deverão ser debatidos no retorno dos vídeos do médico, bem como o uso saudável da internet, que tem provocado verdadeiros “viciados digitais” no século atual. “Outra questão a ser discutida será aquela tendência de grupo, da mudança de comportamento do jovem quando ele se junta a outros. De repente, isso pode correr para o lado do comportamento negativo e o adolescente se envolver com violência e com o uso de entorpecentes”, alerta.
Relacionamento
Paulo é médico há 45 anos, sendo que, durante 15, atuou como pediatra, e, no restante de sua trajetória profissional, como hebiatra. Ele também é presidente da Academia Mineira de Pediatria e professor da Faculdade de Ciências Médicas. Tanta experiência permite ao especialista dar um principal conselho a pais de adolescentes: conversar e dialogar são o melhor caminho para enfrentar essa fase. “Por isso, eu estimulo o diálogo e a não exercerem o autoritarismo, mas a autoridade, escutando o filho e tornando a conversa mais amena”, orienta.