“ Sou um político a serviço de Betim”

ENTREVISTA l IVAIR NOGUEIRA

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Criado em 13 de Novembro de 2014 Conversa Refinada

Fotos: Hilário José

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Eleito para seu sexto mandato consecutivo como deputado estadual, há quase 30 anos ele é um dos políticos mais influentes da região. Ex-prefeito de Betim e único representante da cidade na Assembleia Legislativa neste pleito, Ivair Nogueira do Pinho, 64, fala da sua trajetória política, faz uma avaliação do atual governo e diz não descartar a possibilidade de disputar novamente a prefeitura

Leonardo Dias

REVISTA MAIS – Como começou sua his­tória política?

IVAIR NOGUEIRA - Sou betinense, nascido e criado aqui, e continuo morador da cida­de, apesar de algumas pessoas dizerem que não vivo mais em Betim. Minha história na política começou com movimentos estu­dantis na década de 1960, mas o político lá em casa era meu irmão, Célio Nogueira. Em 1976, ele concorreu à prefeitura, contra o professor Osvaldo Franco, e eu fui seu coordenador de campanha. Anos depois, fui convidado pelo então prefeito Newton Amaral para ser secretário de Obras de Be­tim, cargo que ocupei mesmo após sua mor­te (em 1985) e no qual aprendi muito. Meu nome chegou a ser ventilado, em 1988, para concorrer à prefeitura, mas acabei saindo como vice do Osvaldo Franco, que venceu a disputa naquele ano. Com a trágica morte dele, que era um dos meus grandes mento­res políticos, acabei assumindo a Prefeitu­ra de Betim, em 1991, e governei a cidade durante um ano e 11 meses, consolidando definitivamente minha carreira política.

Como foi assumir o cargo naquelas con­dições e como o senhor destaca seu tra­balho à frente da Prefeitura de Betim?

Apesar do pouco tempo, pude apro­veitar para colocar em prática alguns pro­jetos, mesmo com a pequena receita da prefeitura na época. Construímos quase 30 escolas, mais de 100 km de asfalto, co­meçamos a avenida Juiz Marco Túlio Isa­ac, desapropriamos o terreno onde hoje fica o parque de exposições, entre outras importantes conquistas. Orgulho-me mui­to do meu trabalho à frente da Prefeitura de Betim e de ter deixado um grande le­gado para meus sucessores. Minha única frustração foi não ter conseguido a cons­trução de um teatro em Betim, mesmo tendo elaborado o projeto na época.

E como foi sua transição para o cargo de deputado estadual?

Em 1994, fui convidado para concorrer a deputado, e Betim, até então, nunca ti­nha tido um representante na Assembleia Legislativa. Na época, foquei minha cam­panha em Betim, Igarapé (São Joaquim de Bicas ainda não era emancipada), Conta­gem e Belo Horizonte, e fui o quinto mais votado, com 34 mil votos, sendo 25 mil em Betim. Agora, fui reeleito para meu sexto mandato. Infelizmente, fui o único candi­dato eleito, pois acho que poderíamos ter feito quatro ou cinco deputados estaduais e, no mínimo, dois federais na cidade. Fi­quei feliz pela minha vitória, mas triste pela perda dos companheiros. Por exemplo, a cidade de Montes Claros tem mais ou me­nos o mesmo número de eleitores de Be­tim e fez cinco deputados estaduais.

A não eleição de algum dos candidatos de Betim o surpreendeu? Contava com a vitória de outros além do senhor?

Ninguém tem bola de cristal para saber quem será eleito, depende da vontade do povo. Mas confesso que esperava a elei­ção da maioria dos candidatos da cidade. Acho que o resultado é um recado das urnas de que muita coisa precisa ser mu­dada na política do município. Estamos vivendo um momento de falta de credi­bilidade da classe política, com tantos escândalos acontecendo. As pessoas têm mania de generalizar, mas tenho orgulho de andar de cabeça erguida pelo meu trabalho no Estado. Sou nascido e criado aqui, tenho carinho especial pela cidade, mas todos sabem que só um município não elege um deputado. Apesar disso, confesso que esperava uma votação mais expressiva em Betim.

Ficou frustrado com seu resultado em Betim, já que teve 8.127 votos na ci­dade?

Não fiquei frustrado, acho que o povo, de um modo geral, mandou um recado para a classe política de Betim. Não fui eu que tive diminuição na votação, foi o maior número de candidatos e o trabalho de campanha de cada um que geraram essa fragmentação dos votos. Sempre fui vítima de campanhas negativistas e acho até que é certo preconceito, por acha­rem que serei sempre bem votado, ou que pretendo ser prefeito de Betim. Mas eu consegui dar a volta por cima, tive 53 mil votos em todo o Estado e me orgulho muito de cada um deles. É o equivalen­te a um estádio lotado, é muita coisa. Só tenho a agradecer ao povo pela oportuni­dade dada.

Tem pretensão de concorrer novamente à Prefeitura de Betim?

Trabalho com a seguinte filosofia: ninguém é dono do seu destino. Estou sempre sendo procurado por pessoas comentando isso, dizendo que agora é a minha vez, mas minha preocupação maior é com o fortalecimento de um grupo político que lute pelos ideais da cidade. Fico lisonjeado e honrado quan­do ainda lembram o meu nome, é sinal de que meu trabalho é reconhecido e que eu tenho o aval da população para colocar meu nome em disputa. Mas digo a você que nesse momento devemos dar as mãos e ajudar o município da melhor forma possível. Posso dizer que nunca vou fugir à responsabilidade, se meu nome for lembrado e chamado. Da mi­nha parte, nunca vou colocar meu nome como candidato a nada, sou um soldado a serviço de Betim. Se amanhã entende­rem que meu nome pode voltar à prefei­tura, contem sempre comigo.

Depois de anos polarizada entre duas vias, o senhor vê a possibilidade do surgimento de uma terceira opção em Betim?

Claro que vejo. Betim tem vários bons nomes. Não podemos confundir eleição para deputado com eleição para prefeito. Por exemplo, em 1994, fui can­didato a deputado e tive 25 mil votos em Betim, o Jésus (Lima, ex-prefeito de Betim) teve 5 mil votos. Na eleição para prefeito, em 1996, não conseguimos reunir forças e acabamos saindo candi­datos Carlaile (Pedrosa), Jésus e eu. Na divisão, o Jésus ganhou. Não é porque a pessoa não foi bem votada para depu­tado que não possa ganhar para prefei­to. A cidade clama por uma terceira via, vejo esse sentimento da população. É preciso renovar. Quando falo em reno­vação, não é só em idade, mas é óbvio que é importante darmos chances aos que estão começando. Precisamos de renovação de ideias, de planejamento, de visão. Estamos carentes de bons ges­tores públicos. Precisamos combater e acabar com essa impunidade e colocar na cadeia aqueles que vêm roubando a administração pública.

Como avalia o atual mandato do prefeito Carlaile Pedrosa?

Sou amigo pessoal do Carlaile, de lon­ga data, tenho uma amizade fraterna com ele. Apesar de amigos, já estivemos em la­dos opostos, mas nem por isso perdemos a amizade. Ele é uma grande figura huma­na, uma pessoa boa, mas que está passan­do por momentos difíceis na sua adminis­tração, por causa de brigas internas, que têm prejudicado o município. Em minha opinião, acho que ele deveria fazer um choque de gestão, buscar alternativas de mudar o atual cenário. O momento não é promissor, ele tem passado por dificulda­des, mas, por sua experiência, capacidade e espírito de liderança, ele pode mudar os rumos da administração e buscar no­vos caminhos. Ele tem buscado melhorias para a cidade e sabe que pode sempre contar com meu apoio. Tenho liberdade para falar com ele e, da mesma forma que elogio, também critico, se for preciso.

Em janeiro, será eleita a nova direção da Assembleia Legislativa, da qual o senhor é atualmente o primeiro vice-presidente. Vai tentar a presidência desta vez?

Nosso mandato lá se encerra no dia 31 de janeiro, e, normalmente, a tradição é que o partido com mais deputados e o do governador eleito faça o presidente da Casa. É uma tradição, não quer dizer que será assim. Meu nome é lembrado para a disputa como possível presidente, mas isso ainda está sendo discutido. Existem muitos nomes bons que podem assumir o posto, mas, se meu nome puder somar, estou à disposição.

Fale um pouco sobre sua história no De­camão. Qual a importância do bairro em sua trajetória?

Morei 30 anos da minha vida lá, até me casar. É um lugar que faz parte da minha história. Minha família morou lá toda a vida, meus pais e irmãos têm história lá. Tenho lembranças boas dessa época, quando ía­mos para as noites dançantes e voltávamos a pé para lá, coisa impossível de se fazer hoje devido à violência. Na época, não imaginá­vamos que seria construída aquela avenida de ligação, e é um orgulho ver como aquela região progrediu com o passar dos anos.

Como foi o início da sua carreira profis­sional? É verdade que o senhor teve difi­culdades para custear seus estudos em engenharia civil?

Meu primeiro emprego foi na Ikera e, inclusive, tenho meu crachá de lá até hoje. Guardo com muito carinho as lem­branças dessa época. Depois disso, fui tra­balhar no Cartório João Lara, onde fiquei durante cerca de cinco anos. Em 1970, eu e meu irmão montamos uma imobiliária e começamos a trabalhar com compra, ven­da, administração e aluguéis de imóveis. Depois, começamos a mexer também com construção civil. Fui muito feliz nessa profissão, que me ensinou a administrar não só a empresa, mas minha vida pesso­al. Com o dinheiro da imobiliária, pude pagar meus estudos, quando me formei, em 1976, na Escola de Engenharia Ken­nedy. Após a conclusão, eu ainda era sol­teiro. Decidi estudar direito, em Divinó­polis, onde também me formei. Trabalhei muito para custear meus estudos, tinha pouco tempo para o lazer e me dedicava bastante. Minha mãe sempre ensinou aos filhos a importância de trabalhar para so­breviver e sempre fomos muito dedicados lá em casa, graças a essa criação.

Como conheceu sua mulher, Leia No­gueira? Ela foi sua funcionária quando mais jovem?

A Leia veio para Betim para estudar e morar com uma irmã que vivia aqui. Pouco depois, ela foi trabalhar comigo na imobiliária e foi assim que nos conhece­mos e começamos a nos relacionar. Hoje, graças a Deus, tenho uma família maravi­lhosa e tudo que sou eu devo a ela: meus filhos e minha família. Ser mulher de po­lítico não é fácil, mas ela tem esse sangue político nas veias e sempre me apoiou. Só tenho a agradecê-la.

É verdade que um dos seus filhos quase morreu afogado quando criança?

É verdade, sim, foi em 1990. Nessa época, eu era vice-prefeito e morava no bairro Guarujá. Havíamos chegado de viagem e estávamos fazendo uma festa na área da piscina, quando todos entra­ram para dentro de casa e esquecemos o Vinícius (Nogueira, filho caçula) do lado de fora. Ele estava com uma roupa de frio, e um sobrinho, de repente, comen­tou: “O que aquele boneco está fazendo na piscina?”. Fomos ver, e era o Vinícius, que estava se afogando. Corremos com ele para a Famub (Fundação de Assistên­cia Médica de Urgência de Betim), onde ele recebeu o primeiro atendimento. De lá, fomos para um hospital no Barreiro, em Belo Horizonte. O médico falou que a situação dele era complicada, que fi­cou mais de cinco minutos submerso e que se ele escapasse sofreria graves sequelas. Mas, graças a Deus, tive mais essa bênção na minha vida. Ele conse­guiu escapar sem sequelas e, hoje, está aí, um rapaz bonito, saudável, casado. Só tenho a agradecer a Deus por ele ter escapado.

Já pensou em um herdeiro político?

Quero avisar que ainda não estou pa­rando. Não está me aposentando não, né? (risos). Brincadeiras à parte, é claro que chega um momento que você tem de dar espaço para outros, mas política não se pode impor nada a ninguém. Meu filho mais velho (Vitor Nogueira) foi candida­to a vereador e bem votado, assim como minha mulher, no passado. Não forço ninguém a nada, mas, se for da vontade deles, é claro que vou apoiar. Não penso em um herdeiro necessariamente como alguém da família, mas, sim, em alguém que possa contribuir com o povo, em quem eu acredite que possa dar prosse­guimento ao meu trabalho. Sendo da mi­nha família ou não, terei o maior prazer de apoiar no futuro alguém que esteja dentro desses ideais.

O que pretende fazer depois que deixar a política?

Acabei de ser eleito para mais quatro anos, mas o amanhã não nos pertence. Enquanto eu puder contribuir com o povo, não penso em me aposentar. Essa é uma decisão que não cabe só a mim, existe um grupo de pessoas envolvidas. Já poderia ter parado, estar cuidando da minha vida, passeando, viajando, mas a política é como uma cachaça, e eu sinto muito prazer em fazer política. Acho que já fiz muita coisa pela cida­de e vou continuar fazendo enquanto contarem comigo. Qualquer discussão sobre isso daqui para frente, eu estou aberto a conversas. Se me disserem um dia: “Ivair, acho que é hora de dar lugar a outros”, vamos sentar e discutir so­bre isso democraticamente. Enquanto precisarem de mim, estarei sempre à disposição.

O que costuma fazer nos momentos de folga?

Meu horário de lazer é muito curto, mas, sempre que posso, gosto de ficar com minha família. Tenho um neto, ago­ra, Lorenzo, e espero ter outros em bre­ve, então, procuro dedicar meu tempo livre à família.

Pratica esporte?

Já gostei de futebol, mas, em razão de uma cirurgia que fiz nos olhos, parei. Deixo só para os filhos agora. Gosto de fazer uma caminhada de vez em quando e fazer academia também.

Torce para que time?

Cruzeiro.

Satisfeito com seu time, mesmo com a pressão do Atlético nos últimos anos?

Muito satisfeito (risos). Indepen­dentemente, acho que temos de torcer pelos times mineiros, não só o Atlético, mas também América, Villa Nova e todos os outros. Futebol é igual política, você pode ter preferência, mas não pode ser contra os outros. Outro dia estava ven­do o jogo Atlético e Corinthians, pela Copa do Brasil, e foi uma das melhores partidas que vi nos últimos tempos. Torço pelos times mineiros, mas prefi­ro o Cruzeiro, que vai ser campeão de novo. Que me desculpem os atleticanos (risos).

Tem algum sonho? Por exemplo, algum lugar que queira conhecer?

Nós podemos viajar e aprender mui­to, e eu sou uma pessoa que gosta de aprender cada dia mais. Mas meu verda­deiro sonho é construir em Betim uma política construtiva, onde podemos jun­tar ideais, agregar lideranças em busca de uma cidade melhor. Meu sonho é ver entidades de classe, prefeito, vice, vereadores, deputados, imprensa, todos juntos para fazer de Betim uma cidade referência. Sem dúvida, este é meu grande sonho a ser realizado. 




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