Superação sobre cavalos
Hipoterapia
Método de tratamento tem o auxílio desses animais para desenvolver habilidades em pacientes especiais
Pollyanna Lima
A AMIZADE ENTRE HUMANOS E ANIMAIS pode ser muito mais benéfica do que se imagina. Além de serem ótimas companhias, eles podem ajudar no desenvolvimento motor e psicológico de crianças e adultos. Quem comprova isso é a fisioterapeuta e professora Patrícia Lemos, que há 14 anos emprega a hipoterapia – método terapêutico que utiliza o cavalo no desenvolvimento do sistema psicossocial de pessoas com necessidades especiais – no tratamento de crianças em Betim.
Patrícia explica que o princípio básico da utilização desse recurso terapêutico é que, ao andar, o animal produz um movimento tridimensional em seu dorso, gerando movimento semelhante ao da marcha humana na pelve do praticante, isto é, produz movimentos similares aos dos humanos. “Esse movimento é capaz de promover reajustes posturais que melhoram o controle e a estabilidade do tronco. Essa técnica utiliza o cavalo como instrumento cinesioterápico (isto é, que estimula os movimentos do corpo) e integra várias áreas da saúde, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia, além da educação e equitação”, acrescenta.
Segundo a especialista, quando ela iniciou o trabalho de hipoterapia em Betim, em 2000, as pessoas não conheciam o método de reabilitação. “Tive que apresentar aos pais dos pacientes para ganhar credibilidade e desenvolver a técnica nos atendimentos de reabilitação. Hoje, atendemos 12 alunos por semana e temos uma grande fila de espera”, diz a professora.
Gabriel Pereira Nunes Magalhães, 12, é um dos alunos do projeto. Ele começou o tratamento há cinco anos e, de lá para cá, vem superando os limites decorrentes da paralisia cerebral. Natália Magalhães, mãe do vencedor, conta que tem muito a comemorar desde que o filho começou o tratamento. “Gabriel teve uma melhora significativa no seu equilíbrio, postura, socialização e também com relação ao medo. Ele tinha pânico das coisas e hoje faz de tudo um pouco, sem aquele temor de antes”, garante Natália.
Bryan Rafael Abrantes de Melo Souza, 5, também adora a hipoterapia e faz toda a equipe se divertir durante as aulas, conta a mãe, Polliana Abrantes. “Desde que foi diagnosticado, aos 3 meses, portador de paralisia cerebral, minha família e eu fazemos de tudo que está ao nosso alcance para estimular o desenvolvimento do meu filho e, quando nos foram apresentados os benefícios da hipoterapia, não hesitamos em proporcionar mais uma oportunidade para sua reabilitação”, afirma Polliana. “Quando ele começou as aulas, em 2011, ainda não andava e já no fim de 2012 começou a dar os primeiros passos sem se apoiar. Hoje, ele caminha sozinho em qualquer lugar. Além disso, Bryan obteve melhora na concentração, equilíbrio, abertura de pernas, socialização, aprendizado, memorização, entre outros aspectos”, garante a mãe.
O pequeno Anthony Cássio da Paixão Oliveira, 6, também conquistou um grande progresso desde que iniciou a hipoterapia. Cassiana da Paixão, mãe de Anthony, conta que o maior avanço alcançado pelo filho foi aprender a andar. “Ele foi convidado a entrar no projeto pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), onde ele já fazia fisioterapia para tratar a mielomeningocele (efeito congênito em que a espinha dorsal e o canal espinhal não se fecham antes do nascimento). Com seis meses de tratamento, começou a ter equilíbrio e a se levantar sozinho. Aos três anos, ele já estava andando”, comemora a mãe.
O caçula da turma de alunos, Anderson David Marques Diniz, 2, também demonstrou que a hipoterapia é mesmo muito eficaz. Ele ingressou na prática há oito meses, como complemento ao tratamento da síndrome de Down, e com apenas três meses de aulas começou a andar. Edilamar Gorett Diniz, mãe de Anderson, conta que está muito satisfeita com o trabalho desempenhado pela equipe da hipoterapia. “Só tenho elogios para o trabalho desses profissionais que fortalecem as crianças especiais, mostrando que elas podem superar seus limites e viver uma vida plena e feliz, como todos nós. Meu filho desenvolveu não só a coordenação motora, como também a atenção e a socialização. Estou muito feliz com os resultados que ele tem apresentado em tão pouco tempo”, afirma com alegria.
O PROJETO
O “Hipoterapia Multidisciplinar – Um Atendimento Especial Para Crianças Especiais” é um programa de extensão da PUC Minas em parceria com a Associação Despertar Vidas e a Prefeitura de Betim. A fisioterapeuta Engridy Andrade, ex-aluna da PUC, é a presidente da associação, responsável por fornecer os cavalos, os materiais de montaria, os equipamentos de segurança, os materiais pedagógicos e o espaço físico: o Parque de Exposições David Gonçalves Lara, cedido por meio de um convênio firmado entre associação e prefeitura.
“Desde 2009, quando me formei em fisioterapia, trabalho com a hipoterapia. O Centro de Equoterapia Despertar prestava somente atendimento particular e, entre 2010 e 2012, fechamos uma parceria com a PUC para prestar atendimento gratuito às crianças da Apae. Em fevereiro deste ano, transformei a clínica particular em Associação Despertar Vidas e reativamos o convênio com o projeto de extensão da PUC”, explica a presidente da associação.
Quando começou as aulas, em 2011, Bryan Souza, 5, ainda não andava e já no fim de 2012 começou a dar os primeiros passos sem se apoiar
A professora e fisioterapeuta Patrícia Lemos foi quem iniciou o projeto em Betim. “Com o tempo, contei com a participação de uma terapeuta ocupacional e mais um fisioterapeuta. Hoje, temos muitos ex-alunos do curso de fisioterapia da PUC Minas em Betim trabalhando com hipoterapia e, graças a isso, estamos conseguindo difundir o tratamento por toda a região”, afirma.
Ela explica que não há limite de idade para que uma criança receba os atendimentos de hipoterapia, desde que ele seja indicado pelo médico da criança (no caso, o neuropediatra e/ou o ortopedista) e que ela passe por uma avaliação fisioterápica. “Há algumas contraindicações, por isso, é necessária a avaliação minuciosa do fisioterapeuta”, detalha.
TORNEIO
A equipe realiza ainda, anualmente, sempre no mês de setembro, no parque de exposições, o Torneio Betinense de Hipismo Especial. O evento, além de reforçar o vínculo entre a extensão universitária e a comunidade, proporciona aos praticantes “especiais” a oportunidade de participar de um evento social na comunidade, bem como reforçar a inclusão social. “É um momento em que o ‘atleta especial’ experimenta uma sensação de orgulho e vitória. O torneio não tem caráter de competição. Todas as crianças são premiadas com medalhas, independentemente de seus resultados, pois o torneio tem como propósito a oportunidade de superação dos próprios limites”, finaliza Patrícia.
PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA HIPOTERAPIA
- Melhora a concentração, a aprendizagem e a orientação espacial
- Aumenta a tonificação muscular
- Melhora o equilíbrio, a postura e a coordenação motora
- Aumenta a autoestima