Superação sobre cavalos

Hipoterapia

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Criado em 08 de Outubro de 2014 Saúde e Vida
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Método de tratamento tem o auxílio desses animais para desenvolver habilidades em pacientes especiais

Pollyanna Lima

A AMIZADE ENTRE HUMANOS E ANIMAIS pode ser muito mais benéfica do que se imagina. Além de serem ótimas compa­nhias, eles podem ajudar no desenvolvi­mento motor e psicológico de crianças e adultos. Quem comprova isso é a fisiote­rapeuta e professora Patrícia Lemos, que há 14 anos emprega a hipoterapia – mé­todo terapêutico que utiliza o cavalo no desenvolvimento do sistema psicossocial de pessoas com necessidades especiais – no tratamento de crianças em Betim.

Patrícia explica que o princípio básico da utilização desse recurso terapêutico é que, ao andar, o animal produz um movi­mento tridimensional em seu dorso, ge­rando movimento semelhante ao da mar­cha humana na pelve do praticante, isto é, produz movimentos similares aos dos humanos. “Esse movimento é capaz de promover reajustes posturais que melho­ram o controle e a estabilidade do tronco. Essa técnica utiliza o cavalo como instru­mento cinesioterápico (isto é, que esti­mula os movimentos do corpo) e integra várias áreas da saúde, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psi­cologia, além da educação e equitação”, acrescenta.

Segundo a especialista, quando ela iniciou o trabalho de hipoterapia em Be­tim, em 2000, as pessoas não conheciam o método de reabilitação. “Tive que apre­sentar aos pais dos pacientes para ganhar credibilidade e desenvolver a técnica nos atendimentos de reabilitação. Hoje, aten­demos 12 alunos por semana e temos uma grande fila de espera”, diz a professora.

Gabriel Pereira Nunes Magalhães, 12, é um dos alunos do projeto. Ele começou o tratamento há cinco anos e, de lá para cá, vem superando os limites decorrentes da paralisia cerebral. Natália Magalhães, mãe do vencedor, conta que tem muito a comemorar desde que o filho começou o tratamento. “Gabriel teve uma melhora significativa no seu equilíbrio, postura, so­cialização e também com relação ao medo. Ele tinha pânico das coisas e hoje faz de tudo um pouco, sem aquele temor de an­tes”, garante Natália.

Bryan Rafael Abrantes de Melo Souza, 5, também adora a hipoterapia e faz toda a equipe se divertir durante as aulas, conta a mãe, Polliana Abrantes. “Desde que foi diagnosticado, aos 3 meses, portador de paralisia cerebral, minha família e eu faze­mos de tudo que está ao nosso alcance para estimular o desenvolvimento do meu filho e, quando nos foram apresentados os be­nefícios da hipoterapia, não hesitamos em proporcionar mais uma oportunidade para sua reabilitação”, afirma Polliana. “Quando ele começou as aulas, em 2011, ainda não andava e já no fim de 2012 começou a dar os primeiros passos sem se apoiar. Hoje, ele caminha sozinho em qualquer lugar. Além disso, Bryan obteve melhora na con­centração, equilíbrio, abertura de pernas, socialização, aprendizado, memorização, entre outros aspectos”, garante a mãe.

O pequeno Anthony Cássio da Paixão Oliveira, 6, também conquistou um grande progresso desde que iniciou a hipoterapia. Cassiana da Paixão, mãe de Anthony, conta que o maior avanço alcançado pelo filho foi aprender a andar. “Ele foi convidado a entrar no projeto pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), onde ele já fazia fisioterapia para tratar a mielome­ningocele (efeito congênito em que a espi­nha dorsal e o canal espinhal não se fecham antes do nascimento). Com seis meses de tratamento, começou a ter equilíbrio e a se levantar sozinho. Aos três anos, ele já estava andando”, comemora a mãe.

O caçula da turma de alunos, Anderson David Marques Diniz, 2, também demons­trou que a hipoterapia é mesmo muito eficaz. Ele ingressou na prática há oito meses, como complemento ao tratamento da síndrome de Down, e com apenas três meses de aulas começou a andar. Edilamar Gorett Diniz, mãe de Anderson, conta que está muito satisfeita com o trabalho de­sempenhado pela equipe da hipoterapia. “Só tenho elogios para o trabalho desses profissionais que fortalecem as crianças especiais, mostrando que elas podem su­perar seus limites e viver uma vida plena e feliz, como todos nós. Meu filho de­senvolveu não só a coordenação motora, como também a atenção e a socialização. Estou muito feliz com os resultados que ele tem apresentado em tão pouco tem­po”, afirma com alegria.

O PROJETO

O “Hipoterapia Multidisciplinar – Um Atendimento Especial Para Crianças Es­peciais” é um programa de extensão da PUC Minas em parceria com a Associação Despertar Vidas e a Prefeitura de Betim. A fisioterapeuta Engridy Andrade, ex-aluna da PUC, é a presidente da associação, responsável por fornecer os cavalos, os materiais de montaria, os equipamentos de segurança, os materiais pedagógicos e o espaço físico: o Parque de Exposições David Gonçalves Lara, cedido por meio de um convênio firmado entre associação e prefeitura.

“Desde 2009, quando me formei em fi­sioterapia, trabalho com a hipoterapia. O Centro de Equoterapia Despertar prestava somente atendimento particular e, entre 2010 e 2012, fechamos uma parceria com a PUC para prestar atendimento gratuito às crianças da Apae. Em fevereiro deste ano, transformei a clínica particular em Associação Despertar Vidas e reativamos o convênio com o projeto de extensão da PUC”, explica a presidente da associação.

Quando começou as aulas, em 2011, Bryan Souza, 5, ainda não andava e já no fim de 2012 começou a dar os primeiros passos sem se apoiar

A professora e fisioterapeuta Patrícia Lemos foi quem iniciou o projeto em Betim. “Com o tempo, contei com a par­ticipação de uma terapeuta ocupacional e mais um fisioterapeuta. Hoje, temos muitos ex-alunos do curso de fisioterapia da PUC Minas em Betim trabalhando com hipoterapia e, graças a isso, estamos con­seguindo difundir o tratamento por toda a região”, afirma.

Ela explica que não há limite de ida­de para que uma criança receba os aten­dimentos de hipoterapia, desde que ele seja indicado pelo médico da criança (no caso, o neuropediatra e/ou o ortopedista) e que ela passe por uma avaliação fisiote­rápica. “Há algumas contraindicações, por isso, é necessária a avaliação minuciosa do fisioterapeuta”, detalha.

TORNEIO

A equipe realiza ainda, anualmente, sempre no mês de setembro, no parque de exposições, o Torneio Betinense de Hipis­mo Especial. O evento, além de reforçar o vínculo entre a extensão universitária e a comunidade, proporciona aos praticantes “especiais” a oportunidade de participar de um evento social na comunidade, bem como reforçar a inclusão social. “É um momento em que o ‘atleta especial’ expe­rimenta uma sensação de orgulho e vitória. O torneio não tem caráter de competição. Todas as crianças são premiadas com me­dalhas, independentemente de seus resul­tados, pois o torneio tem como propósito a oportunidade de superação dos próprios limites”, finaliza Patrícia. 

PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA HIPOTERAPIA

  • Melhora a concentração, a aprendizagem e a orientação espacial
  • Aumenta a tonificação muscular
  • Melhora o equilíbrio, a postura e a coordenação motora
  • Aumenta a autoestima 



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