Talento da sétima arte
Elisabete Martins
Betinense de coração, Elizabete Martins ganhou reconhecimento nacional com “My Name Is Now, Elza Soares”, longa-metragem que conta a história da cantora, atriz e compositora Elza Soares
Viviane Rocha
Nascida em Conselheiro Pena, Elizabete Martins Campos é uma nômade da arte que tem raízes fincadas em Betim. “Moro na cidade desde os 4 anos, por isso, considero que aqui é a minha casa”, afirma. Com 14 anos de carreira, ela ganhou muita visibilidade recentemente em todo o país por conta de seu primeiro longa-metragem, o filme “My Name Is Now, Elza Soares”, sobre a cantora, atriz e compositora Elza Soares, que foi exibido pela primeira vez em setembro passado na mostra competitiva do Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Formada em jornalismo pelo Uni-BH, a cineasta, que sempre foi uma entusiasta da cultura nas mais diversas frentes, não se contentou apenas com a superficialidade das notícias, realizou um mergulho profundo nas águas da sétima arte e colocou Betim no mapa da produção cinematográfica nacional.
A cineasta conta que seus laços com a sétima arte foram estabelecidos, inicialmente, ao assistir aos famosos enlatados (seriados) norte-americanos, seja na TV seja no cinema. Com mais maturidade e um desejo latente de saber mais sobre cinema, Elizabete ingressou na faculdade de jornalismo e começou a cursar matérias isoladas sobre o tema. “Na escola de jornalismo, comecei a conhecer os filmes de arte”, conta. Certa de que esse era o seu objeto de devoção e sua grande missão artística, a cineasta não mediu esforços e aprimorou os seus conhecimentos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua afinidade com a cultura brasileira em toda a sua diversidade contribuiu para que ela trabalhasse nos bastidores da produção cultural mineira.
Como jornalista, foi repórter do programa “Agenda”, da Rede Minas. Também foi funcionária do Centro de Referência Áudio Visual de Belo Horizonte, o Crav. “Foi um período de muito aprendizado, no qual eu tive o prazer de conviver com grandes profissionais”, relembra. Além disso, Elizabete é uma das maiores entusiastas da produção audiocultural de Betim, já que foi correalizadora da Mostra Udigrudi Mundial de Animação no município. “Foi um período maravilhoso, porque nós realizamos um desejo antigo de fazer projeção de filmes em Betim. Além disso, incentivamos a criatividade de pessoas que, provavelmente, não teriam chance de descobrir um talento para arte e mostrá-lo a outras pessoas”, aponta.
Para Elizabete, o cinema é um instrumento de transformação e emoção. Por isso, ela imprime em suas produções um caráter plural, cru e impactante. Influência direta de alguns dos seus mestres cinematográficos, como Nelson Pereira dos Santos, Kléber Mendonça Filho, Glauber Rocha, Éder Santos, Laís Bodanski e o norte-americano David Lynch. “Sou grande admiradora do cinema nacional, principalmente, do político”, revela. Entre suas obras preferidas estão “Vidas Secas” e “Rio 40 Graus”, ambos dirigidos por Nelson Pereira dos Santos, e “Soy Cuba”, de Mikhail Kalatozov.
Antes de “My Name Is Now, Elza Soares”, a cineasta dirigiu outras obras. Sua estreia aconteceu em “Feira Hippie”, que foi exibido pela TV Brasil. Outra obra de grande notoriedade foi o curta-metragem “Que Coso”. O filme sobre Elza foi uma empreitada iniciada após Elizabete, ainda como repórter do programa “Agenda”, ter sido escalada para entrevistar a cantora. “Depois eu assisti a um show dela no Palácio das Artes e fiquei impactada pela força artística e humana de Elza”, afirma. “Eu já estava amadurecendo a ideia de fazer um longa e Elza surgiu para que eu a colocasse em prática.” A obra não é uma passagem linear sobre a vida dela, que já foi tema de outro documentário, lançado em 2010. “Ela tem quase 60 anos de carreira, é uma artista consagrada e eu não queria retratá-la como ‘a carne mais barata’ no plástico”, diz, em referência aos versos da canção “A carne”, composta por Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette, que ganhou uma interpretação marcante da artista. “O filme é um primeiro plano de rosto de Elza, mesclado com muitas imagens da natureza, porque ela é uma força da natureza”, explica a cineasta.
No longa, a cantora narra as suas experiências sem pudor, com muita emoção e uma dose cavalar de frases de impacto. Uma obra do cinema experimental que contempla a criatividade e a pluralidade de uma artista que sempre mergulhou de cabeça na vida, no amor e na arte. Elizabete ressalta ainda que Elza Soares é uma “multidão de minorias”. “Ela é uma figura do povo e tornou-se um ícone da cultura brasileira”, explica. “My Name Is Now, Elza Soares” também é marcado por grandes performances da cantora, que também foi a diretora musical do filme.
Foram cinco anos de muito trabalho realizado com parceiros como o banco BMG, o Studio Cerri e a Agência Articulação Comunicação e Marketing. “A realização desse filme não é uma vitória apenas para a equipe que trabalhou, mas para a cidade de Betim, porque muitos parceiros e companheiros que estiveram comigo durante a produção e a filmagem são betinenses”, ressalta. Depois do Festival do Rio, o filme será exibido em outros festivais pelo país e a cineasta está em busca de parceiros que queiram contribuir para a distribuição do filme. Elizabete também pretende realizar uma exibição da obra em Betim, com a presença e um show de Elza Soares.
FILHA DE BETIM
Elizabete é propiretária da It Canal, produtora de vídeo com sede na região do bairro Imbiruçu, em Betim. “Faço questão de que a sede seja na cidade, mesmo que, por conta do filme, precisa ter um ‘QG’ no Rio de Janeiro e em São Paulo”, explica. Apesar de vir pouco à cidade por causa dos compromissos profissionais, Elizabete faz questão de manter a sua casa no bairro Santa Cruz. No campo artístico, a cineasta destaca a efervescência do movimento hip hop local e a vontade de realizar mais atividades da produção audiovisual no município. “Tenho vontade de fomentar a produção audiovisual em Betim, porque a cidade tem grandes talentos”, revela. Nas suas recordações, estão sempre presentes os amigos e as ruas da cidade. “Tenho lembranças muito especiais da região do Horto, onde joguei muito vôlei. Sinto muita falta de andar por Betim”, conta.
OBRAS DA CINEASTA
- My Name Is Now, Elza Soares
- Feira Hippie
- Que Coso (http://itcanal.com.br/mynameisnow/)