Artista plástico paraibano faz sucesso em Minas com esculturas de materiais recicláveis
Viviane Rocha
UM ARTISTA INTUITIVO QUE, há sete anos, encanta os apreciadores das artes plásticas, transmite, de forma criativa e totalmente sustentável, a mensagem de preservação do meio ambiente e carrega a natureza até no nome: Oceano Francisco Cavalcante, mais conhecido como Oceano Cavalcante. Paraibano morando há 35 anos na capital mineira, o artista plástico possui uma carreira ainda curta nas artes, mas tendo exposto suas peças em locais muito conhecidos, a exemplo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e do Centro Mineiro de Referência em Resíduos. Em maio, Oceano será um dos destaques do Festival de Lixo e Cidadania, que irá ocorrer em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. “Farei toda a decoração do ambiente, que será temática, mas não posso revelar ainda”, explica.
O artista divide sua paixão pelas artes plásticas com outra profissão, a de técnico em enfermagem, e ganha a vida também como cuidador de idosos. E foi exatamente por conta de um de seus antigos pacientes que desenvolveu seu talento. “Era um senhor de mais de 90 anos, um verdadeiro ecologista, que me despertou o interesse em reutilizar o lixo em esculturas. Isso foi em 2007”, relembra. Em novembro do mesmo ano, Cavalcante construiu suas primeiras peças, entre elas uma escultura do personagem Dom Quixote e um presépio com oito peças. “Em dezembro, fiz minha primeira exposição, no condomínio onde moro, e vendi todas as peças”, conta.
A matéria-prima que serve como base de todas as esculturas são garrafas PET, papelão e sacos de cimento. Qualquer tipo de material reciclável é reaproveitado por Oceano, que não usa tinta. “Reutilizo o pigmento de papéis para dar cor às obras”, diz ele. Para conseguir o material, o artista plástico mantém um relacionamento próximo com catadores de Belo Horizonte. “Pago uma valor maior para conseguir a quantidade de recicláveis e, com isso, faço também um trabalho social. O lixo é um problema sério em todo o país, e a arte é uma saída criativa para diminuir o volume de resíduos gerados”, ressalta. Oceano tem razão. Exemplo disso está na decoração do Festival de Lixo e Cidadania, para a qual, ele calcula, deverá gastar, dentre outros itens, cerca de 2.000 garrafas PET.
O ateliê do artista fica no segundo andar de sua casa. Ele conta com uma ajuda da esposa, Marilaine, para organizar os materiais recicláveis. “Produzo as peças (de 6 a 7 por mês) sempre entre as 16h e as 20h”. Isso porque, mesmo com toda a dedicação à arte, ele também é apaixonado por seu outro ofício. “Poderia viver apenas do meu trabalho artístico, mas gosto de estar perto das pessoas, de ser útil a elas”, revela. Geralmente, Oceano vende a maioria de suas peças, cujo preço gira em torno de R$ 2.000. “Só tenho guardadas aquelas que são muito importantes para mim”, declara.
ARTE BARROCA
Oceano Cavalcante é um grande fã do escultor Aleijadinho, mestre da arte barroca em Minas Gerais. “Busco influências nas cidades históricas, nas paisagens mineiras, mas não gosto de copiar”, pontua. “Quero que meu trabalho seja reconhecido pela originalidade e que as pessoas identifiquem meus traços”, complementa. Algumas de suas figuras preferidas são as imagens de Nossa Senhora (somente no Centro Mineiro de Referência em Resíduos, onde Oceano tem uma exposição fixa, são 14 esculturas da mãe de Jesus Cristo) e São Francisco de Assis. “Ele é protetor dos animais e da ecologia”, informa.
Em seu ateliê, Oceano tem uma imagem da Santa Ceia medindo 2,40 m x 1,40 e pesando 60 kg. Outra que possui é a de São Francisco de Assis, com 2,20 m e 80 kg.
PAIXÃO POR BH
Oceano é o segundo numa família de 14 irmãos. Seus pais vieram com os filhos da Paraíba para a cidade do Guarujá, no litoral paulista. “Eu sempre fui fascinado por Belo Horizonte e dizia que ainda iria morar aqui. Quando eu completei 18 anos, me mudei para cá, onde vivo até hoje, no bairro Santa Efigênia”, conta. Na capital mineira, Oceano criou seus dois filhos: Luciana, de 15 anos, e Diego, de 26, que estuda engenharia ambiental. “Acho que fui uma influência muito forte na escolha profissional dele”, orgulha-se.
GRANDE PÚBLICO
As obras de Oceano têm sido vistas por um público muito numerosos, em grandes espaços. Exemplo é o presépio... que enfeitou a praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no bairro Santo Agostinho, no ano passado. Já no Centro Mineiro de Referência em Resíduos, as obras de Oceano são contempladas por cerca de 30 mil pessoas por ano, já que o local é aberto à comunidade e sempre recebe excursões escolares. E Cavalcante não se contenta. “Tenho o sonho de fazer uma grande exposição itinerante, que passará por várias cidades mineiras e ultrapassará as fronteiras deste Estado, percorrendo o Brasil. Quem sabe levo minhas peças até mesmo a outros países?”, alegra-se. “Já estou em fase de planejamento; em breve, todos terão notícias desse meu projeto”.
SERVIÇO
Para encomendar peças ou contratar o artista plástico, basta entrar em contato pelos telefones (31) 9557 6964 ou (31) 3283 4982, ou pelo e-mail
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