Uma mulher de fibra
Entrevista - Maria de Lourdes Pereira Lara
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Criado em 25 de Março de 2014
Conversa Refinada
Com um aperto de mão firme, um olhar sonhador e um estilo de vida muito prático, Maria de Lourdes Pereira Lara, mulher do ex-prefeito de Betim João Batista Lara, é a reafirmação da teoria de que a “mulher não é um sexo frágil”. Mãe de cinco filhos, avó de sete netos e bisavó, Lurdinha, como é conhecida, aos 74 anos, dá conta da casa, da família, do trabalho no Cartório João Lara, de propriedade de seu marido, e ainda tem disposição de sobra para ir a todas as festas para as quais é convidada
REVISTA MAIS - A senhora nasceu em Betim?
Maria de Lourdes Pereira Lara - Sim, sou filha de Betim, assim como meus pais e avós. Somos uma família genuína desta cidade.
Como foi a sua juventude aqui?
Naquela época, casava-se muito cedo. Estudei em um internato e, em uma das idas à casa da minha família, aos 15 anos, conheci o João, meu marido. Eu me casei aos 18. Ele tinha vindo à nossa cidade para trabalhar no cartório.
Ele não é de Betim, então?
Não, é de Esmeraldas. Veio para Betim em 1954, após realizar concurso para assumir o Cartório João Lara, o primeiro Cartório de Notas da cidade. Antes dele, um senhor é quem era o proprietário. Já com a popularidade firmada, João começou a pensar em ser político.
Então, foi assim que a política começou a fazer parte da vida de vocês?
Sim. Primeiro, ele se candidatou a vereador e foi, na época, o mais votado da cidade. Logo depois, saiu candidato a prefeito. Eu estava grávida de gêmeos durante a sua campanha e já tinha outros filhos para criar. Fiz o que pude para acompanhá-lo. Os gêmeos nasceram às vésperas da eleição, trazendo, ainda, mais sorte e consagrando-o como prefeito de Betim.
Como foi a experiência de ser primeira-dama da cidade?
Continuei batendo perna na rua e cuidando de casa. Nunca tive pose de madame. Matava até porco naquela época. A única coisa que mudou foi a oportunidade que tive de iniciar minhas atividades servindo as pessoas. E levar alento a quem precisa não tem preço.
Foi nessa época que surgiu a ideia de fundar a Associação de Proteção à Maternidade, Infância e Velhice (Apromiv)?
Sim. Quando o João assumiu a prefeitura, por questões políticas, a administração anterior não quis repassar as documentações de uma instituição que ajudava pessoas carentes em Betim. Logo após a eleição, quando João assumiu a administração, as pessoas vinham até nossa casa para pedir ajuda. Enquanto a Apromiv passava por trâmites, fomos fazendo campanhas com a ajuda de nossos amigos – como de alimento e de colchão – e, depois, com a associação fundada, ajudávamos as pessoas cadastradas. Quando o mandato acabou, passamos as documentações para a administração que assumiu.
Após João Lara deixar o governo, vocês prosseguiram com outros projetos desse tipo?
Sim, ajudamos a fundar o Lions Clube e o Rotary, em Betim, entidades que também realizam trabalhos sociais. Até hoje somos ligados a elas.
Por que João não prosseguiu com a política depois desse primeiro mandato como prefeito?
Entramos na política por ideais, para servir as pessoas, ajudar. Porém, vimos que a teoria é diferente da prática e optamos por ajudar a população de outras formas. Era isso que queríamos passar para nossos filhos, sobre fazer a diferença no mundo.
A senhora é muito coruja?
Sempre fui muito coruja com toda a minha família. Tenho cinco filhos – desses, quatro seguiram a carreira do pai e cursaram direito –, sete netos e um bisneto. Quero todos debaixo das minhas asas e não consigo ficar longe deles. Quando viajo, sinto muitas saudades.
Hoje a senhora atua como tabeliã substituta no Cartório João Lara. Como é trabalhar fora de casa?
Quando meus filhos cresceram, começaram a fazer o que chamamos de “andar com as próprias pernas”. Com isso, resolvi fazer algumas provas para ser tabeliã no cartório. Tinha 50 anos quando comecei a trabalhar lá. Ainda trabalho todos os dias e adoro. No cartório, eu me comunico com várias pessoas.
Fotos: Deivisson Fernandes
Viaja muito?
Adoro viajar, é ótimo... mas voltar para casa é ainda melhor. Já conheci diferentes países e cidades do Brasil. No fim do ano, fui para o Rio, Salvador e Bahia. Outro dia chegou um convite para ir a Araxá. Gosto mesmo é de aproveitar.
O que é felicidade para a senhora?
Felicidade não se compra nem se acha por aí, senão dentro de nós. Felicidade é escolher ser feliz. É acordar e falar “eu quero ser feliz”. Eu acordo cantando. Essa é a minha escolha: levar sorrisos às pessoas. Sendo assim, não há tempo ruim, nem doença que paire sobre nós.
A senhora não adoece muito?
Não uso nem óculos. Passo a linha na agulha mais facilmente que minhas filhas. Também ainda dirijo para cima e para baixo. Acredito que a nossa mente influencia no físico. Sou realizada e, com isso, minha saúde está sempre bem.
Há algo na sua vida que ainda não realizou?
Não. Costumo dizer que se eu pudesse parar minha vida assim como está, hoje, para continuar vivendo assim como vivo, eu pararia.
Qual o segredo para ser tão bonita aos 74 anos?
Quem me dera! O segredo para estar bem nesta idade é amar ao próximo incondicionalmente. Primeiro, contudo, é necessário amar a si. Quando amamos a nós mesmos até não poder mais, estamos prontos para amar o outro. Além disso, é preciso praticar hábitos saudáveis. Eu durmo bem e me alimento bem. Não faço atividades físicas porque não me sobra tempo. Às vezes, faço algum no aparelho de ginástica aqui da sala, pois, assim, vejo novela ao mesmo tempo.
Então a senhora é noveleira?
Sou, mas não perco uma festa por novela. Adoro um bom encontro com a família e com os amigos. Tem vez que o João, meu marido, esconde os convites dos eventos, porque, por mim, vou a todos. Ele costuma dizer que o “problema” não é sair de casa para ir às festas, e, sim, a hora de voltar. Afinal, eu nunca quero ir embora.
E qual o segredo para um casamento tão duradouro?
Ser companheira. Quando meu marido pensava em sair, eu já estava na porta, pronta para acompanhá-lo. Se o homem sai sozinho, gosta. É preciso cultivar, ficar perto. Eu cuido dele até hoje e vice-versa. Minhas filhas até brincam com o fato de eu e ele ficarmos de mãos dadas o tempo todo.
E vocês não brigam, então?
Ele é um pouco ciumento. Esse é o único motivo de alguns desentendimentos. Mas nos amamos muito e sempre ficamos bem.
A senhora sempre foi uma mulher de fibra. Passou por algum tipo de preconceito por ser tão independente?
Não, nunca. E, se passei, não percebi. Sempre me concentrei em realizar as coisas que tive vontade. O que não me agradou ouvir, com certeza, entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
Por ser um exemplo para suas filhas, netas e todas as mulheres que passam por sua vida, a senhora tem algum conselho que gostaria de dar?
Sim. Amem, queridas. Amem as pessoas a sua volta. Muitas estão carentes de roupas, de alimento, mas a maioria só quer uma gentileza. Sejam companheiras de seus namorados e maridos. E não parem nunca, movimentem-se e alimentem-se bem. Esse é o segredo da longevidade