Uma pequena grande orquestra
Projeto social ensina música para estudantes regularmente matriculados na rede de educação de Betim e vai além, promovendo rodas de conversa, em que temas como cidadania e valores como responsabilidade.
Sara Lira
Afinar o instrumento, ter o ouvido sensível para cada nota musical e postura de profissional durante ensaios e apresentações. Essas são algumas das características de integrantes de orquestras formadas por adultos, mas elas também podem ser identificadas nas crianças que participam da Orquestra infantojuvenil de Betim, na região metropolitana, um projeto desenvolvido pela Sociedade Artística Brasileira (Sabra).
As aulas de musicalização são ofertadas gratuitamente para estudantes maiores de 8 anos regularmente matriculados na rede de educação de Betim. hoje, a maioria deles vem de escolas públicas, de acordo com o maestro da orquestra e presidente da Sabra, Márcio Pontes. O espaço, situado no bairro Angola, é cedido pela Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Segundo ele, cerca de 400 crianças estudam música na Sabra. Aquelas que se desenvolvem mais passam a integrar a orquestra infantil, com 53 meninos e meninas atualmente, e, quando adquirem mais experiência, são “promovidas” à infantojuvenil, com 50 membros.
Cidadania
As orquestras de violino foram criadas entre o fim do ano passado e o início deste ano, com quem está na primeira turma de musicalização, que teve início em 2014. Antes de chegarem aos palcos, eles passam por um trabalho integral, que ensina muito mais do que somente ler partituras.
Pontes explica que o curso tem três pilares: o primeiro é a musicalização, que ensina as técnicas necessárias para que a criança se torne musicista; o segundo é o de apreciação musical, em que os alunos conhecem os diversos instrumentos da orquestra e têm contato com a música clássica e seus vários autores; o terceiro, e um dos mais importantes, conforme o maestro, é a roda de conversa. Nela, são abordados temas como cidadania e deveres e direitos da criança e do adolescente. “Com esses três pilares, nós plantamos sementes para formar plateia para música de qualidade e bons cidadãos”, pontua Márcio Pontes.
As rodas são promovidas pela assistente social Luciete Vieira. Segundo ela, nesse trabalho a criança aprende ou tem reforçados valores como responsabilidade, compromisso, organização e respeito ao próximo. Luciete diz que mantém contato com os diretores das escolas onde os pequenos estudam e fica a par da situação escolar de cada um deles.
O resultado, ela percebe pelos relatos que recebe dos pais e pela forma como as crianças passam a se comportar nas aulas de música. “Os pais dizem que eles se tornaram mais disciplinados, e aqui percebemos que muitos aprenderam a se concentrar”, destaca.
É o caso de João Emanuel, de 10 anos. Ele faz parte da orquestra desde a primeira turma de musicalização, em 2014, e reconhece que se desenvolveu nos últimos anos. “Era muito impaciente e hiperativo. Agora, aprendi a ser menos ansioso, a ouvir e a ter respeito pelo próximo. E tudo foi por meio da orquestra”, afirma. A irmã dele e também integrante da orquestra, Giulia dos Santos, de 10 anos, conta que tem aprendido muito mais do que música. “Até minhas notas na escola aumentaram”, diz. A menina relata que gosta muito de música e planeja seguir carreira na área, seja como violinista (aquele que toca violino), seja como violoncelista (aquele que toca violoncelo).
A mudança na forma de encarar o mundo parece ser aprendizado comum entre os pequenos membros da orquestra. “Eu percebo o quanto mudei, e minha mãe sempre me fala isso também”, diz Isabela Dutra, de 12 anos. Victor Uemoto, de 14, considera que a música o ajudou a se relacionar melhor com os outros. “Era muito tímido; agora, tenho vários amigos. Quando tocamos em orquestra, precisamos interagir, e foi isso que me ajudou”, frisa.
Regida pelo maestro Márcio Pontes, a Orquestra Infantojuvenil foi uma das atrações na abertura do Festival Desperta, evento realizado em BH e Betim em maio.
Ao vivo e a cores
Uma das apresentações recentes de destaque foi no dia 31 de maio, durante o Festival Desperta, promovido pelo Instituto Unimed-BH, na praça Milton Campos, em Betim. Os meninos tocaram peças dos músicos clássicos Händel e Bethoven, além das canções “Somewhere Over the Rainbow”, do cantor Israel Kamakawiwo’ole, e “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga. “A recepção do público foi fantástica. Todos se emocionam ao verem as crianças tocarem”, relembra Márcio Pontes.
A orquestra também se apresenta em eventos da Fundação Artístico-Cultural de Betim (Funarbe), que pertence à Prefeitura de Betim. Para entrar na escola de música, os as crianças devem ser matriculadas pelos pais. O processo ocorre duas vezes por ano. A escola também recebe pessoas com deficiência, como autismo e outras síndromes. Para participar da orquestra, os alunos com mais tempo de prática passam por um teste interno na Sabra.
“Esse é um projeto de transformação que começa na raiz, na educação infantil. O contato com a arte tem sua importância, pois creio que tudo o que eles fizerem tendo a arte inserida vão fazer com mais qualidade”, opina o presidente da Funarbe, Dudu Braga.
Outras ações
A Sabra também atua em dez escolas municipais de Betim, onde há corais com crianças na faixa dos 10 anos. Cada grupo tem uns 25 alunos, e eles são treinados por professores da rede que recebem direcionamento técnico e artístico da instituição. Os pequenos se apresentam nas escolas e, ocasionalmente, reúnem-se em um grande concerto em eventos específicos. Também é por meio da Sabra que é mantida a Orquestra Sinfônica de Betim.
- Serviço:
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Sabra: rua Doutor Sílvio Lobo, 171,
Angola, acima do Cetap, Betim
Telefone: 3531-3589