Vale a pena questionar?
POR Lucas Fortunato Carneiro*
No atual modus vivendi, é indispensável o questionar, que se faz necessário para a evolução do ser humano e para a fundamentação do seu pensamento, pois foi somente questionando que a humanidade conseguiu e ainda hoje consegue descobrir e, com isso, evoluir em todos os sentidos e dimensões.
Essa evolução que se dá por meio dos questionamentos pode ser de forma direcionada ou não. O questionar com fundamento leva ao crescimento intelectual e social, ao passo que o questionar por questionar não contribui para a solidez da opinião. Assim sendo, por que questionar? O que questionar? Como questionar? E, por fim, qual o caminho desse questionar?
Toda forma de conhecimento advém pela dúvida, que, diante do espanto da novidade, se expressa via questionamento. Na história da humanidade, nada pode ser evidenciado se antes não houver ocorrido uma dúvida. O filósofo René Descartes diz: “Se duvido, penso; se penso, logo existo”. O que quis dizer o filósofo com essa frase tão complexa? Constato que o filósofo direciona essa afirmação e busca explicar que a existência humana pura e simplesmente só pode se realizar por meio da dúvida e, diante dessa dúvida, o ser humano se percebe em constante crescimento.
A dúvida tem na vida do ser humano um papel fundamental. Uma questão se apresenta: quais as principais formas de questionamento existentes hoje? Acredito que as formas de expressão dos mais variados grupos representam hoje uma forma intrínseca de questionamento dos padrões de pensamento, comportamento e até mesmo de sociedade proposta para se viver. Em contrapartida, a maioria das pessoas está acomodada em seu mundo e não tem mais o interesse por aquilo que é de todos.
O que percebo hoje é uma apatia frente à vontade de questionar. A humanidade, em especial a juventude, está, a cada dia, mais acomodada em um consumismo sem sentido, em um radicalismo infundado. O erro não está em consumir ou em ser radical, mas em não haver sentido para tais ações. Não se tem objetivo, e muito menos finalidade, para as ações concretas no cotidiano.
Todo ser humano tem dentro de si a capacidade de criar, entender, saber, buscar, dominar, apreciar e questionar. O que falta é justamente a vontade, o incentivo para tais práticas. Ouvi, inúmeras vezes, pessoas dizerem: “antigamente, vivia-se mais intensamente, pois a necessidade era maior e urgente”. E, hoje? Não tenho necessidade? Não há mais intensidade em meu viver? Ou melhor, nosso viver não tem mais sentido ou intensidade? Mais uma vez, o questionar se apresenta como porta de saída, como válvula de escape, como remédio para uma onda de comodismo que invade a sociedade.
O que seria mais fácil: aceitar tudo ou comprometer-se com o novo que questiona as antigas estruturas? Estruturas essas que certamente nos dão um conforto social. Questionar não é simplesmente entrar em um austero embate de ideias, mas ir além e propor algo novo, buscar novas formas, inovar sem perder a essência. Novos comportamentos pedem espaço em nosso cotidiano. Eles querem propor uma nova ordem de pensamento, um novo modelo de ideias, em que falar simplesmente não surte mais efeito.
Portanto, o questionar continua a ser o único meio possível de evolução, seja ela qual for. Logo, o questionamento benfeito, com objetivos claros, com fins previamente estabelecidos, provavelmente levará a humanidade a uma nova consciência, a uma nova forma de vida saudável, sustentável e harmoniosa. O questionamento é a arma mais poderosa à disposição da sociedade, podendo tornar reais as mudanças tão esperadas. “Se duvido, penso; se penso, logo existo”; e, se existo, questiono”.
*Educador, graduado em filosofia pela PUC Minas e graduando em teologoia [email protected]